SANHA
ARRECADATÓRIA,
RESPONSABILIDADE
DIFUSA
Aylê-Salassié
Filgueiras Quintão*
Ideal
seria que o
Brasil fosse
diferente após a
Conferência do Clima
(COP 30), prevista
para 10 a 21 de
novembro próximo ,
em Belém, no Pará.
As expectativas
fraquejam diante das
preliminares . Não
se trata de
criminalizar apenas
o oportunismo da
rede hoteleira
local elevando os
preços praticados
na província a
imaginários níveis
internacionais,
dificultando o
quórum para reunião
. Nenhum dos países
comprometidos com
a redução das
emissões de carbono
, assumida na
Conferência de
Paris, em 2015,
está conseguindo
fazer o dever de
casa: nem os mais
ricos , muito menos
os mais pobres, que
teriam de abrir mão
do modelo
industrial, ainda no
início, como
proposta política
para o
desenvolvimento
nacional, e que
também não
alcançaram a
plenitude da
sociedade digital.
É
pouco. O Presidente
dos Estados Unidos,
Donald Trump, soou
um alarme
desqualificador das
teses
ambientalistas que
dão sustentação a
toda essa
mobilização mundial
pelo clima,
suspendendo as
doações financeiras
do País para as
finalidades
climáticas,
contaminando alguns
dos maiores doadores
globais de recursos
para esse tipo de
Conferência,
chancelada pela
Organização das
Nações Unidas, e até
para a Amazônia,
carro chefe do
Brasil na
Conferência . A COP
de Belém é a
trigésima edição,
sem avanços
significativos.
Os
198 países membros
da Conferência
comprometeram-se em
adotar providências
internas para
conter o aumento da
temperatura média no
Planeta em "1,5°C
acima dos níveis
pré-industriais". Em
Belém, está pautado
para acontecer a
apresentação da
segunda rodada das
Contribuições
Nacionalmente
Determinadas (NDCs)
e dos planos de
ação climática de
cada país. Mas, não
se espera muito
dos relatórios,
senão retórica
abundante ,
iniciativas reais
modestas, dados
imprecisos e muita
omissão.
Além
disso, para ganhar
legitimidade, a COP
30 precisa reunir
presencialmente 2/3
(132 ) das 198
nações que fazem
parte da
Conferência. Até
este meado de
outubro, somente 87
países tinham
reservas na cidade,
e as acomodações, a
US$ 197 (R$
1.057,00) a diária,
já haviam se
esgotado. A sanha
arrecadatória está
afugentando os
bancos , aos quais
quer-se legar a
obrigação de
financiar as
delegações dos
países mais pobres
.
A
realização dessa
Conferência é vital
para o Brasil , não
só pelo prestígio
político buscado,
mas porque um dos
principais temas,
incluídos na Agenda
, é a criação do
Fundo de Florestas
Tropicais (TFFF),
cuja finalidade
seria financiar a
proteção da Amazônia
e outros
ecossistemas
vulneráveis
existentes no mundo.
Projetou-se a meta
de captação de
US$ 1,5 trilhão .
Nessa linha de
"tirar dos ricos" e
alterar a
arquitetura
financeira, o Brasil
tenta ainda
estimular o mercado
do "crédito de
carbono", uma
concorrência
voluntária entre
grandes empresas
para marcar
presença na
proteção ambiental,
no caso, da
Amazônia. É a adoção
do chamado
compromisso ESG - Environmental,
Social and
Governance, e
que promoveria a
reputação
corporativa e
resultados
sustentáveis para os
participantes.
O
Brasil quer assumir
a liderança desse
processo. Mas,
enquanto o Governo
tenta atrair
grandes empresas
para a defesa da
Amazônia e das
comunidades
ancestrais, ao mesmo
tempo vive
engasgado com
ideias ambíguas de
exploração de
minérios em terras
indígenas e de
petróleo na foz do
rio Amazonas,
contradizendo a si
próprio nos
aconselhamentos
protecionistas
passados aos pares,
com o propósito de
atraí-los para a
transição energética
limpa . Nosso
Presidente prega
por aí a
necessidade de sair
da dependência do
combustível fóssil.
