Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
O JULGAMENTO DA INDIGNIDADE _
Marcelo Duarte Lins

Há julgamentos que não se desenrolam apenas nas páginas do processo e nos papéis timbrados, mas também nas entrelinhas da História. O que se prepara no Superior Tribunal Militar é mais do que um veredito sobre pessoas: é um exame de consciência sobre a própria instituição.

O STM, formado por dez ministros militares e cinco civis, não é correia de transmissão do Supremo Tribunal Federal, tampouco simples carimbador de sentenças. É uma corte autônoma, com identidade e tradição próprias. Ao longo de sua trajetória, preservou-se de julgamentos políticos, evitando retirar patentes ou soldos quando a pena poderia soar mais como vendeta do que como justiça.

Agora, contudo, a cena é outra. O que estará em jogo não é apenas se oficiais generais e um ex-presidente da República — capitão da reserva remunerada — são dignos ou indignos de conservar sua condição militar. O que se coloca em pauta é o valor simbólico da farda e a memória dos serviços prestados à Pátria.

Militares com folhas de serviço marcadas por dedicação ao Brasil, não deveriam estar diante de uma questão apenas político-jurídica, mas quase metafísica: podem décadas de serviços prestados ao País ser apagadas por um único instante de julgamento?

Esses homens deveriam comparecer àquela corte para serem homenageados, condecorados, lembrados pelos feitos que ajudaram a escrever. Não para serem transformados em réus de uma narrativa que insiste em apagar o passado em nome de paixões políticas do presente.

A História, essa juíza implacável e silenciosa, já os julgou. Resta ao STM decidir não apenas sobre os homens e seus méritos, mas sobre si mesmo. Pois cada sentença, neste caso, é também um espelho: refletirá se o Tribunal seguirá como guardião da dignidade militar ou se deixará que a política contamine o altar da Justiça.

No fim das contas, o julgamento da indignidade pode revelar-se, sobretudo, o julgamento da própria corte e de seus excelentíssimos ministros.
E talvez, um dia, seja a História — sempre paciente, sempre implacável — quem julgue o julgamento.

 

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