Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
 Reynaldo Ferreira recomenda artigo sobre a Lava jato:

Memórias do esquecimento: revisitando crimes confessos contra o Estado - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

De: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: seg., 5 de fev. de 2024
Subject: Fwd: Lava jato


REPASSANDO O BELO ARTIGO DO PROFESSOR AYLÉ-SALASSIÉ QUINTÃO SOBRE HISTÓRIAS E VERSÕES ODIENTAS CONTRA A OPERAÇÃO LAVA JATO, DANDO-NOS UM BALANÇO DOS CRIMES CONFESSOS, POR ELA APURADOS, CONTRA. O ESTADO BRASILEIRO.
APESAR DISSO, COMO OBSERVA, UM MINISTRO DO STF DESQUALIFICA, POR DECISÃO MONOCRÁTICA, OS BRILHANTES RESULTADOS  DA MAGNÍFICA OPERAÇÃO CONTRA O PODEROSO ESQUEMA DE CORRUPÇÃO, QUE IMPERA, NO PAIS. ELE LEMBRA, A. PROPÓSITO QUE O RELATOR DAS AÇÕES DA OPERAÇÃO LAVA JATO NO STF, TEORI ZAVASKI, FOI MORTO EM UM ACIDENTE DE AVIAÇÃO ATÉ AGORA POUCO EXPLICADO. E QUE, PARA SEU LUGAR, FOI NOMEADO UM ADVOGADO, QUE DEFENDIA O PARTIDO DOS TRABALHADORES, EM CURITIBA. LEMBRA AINDA O ARTICULISTA QUE FOI POR ESSE MOTIVO QUE O REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO, JUNTO À POLICIA FEDERAL, DALTON DALLAGNOL, QUE OBTEVE UMA DAS MAIORES VOTAÇÕES, NO PAÍS, PARA A CÂMARA DOS DEPUTADOS, TEVE O SEU MANDATO CASSADO. E QUE AGORA ESTÁ SENDO DESENCADEADA PELO GOVERNO UMA PERSEGUIÇÃO CONTRA O SENADOR SÉRGIO MORO, UMA DAS UNANIMIDADES NACIONAIS, COMO RESSALTA, POR TER CONDUZIDO, COMO JUIZ, A OPERAÇÃO LAVA JATO. LEIAM A MATÉRIA.


Memórias do esquecimento: revisitando crimes confessos
contra o Estado

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Pela legislação em vigor no Brasil, qualquer cidadão pode chegar a prefeito, deputado, presidente da República ou ministro no Judiciário. Sempre me passou pela cabeça
que antes de ocupar um cargo público os candidatos, eleitos ou indicados, deveriam ser submetidos a exame de sanidade, feito por profissionais habilitados .

Observe-se o que o ministro Dias Toffoli está fazendo: desqualificando, monocraticamente, os resultados da Operação Lava Jato e suspendendo o ressarcimento ao
Tesouro Nacional de prejuízos com operações fraudulentas, confessas pessoalmente por um punhado de empresários e políticos nacionais. Não é pouco dinheiro: próximo de 15 bilhões de reais, cobriria parte do déficit das contas públicas, que o ministro Fazenda, Fernando Haddad, esforça-se para conter.

Nesses dez a quinze anos, tempo de três a quatro mandatos presidenciais, e metade do tempo das aposentadorias no Supremo Tribunal Federal, se se somar os desvios de recursos públicos da Lava Jato e do Mensalão - este sempre lembrado na discussão das tais emendas parlamentares -, a soma dos dois inquéritos políticos policiais representaria um prejuízo ao Tesouro Nacional superior a 20 bilhões de reais.
Para ficar na Lava Jato. Cinco anos de investigação, 285 condenações, 600 réus e 3.000 anos de penas de prisão. Só no STF foram 300 inquéritos e deflagradas 60 fases desde 2014. O fato está registrado na História do Brasil , na mente e no coração dos brasileiros como a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro ocorrida no País. A Lava Jato gerou a expedição de 1250 mandados, 140 condenações e detectou logo R$ 800 milhões desviados só dos cofres da Petrobras. O rombo generalizado é muito superior e está tipificado, como crime, na legislação , conforme mostram pesquisas de duas jornalistas ligadas ao campo jurídico, Brenda Lícia e Heloisa Sousa, seguindo o relatório da Lava Jato.

