Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
De: Reynaldo Ferreira <reydferreira@gmail.com>
Date: sex., 25 de jul. de 2025
Subject: UMA BELA VIDA



UMA BELA VIDA

"É preciso tomar uma hora cada dia
em que cuidemos da nossa morte ""
Padre António Vieira, Sermões

É mais ou menos isso a que se propõe a focalizar o cineasta grego Costa Gravas, neste seu novo filme, "Uma Bela Vida" - que pode ser também o seu canto de cisne -, no qual aborda, de forma impactante, corajosa, através de um roteiro magnificamente elaborado, por ele próprio,
o tema de como as pessoas, de várias origens e procedências, enfrentam a morte.
Personificando-se na figura de um autor literário, de relativo sucesso, que se submete a um exame de ressonância magnética, do qual sai diagnosticado como portador de uma tênue mancha, entre o fígado e o pâncreas, ele se sente induzido pelo clínico, que o atende, a acompanhá-lo no atendimento a pacientes, em fase terminal, com o objetivo de elaborar um relato sobre o que, a partir de então, irá presenciar.

A primeira paciente, em estado crítico, é tia Léonie, já idosa, que diz ser seguidora da metempsicose, doutrina por meio da qual um mesmo espírito, após a morte do antigo corpo, em que habitava, retorna à existência material, animando sucessivamente a estrutura física de outros seres humanos, como explica o clínico ao autor literário. Resumindo a história, é a reencarnação. .O clínico mostra ao autor diversos outros casos terminais, com alusões ao romance “ Eugênia Grandet “, de Balzac, e à recente morte do ator Alain Delon, cujos herdeiros se desentendiam, frente ao caixão, por causa da herança. E ressalta que a duração do tempo de vida das pessoas vem aumentando através de séculos.

Nos tempos do Império Romano, por exemplo, as pessoas dificilmente viviam mais de trinta anos, enquanto, nos dias de hoje, muitas conseguem ultrapassar os cem anos.
Numa sequência doméstica, o clínico não deixa de fazer sua velada crítica de como estão sendo criadas as novas gerações, com crianças vendo filmes pornográficos, pela televisão. Outros casos de revolta e de aceitação frente à morte são mostrados pelo clínico ao escritor, que, ao passar do tempo, enquanto vai tirando cópia de seus relatos, vai-se debilitando física e espiritualmente. Mas, nas sequências finais Costa Gavras se esmera em destacar o amor pela vida e um sentido de esperança diante da morte. R.D.F
 

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