Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
Reynaldo Ferreira recomenda artigo de Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* sobre a COP 30 
 

De: Reynaldo Ferreira 
<reydferreira@gmail.com>
Date: ter., 14 de out. de 2025 
Subject: Fwd: COP 30 - Responsabilidade difusa
 
REPASSANDO: O professor Aylé-Salassié Filgueiras Quintão expõe, neste artigo, em anexo, com propriedade, o que se pode esperar da dispendiosa realização da CONFERÊNCIA DO CLIMA (COP 30 ), a realizar-se, de 10 a 21, do próximo mês, em Belém do Pará, cujas expectativas fraquejam, segundo ele diante das preliminares, o que é a verdade. A retórica é abundante, mas as iniciativas são poucas.Leiam o artigo.
 
 SANHA ARRECADATÓRIA, RESPONSABILIDADE DIFUSA
 
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

 
Ideal seria   que o Brasil  fosse diferente após a Conferência do Clima (COP 30), prevista para 10 a 21 de novembro  próximo , em Belém, no Pará. As expectativas fraquejam diante das preliminares . Não se trata de criminalizar  apenas o oportunismo da rede hoteleira local  elevando os  preços praticados na  província a  imaginários  níveis internacionais, dificultando  o quórum para reunião .  Nenhum dos países comprometidos   com  a redução das  emissões  de carbono , assumida  na Conferência de Paris,  em 2015,  está conseguindo fazer o dever de casa:   nem os mais ricos , muito menos os mais  pobres, que teriam de abrir mão do modelo industrial, ainda no início,   como proposta política para o  desenvolvimento nacional, e que também não alcançaram  a plenitude da sociedade digital.

 
É pouco. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, soou um alarme desqualificador das teses ambientalistas  que dão sustentação a toda essa mobilização mundial pelo clima, suspendendo as doações financeiras do País para as finalidades climáticas, contaminando alguns dos maiores doadores globais de recursos   para esse tipo de Conferência, chancelada pela Organização das Nações Unidas, e até para  a Amazônia, carro chefe do Brasil na Conferência . A COP de Belém é a trigésima edição, sem avanços significativos. 
Os 198 países membros da Conferência   comprometeram-se em adotar  providências internas para   conter o aumento da temperatura média no Planeta em "1,5°C acima dos níveis pré-industriais". Em Belém, está pautado para   acontecer a apresentação da segunda rodada das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e dos  planos de ação climática de cada país. Mas, não se  espera  muito dos relatórios, senão  retórica abundante ,  iniciativas reais modestas,  dados imprecisos e  muita omissão.

 
Além disso,  para ganhar legitimidade, a COP 30 precisa reunir presencialmente  2/3 (132 ) das 198 nações que fazem parte da Conferência. Até este meado de outubro, somente  87 países tinham reservas na cidade, e  as acomodações, a US$ 197 (R$ 1.057,00) a diária, já haviam se esgotado. A sanha arrecadatória está afugentando os  bancos , aos quais quer-se legar a obrigação de financiar as delegações dos países mais pobres . 

 
A realização dessa Conferência é vital para o  Brasil , não só pelo prestígio político buscado, mas porque  um dos principais temas, incluídos na Agenda  , é a criação do Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), cuja finalidade seria financiar a  proteção da Amazônia e outros ecossistemas vulneráveis existentes no mundo. Projetou-se a meta de  captação de   US$ 1,5 trilhão  . Nessa linha  de "tirar dos ricos" e alterar a arquitetura financeira, o Brasil tenta ainda estimular o  mercado do "crédito de carbono", uma concorrência voluntária  entre grandes empresas para marcar presença  na proteção ambiental, no caso, da Amazônia. É a adoção do chamado compromisso ESG -   Environmental, Social and Governance, e  que promoveria a reputação corporativa  e resultados sustentáveis para os participantes.

