NOVO PRESIDENTE
DO SUPREMO
ENXERGA
"EXAUSTÃO
CONSTITUCIONAL"
Aylê-Salassié
Filgueiras
Quintão*
O novo
presidente do
Supremo Tribunal
Federal,
ministro Édson
Fachin,
empossado nesta
segunda-feira
(29), deve
passar a
frequentar cada
vez mais as
Missas em
Brasília.
Devedor dos
conselhos da
mãe, quando
jovem, vendedor
de laranjas nas
ruas de Curitiba
com o avô ,
conseguiu cursar
e exercer a
advocacia e
chegar à
Presidência da
mais alta Corte
de Justiça do
Brasil,
nomeado pela
então presidente
Dilma Roussef,
após a
aposentadoria do
ministro Joaquim
Barbosa,
relator do
Mensalão. A
relatoria do
escândalo o
alcançou também,
depois da
emblemática
morte do então
relator, Teori
Zavascki. Nessa
mesma condição
foi ainda
protagonista no
tal "Joesleygate"
- delitos do
governo Michel
Temer - e,
ombreando-se com
o ministro, Dias
Toffoli , ajudou
a enterrar a
corrupção ativa
e passiva da
Lava Jato..., de
intrigante
memória.
Ambos teriam
contribuído
para
fragilizar o
processo contra
o ex-presidente
Lula, aprovando
jurisprudencialmente
a sua soltura -
depois de o
ex-presidente
ser mantido um
ano e meio
preso em
Curitiba. Foram
desqualificadas
provas e
delações dos
diretores da
Odebrecht, das
construtoras, de
Sérgio Cabral,
governador do
Rio de Janeiro e
outros
políticos.
Fachin
enfrentou, por
outro lado,
causas
complicadas,
como a
condenação dos
parlamentares
Geddel Vieira, o
todo poderoso
secretário do
Partido do
Movimento
Democrático
Brasileiro
(PMDB) e de seu
irmão Lúcio
Vieira Lima ,
flagrados com R$
51 milhões,
amarrados em
maços de
dinheiro, de
origem
desconhecida e
destinações
incertas,
encontrados em
várias malas
num apartamento
em Salvador . A
Procuradoria
Geral da
República pediu
80 anos de
prisão.
Ocupando a vaga
do ministro
Joaquim Barbosa,
relator do
"escândalo do
Mensalão",
enfrentou
questões muito
menos cômodas do
que as que
caíram agora no
colo de Luís
Roberto Barroso
, quem acaba de
lhe passar o
cargo de
Presidente do
STF, depois
confrontar-se,
em plenário,
desairosamente,
com o ministro
Gilmar Mendes,
decano da
instituição, e
uma gestão
tumultuada,
envolvendo a
politização da
Justiça, em que
teria
expressado suas
opções políticas
e ideológicas.
A ascensão de
Fachin à
Suprema Corte
foi uma das
mais
trabalhosas.
Cogitado em
diversas
ocasiões. teve
seu nome
sobrepassado
oito vezes e, no
Congresso, sua
designação para
o Supremo, após
11 horas
sabatinado, não
alcançou
unanimidade.
Foi acusado,
pela direita, de
esquerdista e,
pelos petistas,
de negar
pedidos da
defesa de Lula
para reverter
decisões do juiz
Sérgio Moro,
encaminhados
pelo então
advogado do
ex-presidente,
Cristiano
Zanin, hoje seu
companheiro
ministro, na
Suprema Corte .
Em março de
2021,
surpreendeu a
todos, anulando
as condenações
de Lula, ao
registrar
"vícios
processuais", e
declarar a
incompetência da
Justiça de
Curitiba para
julgar o
petista. O
companheiro Dias
Toffoli, com
habilidade de um
meio de campo,
matou no peito e
fez o gol ,
livrando os
demais
correligionários
das acusações.
Fachin tentou
acabar com a
superlotação dos
presídios, com
as revistas e as
visitas íntimas
( e até LGBTs)
vexatórias em
estabelecimentos
prisionais,
decisão ambígua
já que por esse
caminho chegava
aos
estabelecimentos
prisionais, das
maneiras mais
extravagantes ,
telefones
celulares,
armas,
camisinhas,
dinheiro e
drogas . Além de
religioso,
Fachin é um
especialista em
direito civil e
de família.
