 |
 |
 |
|
|
|
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: A FINITUDE DO TEMPO

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qui., 19 de jun. de 2025
A FINITUDE DO TEMPO
Se nos aprofundarmos em seu significado o tempo
é a grande circunstância. Dele decorrem os
limites físicos e psicológicos que nos envolvem
em uma trama invisível e densa. Que nos deixa
muitas vezes sem fôlego. Ou sem ânimo. Ou, ao
contrário, em uma expectativa cheia de alegria e
confiança. O fato é que a vida é tempo. Não
importa quais capacidades e instrumentos
possamos utilizar, ele permanece nos cercando,
lembrando da finitude, da exiguidade, das
limitações - tanto nas coisas comuns, como nos
sofrimentos ou no prazer.
O tempo é inexorável, implacável, inflexível.
Fora de nosso alcance. Não podemos controlar.
Acontece muitas vezes que nem nos damos conta de
sua finitude. E nos perdemos em muitas coisas
esquisitas ou bobas, com as quais nem deveríamos
nos envolver ou darmos importância. Porque se
temos um tempo limitado de viver, que por sinal,
depende de muitas circunstâncias de vida, quais
os motivos que nos fazem perder tempo? O que nos
distrai do fato de que não somente estamos de
passagem na Terra, como não sabemos de quanto
futuro nos pertence?
O tempo parece nos exigir saber como estamos em
relação a nós mesmos. Quantas vezes ficamos meio
perdidos! Adriana Kortland, no livro Almagesto,
em seu conto sobre a mulher que olhava o mundo
por uma fresta da porta, aborda esta questão. Às
vezes, explica, nem porta temos e construí-las e
decidir quem entra requer um longo aprendizado.
Talvez olhemos por uma fresta porque o mundo nos
fez sofrer, porque magoamos quem não merecia,
porque não aprendemos a coragem de nos
descobrir, assim como à realidade e o outro.
Quem sabe? Somente nós podemos, afinal,
compreender por que permanecemos olhando tudo
por uma fresta na porta, em lugar de abrirmos a
porta para sairmos e deixarmos também que as
pessoas entrem.
Os autores de “Ikigai- o segredo japonês para
uma vida feliz” citam Hokusai, um artista
japonês. Ele diz que tudo o que fez até 70 anos
“não é digno de nota”. Aos 73 começou a conhecer
a verdadeira estrutura da natureza. Em
consequência, diz ele, aos oitenta deve fazer
mais progressos; aos noventa deverá penetrar nos
mistérios das coisas; aos cem alcançará
decididamente a maestria “e, com 110, tudo o que
eu fizer, cada ponto e cada linha, deverá ser
instinto vital”. Aos setenta eu considerei que
fiz muito de minha vida. Quanto aos planos de
Hokusai para o futuro, gostaria de ser tão
otimista quanto ele. (06/2025/luiza)
|
|
|
|