Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO : Letargia



De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qua., 13 de ago. de 2025
Subject: letargia

LETARGIA



O Aurélio esclarece que se trata de um “estado patológico em que há uma diminuição do nível de consciência, caracterizado por indiferença, sonolência e apatia.” Um segundo significado é sono profundo, letargo. É o que podemos sentir em algum momento de nossas vidas? Provavelmente. Pois quem nunca se sentiu apático, indiferente, talvez até sonolento? Como se a vida ficasse vazia, sem maiores estímulos? Algumas emoções nos levando para este lugar onde nos apagamos um pouco, como se fosse uma distância que se antepõe à realidade. Quando a afastamos para respirarmos mais facilmente. Nos aprofundando na letargia para, talvez, revivermos mais na frente.

Sentimentos que nos envolvem como cipós, nos fazem submergir na tristeza, nos levam para lugares incômodos. As saudades dos que foram, as impossibilidades de sonhar, os limites objetivos da idade, a rotina que massacra os dias quando não temos mais necessidade de cumprir horários ou tarefas. Os obstáculos para cantar. Porque cantar exige um coração aberto e disponível. A ausência de surpresas. Entre outros. Cada um com seus motivos e sua letargia.

Muitos falam da beleza da vida, da necessidade de encará-la com alegria, de vivê-la em plenitude. Como se fosse fácil. Como se na vida muita coisa não aparecesse nos trazendo tristeza, revolta, apatia, entre outras. Como se decisões não fossem muitas vezes tomadas à força. Mas são aspectos que parecem passar despercebidos. Como se nós tivéssemos a obrigação de considerar tudo natural e uma realidade que, forçosamente, temos de enfrentar com calma e coragem.

Embora para muitos a vida possa parecer fácil e simples, não é assim para grande parte das pessoas. Por outro lado, temos a nossa vulnerabilidade, a possibilidade de sermos atingidos pelos percalços que nos cercam. A nossa fragilidade, quando procuramos força e coragem e elas parecem mais distantes de nós do que gostaríamos. Enfim, temos de lidar com muita coisa desagradável, assim como coisas boas também. Tudo depende da forma como vemos a realidade e nos preparamos para vivê-la.

O japonês tem um conceito - o ikigai - que significa a razão de viver, “a razão pela qual nos levantamos pela manhã.” Hector Garcia e Francesc Miralles autores do “Ikigai – o segredo japonês para uma vida feliz” explicam que ter “ikigai claro e definido, uma grande paixão, dá satisfação, felicidade e significado à vida”. Ter um propósito e trabalhar por ele é tão importante na cultura japonesa, esclarecem, que eles não possuem uma palavra que signifique “aposentar-se”. E seus estudos sobre a longevidade sugerem, justamente, a importância de buscar um sentido para a vida e manter relações sociais em sua comunidade. Condição considerada tão ou mais importante do que a dieta japonesa. Mas a obrigação de ajudar uns aos outros é um dos mais poderosos ikegai. E alguns aspectos são característicos das comunidades mais longevas: a dieta, o exercício, ter um propósito, que é o ikegai e manter muitos amigos e boas relações na família. Do que advém o sentimento de pertencimento e proteção que tranquilizam e dão forças.

Walter Breuning, nascido em Minnesota, EUA, é o personagem de um dos capítulos do livro sobre o ikegai. Considerado o homem mais velho do mundo, morreu de causas naturais em 2011. Ele dizia: “Se você mantiver sua mente e seu corpo ocupados, ficará aqui por bastante tempo”. Uma outra personagem citada no livro é Carmen Herrera, pintora nascida em 1915. Ela vendeu seu primeiro quadro aos 89 anos. Ela afirmou: “Minha motivação é terminar o próximo projeto. Vivo dia após dia”. E T.H. White falando sobre a vida e o aprender: “Essa é a única coisa da qual a mente não pode jamais se cansar, nem se alienar ou desacreditar, e nunca sonhar em se arrepender.” (08/2025/luiza)
 

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