“As mais lindas coisas da vida não podem ser vistas nem tocadas, mas sim sentidas pelo coração.” – Richard Bach

 

 Hoje, sem muita razão, acordei pensando em Fernão Capelo Gaivota. Para quem não sabe, Fernão, uma gaivota que percebe que há mais na vida do que as coisas comuns que podem ser vistas, é o personagem principal do livro de Richard Bach, publicado originalmente em 1970.

Fernão, desde que era uma pequena gaivotinha, já demonstrava comportamentos que se destacavam em relação ao seu grupo, ele tinha um interesse profundo pelas coisas e a coragem para explorá-las, curiosidade esta que, muitas vezes, o colocava em apuros.

Ele percebeu que se colocasse sua energia em treinos diários e consistentes, conseguia alçar voos mais altos e mais distantes, conseguia fazer belas piruetas no ar e mergulhos mais rápidos e profundos, que, aos olhos do restante do grupo, não eram próprios de uma gaivota, além de não fazerem sentido, o afastando da sua única função na vida: buscar abrigo e comida.

Fernão sofria porque gostaria de compartilhar com seus amigos a alegria de ter acesso a um mundo novo e magnífico, mas ele nunca chegou a ser efetivamente ouvido e era considerado um transtorno para os mais antigos do bando.

Em certo ponto ele recebe um ultimato: “ou você começa a agir como uma típica gaivota ou não poderá mais fazer parte do nosso grupo”, ele sente uma dor incontrolável, estava diante do grande dilema que todos enfrentamos: “ser ou não ser”.

Eis que diante desta grande questão, ele opta pelo “ser”, não renunciando às suas convicções, com isso, ele parte e vai viver isolado nas montanhas.

Ao longo do tempo, Fernão dedica-se inteiramente ao que sempre amou, sem impedimentos ou obstáculos, aprimorando seu voo e refinando cada aspecto de suas habilidades aéreas.

Ele aprende a seguir os ventos continentais e a planar nas brisas marítimas. Seu voo atinge alturas superiores às montanhas mais imponentes, superando em velocidade até mesmo as aspirações mais ousadas de suas contrapartes gaivotas.

Ele conclui que as coisas mais belas da vida não podem ser vistas nem tocadas, mas sim sentidas com o coração.

Assim como vimos no conhecido Mito da Caverna de Platão, Fernão perdoa seu antigo bando e estabelece como objetivo pessoal retornar aos seus irmãos para compartilhar a Verdade e a beleza da vida.

Acredito que todos tenhamos um pouquinho da essência de Fernão Capelo Gaivota dentro de si, que pode ser compreendida como o nosso senso de propósito na vida, a certeza de que viemos a esse mundo não para fazer coisas, mas para sermos, verdadeiramente, humanos.

 

Cayssa Marcondes de Araújo

 

 

Livro: Fernão Capelo Gaivota. Richard Bach. Livro que inspirou esta edição da newsletter. Fernão é uma gaivota que percebe que há mais na vida do que caçar, dormir e buscar comida. Por tentativa e erro, superando obstáculos, ele vai testando seus limites, e se aprimorando cada vez mais. Seu maior sonho é voar sempre mais alto, até chegar à perfeição.

Vídeo-palestra: Fernão Capelo Gaivota: Uma jornada filosófica. Nessa palestra, a professora e voluntária Manuela Bittar nos mostra que, para além dos grandes ciclos de apogeu e decadência de valores que vive a humanidade ao longo da história, sempre haverá pessoas despertas, que buscam aperfeiçoar-se e conquistar a verdadeira essência humana, assim como sempre haverá aqueles que já aprenderam e se comprometem a ensinar.

Poema: Entre azuis, voar e pousar. Thenille Carmo. “... Em momentos de maré cheia, / alçar voo. / Em momentos de nuvens cinzas, / entender que é momento de pouso. / Queria eu ser gaivota que entre céu e mar ora pousa, ora voa...” Vale a pena conferir na íntegra.

Música: Sinfonia nº 5 em Dó menor Op. 67. Beethoven. Nesta jornada em busca da sabedoria e da superação dos próprios limites, conhecer grandes exemplos de outros que trilharam este caminho pode nos inspirar e nos ajudar a irmos ainda mais longe. Desta forma, grandes gênios da música, como Beethoven, continuam a inspirar muitos artistas até hoje, não só por sua superação dos próprios limites impostos a ele por sua surdez, mas por sua capacidade de expressar a beleza em suas obras.

Pintor: Richard Schmid. Além de nos inspirarmos no passado, podemos, também, nos inspirar com outros que trilham este caminho ao mesmo tempo que nós, e com suas formas únicas de expressar o que tem de melhor. Richard Schmid foi um pintor impressionista e viveu de 1934 a 2021. É conhecido por sua técnica refinada que o possibilitou captar e transmitir através de suas pinturas a beleza das cores da natureza. Além de pintor, também foi escritor de livros que compilam grande parte de seu conhecimento sobre a técnica de pintura à óleo.

 

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