Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: PROBLEMAS DA JUSTIÇA!



De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qua., 6 de ago. de 2025
Subject: justiça

PROBLEMAS DA JUSTIÇA!


Em 28 de agosto de 2009 aconteceu o crime da Super Quadra 113 Sul, quando o casal Desembargador José Vilela e Maria Carvalho, além da empregada Francisca da Silva, foram barbaramente assassinados, com mais de 70 facadas. Adriana Vilela, a filha, foi considerada culpada como mandante do crime e contratante dos assassinos: o ex porteiro do prédio, um sobrinho e um amigo. Em uma investigação cheia de estranhos episódios, inclusive a contratação de uma vidente pela Polícia. Os criminosos estão presos desde aquela época. E a mandante?

Segundo Fernanda Vivas da TV Globo Brasília: “A defesa de Adriana Vilela tenta anular o veredito do júri popular, que foi revisado e confirmado em segunda instância. A pena foi fixada em 61 anos e 3 meses de prisão.” Através de sucessivos recursos, passados 16 anos, a mandante do crime nunca experimentou a prisão. Continua em liberdade, apesar das penas estabelecidas pelos jurados e o horror que foi a morte de seus pais e da empregada. Assisti ao último julgamento, cujo defensor foi o advogado DR. Kakay, um dos mais famosos de Brasília e nas cercanias do qual transitam as mais importantes autoridades do país. Não ouvi nada relativo ao cerceamento de provas.

O Ministério Público do DF, na pessoa do Dr. Rogério Schietti Cruz, Relator do caso, pede que a justiça determine a prisão imediata de Adriana Vilela com o cumprimento da pena. No entanto, os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) pela segunda vez adiaram o andamento do processo pedindo vistas. O que significa novamente 90 dias de liberdade para a ré, prorrogáveis por mais 30 – para estudarem melhor o caso (?). Assim fizeram o DR. Og Fernandes e o Dr. Sebastião Reis. Este inclusive concordando com o cerceamento de provas alegado pela defesa. Seria uma questão insignificante saber exatamente para que serve o pedido de vistas? A quais propósitos, além de melhor estudar o caso? Lembrando que este foi adiado em seu andamento pela segunda vez. Ou seja, tão longo tempo de estudo?

Creio que neste caso está presente, objetivamente, um dos problemas da Justiça brasileira. O fato de que as prisões estão cheias de pobres. E os ricos permanecem impunes, porque amparados por bons advogados e nas relações entre juristas. Lembrando que o caso obteve duas vezes o adiamento da solução final. Mesmo o relator solicitando a prisão imediata da ré, duas vezes considerada culpada por um júri, com pena de mais de 60 anos. Enquanto os assassinos permanecem na prisão desde 2009, há 16 anos, a mandante permanece em liberdade. Ora, se não foi possível até aqui provar sua inocência, alguma coisa de podre estamos a ver no reino da Dinamarca?

Por tudo isto, acreditamos que a principal questão que informa as relações institucionais e a justiça no Brasil é o significado da nossa democracia. Como nos julgarmos iguais com tanta assimetria de poder? Como falarmos em democracia e em justiça quando a forma como os cidadãos são tratados dependem, especificamente, de quanto possuem em bens materiais ou poder? Sim! A Justiça não tem nada de cega. A menos na estátua que enfeita nossas praças. Mas nos subterrâneos de suas práticas provavelmente ascendem, em sua grande maioria, os interesses daqueles com cargos ou recursos. Alguma esperança de mudança?

No romance de Jo Nesbo, “O homem Ciumento”, um personagem menciona o poema de Robert Frost “The Road Not Taken”, discutindo a dubiedade do verso final. Que ressalta o dever de escolher entre dois caminhos que, no entanto, parecem iguais “até onde a vista alcança”. E o caminho escolhido leva a novos caminhos, sem voltar à primeira encruzilhada. Enquanto nunca saberemos para onde nos levaria o segundo caminho. “A melancolia. O poema não é sobre o caminho que você escolheu, mas sobre o que não escolheu”. Diante do que fazemos como representantes ou simples cidadãos, que caminhos escolhemos para o Brasil? (08/2025/luiza)
 

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