Para dar força aos
argumentos,
procura-se ignorar
que está se
referindo à
principal fonte de
financiamento de boa
parte das economias
do mundo, sobretudo
do Oriente Médio, e
da própria Rússia,
de Vladimir Putin,
que precisa vender
seu petróleo, e
captar recursos
para financiar sua
indústria de guerra
. Trump aconselha :
Parem de comprar
petróleo russo que a
guerra acaba.
Em
tom de esperteza,
carregando consigo
uma suposta
intimidade com
líderes mundiais,
nosso Presidente
declara que, com a
COP vai saber se
Trump, dos Estados
Unidos; Xi
Jinping, da China;
Emmanuel Macron, da
França, estão mesmo
preocupados em
resolver os
problemas
climáticos . Omitiu
a Rússia, que tem
igual
responsabilidade, e
vive despejando
drones com bombas
na Ucrânia,
destruindo terras
de produção de
alimentos e
florestas nativas
.
Concomitantemente,
sem querer se
comprometer, mas já
comprometendo os
brasileiros, nosso
Presidente vacila
provincianamente
no discurso.
Depois de tantas
viagens para o
exterior, já era
tempo de abandonar a
retórica ufanista,
fundada na ideia de
ser o Brasil o
"maior", a maior
riqueza em floresta
viva ; o "primeiro",
o primeiro a adotar
o combustível
verde; o "melhor",
vamos fazer a melhor
COP; "nunca antes",
nunca antes neste
mundo. Enfim,o
professor Cristovam
Buarque defende, em
livro, que viagens
internacionais
trazem intrínseco
um desenvolvimento
crítico cognitivo.
Portanto, não
adianta tentar fazer
bonito, com recursos
retóricos,
ignorando
estatísticas
digitalizadas e
estudos, via
satélites,
realizados pelas
mais respeitáveis
instituições de
pesquisa do mundo.
Mas,
não tem jeito. É
assim que acontece:
O Brasil vai se
apresentar na COP
como o único
país que tem
estabelecido a meta
de zerar o
desmatamento em 2030
e alcançar a
neutralidade do
carbono em 2050.
Pelas previsões,
mais políticas e
menos ambientais,
até 2035 , o Brasil
promoverá uma
redução de até 67 %
nas emissões de
carbono. O País já
contaria com 45% da
sua matriz
energética limpa e
90% da sua matriz
elétrica alimentada
por fontes
renováveis. "
Somos, com certeza,
um dos melhores
endereços no mundo
para investimentos
verdes", arremata a
ministra do Meio
Ambiente.
Não
se sabe se esses
números que serão
apresentados na COP
30 serão
reconhecidos para
sensibilizar as
fontes doadoras de
recursos para o meio
ambiente. O Brasil
já teve a chance de
liderar este
processo , se
tivesse apresentado
suas teses com mais
cientificidade . No
momento, até a ideia
da "sustentabilidade
com inovação"(Prêmio
Nobel, 2025), que
alimenta a política
ambiental no Planeta
há mais de 40 anos,
é questionada como
políticas públicas
nas COPs. Fazendo
mais política que
ciência, vamos
perdendo o trem da
história. Chegamos
perto de servir de
referência para o
grupo dos
Biodiversos das
Nações Unidas. Sem
nunca ter sido
contemplado com um
Nobel, somente
indicações - dom
Hélder, Irmãos
Villas Boas,
ministro Alysson
Paulinelli - , os
brasileiros se acham
inteligentes. Tudo
bem. Isso vale para
os cearenses. Mas,
não se esqueça que
os outros não são
burros. Pelo perfil
político do Brasil,
as campanhas
eleitorais de 2026
tendem a engolir os
resultados da COP 30
no Brasil.
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*Jornalista,
professor: doutor em
História Cultural