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LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: PÉROLA

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: ter., 14 de out. de 2025
PÉROLA
“Nunca pensei que o amor pudesse caber em um
corpo tão pequeno”. Assim começa a crônica de
Patrick Selvatti sobre Pérola, sua cachorrinha
resgatada nas ruas. Crônica que foi publicada no
Correio Braziliense de hoje, 14 de outubro. E
continua a falar de seu amor por ela, de quanto
ela enriqueceu sua vida, continuando nele como
uma lembrança amada após sua morte pela idade.
Patrick afirma que ao acolhermos um animal,
“acolhe-se também uma parte melhor de si mesmo.”
Refere-se ao legado deixado por Pérola, feito de
lealdade, de ternura e de um amor que não cobra,
não exige, apenas existe. Um amor simples. E
quem gosta de animais, principalmente de
cachorros, entende perfeitamente do que fala
Patrick.
Assim foi, por exemplo com Kia, linda em seu
pêlo abundante branco e creme e sua cabeça
imensa de uma grande São Bernardo. Passava
comigo alguns tempos pois eu morava em casa e
seu dono em apartamento e com filhos
recém-nascidos. Kia participava de minha vida
com sua presença e, tal como Pérola, nada
exigia. Quando eu estava triste ela se achegava
e colocava no meu colo sua imensa e linda
cabeça, me olhando curiosa como se quisesse
saber a causa de minha tristeza, ao mesmo tempo
que parecia dizer: estou aqui. Uma companhia
protetora, afetuosa, atenta. Quando me via
pronta para sair, se dirigia com passos lentos e
meio cabisbaixa para seu colchão. Às vezes eu a
colocava no carro e a levava para passear. Ou
saía com ela pelas redondezas, onde ela parava
cheirando as plantas ou os postes. Adorava
presunto e ficava quieta, sentada ao lado da
mesa de refeições, observando-o. E Kia era tão
grande que sua cabeça ultrapassava a mesa. Mas
ela permanecia quieta, esperando.
Assim como diz Patrick, ter um animal é aprender
com ele. Como Pérola, ao lhe mostrar “que o amor
não precisa de palavras, que presença é o maior
gesto de cuidado, e que adoção é o encontro mais
bonito que o destino pode oferecer.”
Infelizmente não tenho condições de criar hoje
um cachorro, embora meu desejo seja grande. Sim,
porque existe realmente um afeto intenso, uma
atenção, uma lealdade naqueles animais que
criamos. Sem falar das brincadeiras que nos
enchem de risadas. E, ouso dizer, este tipo de
amor não exigente não existe em qualquer outro
tipo de relação. Na última vez em que vi Kia,
antes dela morrer, eu estava sentada e ela veio
e suspendeu minha mão para que alisasse sua
cabeça.
A crônica de Patrick me levou às lágrimas. Me
lembrei de Tupã; de minha pequena cadela com o
corpo comprido e orelhas pequenas; do meu imenso
Buck, morto em uma clínica de Brasília, onde o
deixei porque viajara de férias. E, por fim, da
Kia, que não era minha, mas era como se fosse,
pelo amor que nos unia. Eles deram à minha vida
mais alegria, me distraíram, se fizeram
presentes. São inesquecíveis. Como diz Patrick,
“Porque alguns amores, mesmo quando partem,
continuam respirando dentro da gente.” (10/2025/luiza) |
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