Embora no
cargo de
Presidente não
tenha a
obrigação de
relatorias,
Fachin leva
consigo a
decisão sobre o
recurso especial
da "uberização"-
relação
empregatícia
entre motoristas
de aplicativos;
o voto final
final sobre o
"marco temporal"
para as terras
dos povos
originários e a
garantia dos
direitos das
comunidades
indígenas
isoladas. Se não
trouxer mais
problemas,
terá,
certamente, a
ajuda do
ministro
Alexandre de
Moraes, seu
vice-Presidente
no STF.
Ex-ministro da
Justiça , Moraes
é responsável
pela condenação
do ex-presidente
Jair Bolsonaro e
colegas oficiais
das Forças
Armadas (27 anos
de cadeia)
acusados de
tentativa de
Golpe de
Estado; e a
condenação de
hackers e
influencers
indiciados como
geradores de
"fake news".
O novo
Presidente do
Supremo escapa,
contudo, não
apenas dos
rescaldos da
Lava Jato ,
ainda bastante
complicados,
apesar de
congelados na
Suprema Corte,
mas também da
decisão sobre a
atuação policial
contra facções
criminosas no
Rio de Janeiro.
Ficam para
Barroso, que é
carioca, e em
cujo gabinete
aguardam , sem
decisão,
milhares de
processos e
recursos
recorrentes. Ao
deixar a
Presidência do
STF, Barroso
lamentou apenas
os "custos
pessoais"
nesses dois
anos de gestão.
Enfim, desde
criança, Fachin
enfrentou
dificuldades
para alcançar o
atual patamar
social e
jurídico. No
meio de um
histórico cheio
de ambiguidades,
chegou lá , e
se instalou,
tornando-se um
típico membro de
uma aristocrata
de Estado, com a
família toda
ocupando cargos
importantes na
Justiça e nas
universidades.
Não sem muito
esforço e
persistência.
Ele chegou a
desempenhar
atividades
públicas e
privadas ao
mesmo tempo,
mas conseguiu o
apoio do Senado
para quebrar
uma cláusula
quase pétrea da
administração
pública, em que
se concluía que
não havia
incompatibilidade
no exercício
das
responsabilidades
públicas e
privadas. Como
Procurador do
estado do
Paraná, do
Instituto de
Terras,
Cartografia e
Florestas do
Paraná, do
Instituto
Nacional de
Colonização e
Reforma Agrária
(INCRA),
mantinha, em seu
escritório de
advocacia,
casos de
conflitos
empresariais,
sucessórios,
ambientais,
agrários e
imobiliários.
Graduou-se e
pós-graduou-se
em Direito pela
Universidade
Federal do
Paraná, pela
Pontifícia
Universidade
Católica de São
Paulo e chegou
ao doutorado no
Canadá. Foi
professor
visitante do
King 's College,
no Reino Unido,
e pesquisador
convidado do
Instituto Max
Planck
(Alemanha). Faz
parte do Corpo
Docente de duas
universidades
brasileiras.
Publicou dezenas
de trabalhos na
área do direito
civil, da
família e da
reforma agrária.
Escreveu textos
junto com o
ex-presidente do
Incra, o
fazendeiro
paulista e
ativista
fundiário José
Gomes da Silva.
Sua grande
virtude é,
entretanto, a
poesia. Aos 67
anos, não perdeu
a mania de
escrever
poemas. Tem
três a quatros
livros de
poesias
publicados. Foi
promotor de
concursos e
festivais
literários em
Curitiba. De tal
forma que ,
quando está
muito
silencioso, em
plenário,
ouvindo os votos
dos ministros,
não se sabe se
está
acompanhando a
fala dos
companheiros ou
escrevendo um
novo poema. Suas
conclusões, ao
tomar posse na
Presidência da
Côrte Suprema,
são intrigantes.
Numa palestra no
Conselho da
Magistratura há
meses atrás
chamou a atenção
para o fato de :
" o País vive um
contexto de
exaustão
institucional..."
. Defendeu,
entretanto, o
que chamou de
“opção
civilizatória”,
fundada nos
princípios
constitucionais.
_______________
* Jornalista e
professor