Entre os crimes investigados, e detectados , os maiores destaques estão para o pagamento de propinas - vantagens pecuniárias para o contratante: corrupção ativa e passiva( art. 333 do Código Penal); evasão de divisas - crime financeiro: dinheiro enviado para outros países sem ser declarado à Receita (art. 22 da Lei 7492/86); Caixa 2, lugar imaginário para se guardar faturamentos ilegais, provenientes de esquemas de desvio, e que se associa com os crimes de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, paraíso de doleiros e ex-diretores de empresas, políticos e funcionários públicos (Lei 8137/90); Lavagem de dinheiro - ocultamento da origem de bens adquiridos com tráfico de drogas, comércio de armas, compra de joias, obras de arte, corrupção, má gestão pública, caixa 2 para partidos políticos, prostituição: lócus privilegiado das empresas fantasmas (Art. 1º da lei nº 9.613); Organização criminosa - atuação em grupo, de forma organizada, realizando atividades ilícitas para tirar vantagens particulares ( art. 2º da lei 12.850/13); Crimes financeiros - lesão ou dolo ao Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492/1986).

A investigação da Lava Jato gerou quase 2.000 ações de buscas e apreensões pela Polícia Federal, resultando em 244 ações penais, 349 prisões preventivas e 211 prisões temporárias.
Ao todo, foram denunciadas 981 pessoas, entre empresários, líderes políticos, ministros, inclusive dois presidentes da República.

Os tais acordos de leniência (confissões), feitos após relatórios de bancos estrangeiros sobre depósitos financeiros de brasileiros no exterior, resultaram, de imediato, na devolução de R$ 4,3 bilhões de dólares. O Ministério Público Federal recuperou R$ 2,1 bilhões em multas . Mas, as estimativas, incluindo as multas compensatórias, chegavam a R$ 12,7 bilhões.

São essas coisas que estão sendo desqualificadas, gerando um novo modelo de cidadãos de bem, amparados em um prejuízo ao Tesouro Nacional de valor incalculável . Ao inabilitar a ficha criminal dos condenados na Lava Jato, pode-se provocar o surgimento de centenas de ações contra o Estado por crimes de injúria - embora comprovados - e outros supostos prejuízos decorrentes das condenações, agora judicialmente ignoradas. Os advogados dos 244 punidos pela Lava Jato estão aí para isso . Leo Pinheiro, devendo R$ 45 milhões ao Tesouro, já está pedindo o cancelamento da dívida como o feito para a Odebrecht e a JBF. Os lobistas Lúcio Funaro e Augusto Rezende, além de Eduardo Cunha, querem a mesma coisa. E com essa decisão, vão-se, pela segunda vez, as projeções de déficit zero do ministro Fernando Haddad : nem em 2024, nem em 2026, ano das eleições.
Estão aí claros os verdadeiros motivos da cassação do parlamentar Deltan Dallagnol, uma das maiores votações do Brasil para a Câmara dos Deputados na última eleição. Ele foi o representante do Ministério Público que, junto com a Polícia Federal , investigou os crimes descobertos pela Lava Jato. Paira no ar , não a justiça, mas a vingança, de ex-condenados
pela Lava Jato . Está aí também a perseguição desencadeada pelo atual governo ao senador Sérgio Moro, uma das unanimidades nacionais, por ter conduzido, como juiz, a Lava Jato, e assessorado a ministra Rosa Weber na investigação do Mensalão. Sabe tudo. E, assim, vão cassá-lo. A população "anomizada" assiste silenciosa às pedaladas narrativas.

São histórias e versões odientas, mas, de fato, não se esqueceu também o relator original das ações da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki, morto em um acidente de avião mal explicado. Era auxiliado por um juiz instrutor, Márcio Schiefler Fontes, considerado seu "braço direito", afastado a seguir. Para o lugar de Zavascki foi nomeado o ministro Edson Fachin, que, como advogado, defendera antes causas do partido dos Trabalhadores em Curitiba. Infelizmente, é o que se vê nessa "democracia de compadrio", que cultiva a vingança pelas mãos amigas empoderadas, e não da lei. O desdém pela História, pela Constituição e pelo o cidadão é algo que
excede a indignidade. Falta pudor. Para perdoar, só Deus, se existir.
-------------------------------------
* Jornalista e professor
 

Jornalismo com ética e solidariedade.