De uma certa forma lembra a placidez, a calma e o modo como desfrutam da vida as comunidades que vivem às margens do grande canal que liga as lagoas Mundaú e Manguaba no estado de Alagoas. Essa lembrança aparece no gosto suave do angu de caroço que é para tomar no café, da manhã ou da noite. Os grãos de milho, que compro em pacotes, são cozidos com água e sal. Quando ficam bem macios retira-se a água. E é colocado o leite de coco. Se quiser fazer muito angu são usadas, salvo engano, duas ou três garrafinhas de leite. Pode misturar um pouco de água ou leite de vaca, se o leite de coco ficar muito grosso. A quantidade exata vem com a prática. Aliás, como tudo na vida, que ninguém nasce sabendo e é preciso experimentar.

Junto com o leite e os caroços de milho colocar um pouco de fubá, para dar consistência ao angu. Como gosto dele mais cremoso, uso mais fubá. Se não sofrer de colesterol alto, colocar uma colher de sopa rasa de manteiga para acrescentar sabor. Aproxima-se do manjar dos deuses! Mas é possível ter um gostoso angu sem a manteiga porque, na verdade, o gosto maior vem do leite de coco.

Atenção à quantidade de sal, pois me perdoem os entendidos, o sal dá gosto a tudo. É necessário mexer no tempo certo para o fubá não embolar. O angu estará cozido quando soltar da panela: isto é, quando o fundo aparece. O importante é sentir o cheiro do fubá cozido com o leite de coco. Chegando neste ponto, coloque a mistura em um pirex, para servir ainda quentinho. É possível ainda se deliciar com o resto que fica no fundo da panela, raspando com uma colher. O que é muito gostoso, principalmente quando fica algum pedaço queimadinho.

Vê? É simples. Às vezes só damos valor ao que é complicado. E ainda consideramos sofisticação. Mas, na vida, a simplicidade é gosto de cada um. Um momento de solidão, por exemplo, é precioso. Quando tudo é silêncio, sem sobressaltos, ruídos, interferências. O mundo passando aos nossos olhos, placidamente, sem ansiedades, a beleza penetrando nossos olhos, sem o Ego para questionar ou esperar algo, como diriam os budistas. Que, aliás, não acreditam em Ego.Solidão que integra, unifica, aproxima, aquieta. E, ao lado, um bom prato de angu de caroço e uma xícara de café. (luiza)