 
O Brasil quer assumir a liderança desse processo. Mas, enquanto o Governo  tenta atrair  grandes empresas para a defesa da Amazônia e das comunidades ancestrais, ao mesmo tempo  vive engasgado  com  ideias ambíguas de exploração de minérios em terras indígenas e de petróleo na  foz do rio Amazonas,  contradizendo a si próprio nos aconselhamentos protecionistas passados aos pares, com o propósito de  atraí-los para  a transição energética limpa . Nosso  Presidente  prega por aí  a necessidade de  sair da dependência do combustível fóssil. Para dar força aos argumentos, procura-se ignorar  que  está se referindo à  principal fonte de financiamento de boa parte das economias do mundo, sobretudo do Oriente Médio,  e da própria Rússia, de Vladimir Putin, que precisa vender seu  petróleo, e captar  recursos para financiar sua indústria de guerra . Trump aconselha : Parem de comprar petróleo russo que a guerra acaba.

 

 
Em tom de esperteza,   carregando consigo  uma suposta intimidade com líderes mundiais, nosso Presidente declara que,  com a COP  vai  saber se  Trump, dos Estados Unidos;  Xi Jinping,  da China;  Emmanuel Macron, da França, estão mesmo preocupados em resolver os  problemas  climáticos . Omitiu  a Rússia, que tem igual  responsabilidade, e vive   despejando  drones com bombas  na Ucrânia,  destruindo terras  de produção de alimentos e  florestas nativas .  

 
Concomitantemente, sem querer se comprometer, mas já comprometendo os brasileiros, nosso Presidente  vacila provincianamente   no discurso.  Depois de tantas viagens para o exterior, já era tempo de abandonar a retórica ufanista, fundada na ideia de  ser o Brasil  o "maior",  a maior riqueza em floresta viva ; o "primeiro", o primeiro a adotar o combustível verde;  o "melhor", vamos fazer a melhor COP;  "nunca antes", nunca antes neste mundo. Enfim,o professor Cristovam Buarque defende, em livro, que  viagens internacionais  trazem  intrínseco um desenvolvimento crítico cognitivo.  Portanto, não adianta tentar fazer bonito, com recursos retóricos,   ignorando estatísticas digitalizadas e estudos, via satélites,  realizados pelas mais respeitáveis instituições de pesquisa do mundo.

 
Mas, não tem jeito. É  assim que acontece:  O Brasil vai se apresentar na COP   como   o único país  que tem estabelecido a meta de zerar o desmatamento em 2030 e alcançar a neutralidade do carbono em 2050. Pelas  previsões, mais políticas e menos ambientais,  até 2035 , o Brasil promoverá uma  redução de até 67 % nas emissões de carbono.  O País já contaria com 45% da sua matriz energética limpa  e 90% da sua matriz elétrica alimentada por fontes renováveis.  " Somos, com certeza, um dos melhores  endereços no  mundo para investimentos verdes", arremata a ministra do Meio Ambiente.

 
Não se sabe se esses números que serão apresentados na COP 30  serão reconhecidos  para sensibilizar as   fontes doadoras de recursos para o meio ambiente. O Brasil já teve  a chance de liderar este processo , se tivesse  apresentado suas teses com  mais cientificidade . No momento, até a ideia da "sustentabilidade com inovação"(Prêmio Nobel, 2025), que alimenta a política ambiental no Planeta há mais de 40 anos,  é questionada  como políticas públicas nas COPs. Fazendo mais política que ciência, vamos perdendo o trem da história. Chegamos perto de servir  de referência para  o grupo dos Biodiversos das Nações Unidas. Sem nunca ter sido  contemplado com um  Nobel, somente indicações -  dom Hélder,  Irmãos Villas Boas,  ministro Alysson Paulinelli - , os brasileiros se acham inteligentes. Tudo bem. Isso vale para os cearenses. Mas, não se esqueça que  os outros não são burros. Pelo perfil político do Brasil, as campanhas  eleitorais de 2026 tendem a engolir os resultados da COP 30 no Brasil.
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*Jornalista, professor: doutor em História Cultural
 
 

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