Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: EXTINÇÃO DAS EMENDAS!



De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qui., 16 de out. de 2025
Subject: emendas

EXTINÇÃO DAS EMENDAS!

Desde muito tempo tenho abordado as mazelas do Congresso Nacional relacionadas aos recursos empregados nos Fundos Partidário e Eleitoral, na verba indenizatória e, principalmente, nas emendas parlamentares. Custa aceitar que um país lutando para se desenvolver, com uma parcela significativa da população em insegurança alimentar e outra em miséria nas ruas, possa despender recursos para propaganda eleitoral. Levando em conta, e isto é muito sério, que a parcela anual para as emendas está muito acima dos recursos destinados a alguns ministérios. Que lidam diretamente com o atendimento das necessidades da população.

Assim, são destinados atualmente vultosos recursos para a verba indenizatória. Parcela que cada parlamentar, dos mais de 500, recebem para contratar pessoas em seus gabinetes. Atribuição que seria, racionalmente falando, entregue aos Recursos Humanos. Mesmo com indicação do parlamentar. Então, o que é possível constatar são as famosas rachadinhas: quando o parlamentar se apossa de parte do dinheiro pago a seus auxiliares. Ou contrata, eventualmente, pessoas despreparadas para a função. O valor da verba indenizatória, que é acrescida ao salário do parlamentar, alcançava há tempos R$ 100.000,00 mensais.

Quanto às emendas parlamentares, trata-se de uma anomalia cujo objetivo é a propaganda eleitoral do parlamentar. Que, anti democraticamente, possui a regalia de recursos para se eternizar na carreira de político. Recursos públicos, fruto dos impostos pagos pela população em geral. Incluindo a parcela mais pobre. Empregados em obras que são de responsabilidade do poder executivo, em suas instâncias estadual e municipal. Não é competência do Parlamento. Se somarmos os recursos destinados aos Fundos Eleitoral e Partidário, a verba indenizatória e as emendas parlamentares, qual o valor total de recursos extras colocados nas mãos dos parlamentares? Sem consulta à população e com a manipulação do Orçamento Federal?

Hoje, segundo notícias do Correio Braziliense, existe um impasse na Comissão Mista de Orçamento (CMO) quanto à votação do relatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Previa-se uma arrecadação de R$ 17 bilhões, que foi derrubada quando o Parlamento se recusou a votar a Medida provisória 1.303/2025. Esta medida previa regras para a tributação do Imposto de Renda quanto a investimentos. Então, há um buraco nas contas públicas. Elas não fecham. Claro que a redução de despesas é necessária e importante. Mas, pelo tamanho do rombo, se encontram em jogo as emendas parlamentares também. Elas consistem em um valor que é praticamente igual ao déficit previsto nas contas públicas, estimado pelo senador Randolfo Rodrigues em R$ 40 a R$ 50 bilhões. Por isso o impasse entre os parlamentares e o Executivo quanto ao pagamento das emendas e as medidas para o equilíbrio fiscal.

O que é inacreditável e inadmissível é o silêncio dos inocentes. A adesão dos parlamentares que aprendemos a respeitar e, no entanto, se comprometem com as emendas. Com a extorsão dos cofres públicos para propaganda eleitoral. Quando estes recursos deveriam estar nas mãos dos gestores. O total previsto para as emendas este ano está na ordem de R$ 50 bilhões. E fazem uma enorme falta no Orçamento Federal. O fato é que o Congresso Nacional, trabalhando por suas necessidades pessoais e políticas quanto a eternizar o mandato, extrapola seus direitos. Cria privilégios de casta. De tal modo que propaganda eleitoral, partidos e campanhas eleitorais são financiadas pelos contribuintes. Ou seja, em lugar de lutarem pelas necessidades da população, o Congresso Nacional a utiliza para seus privilégios.

Só nos resta sentir como Neruda: “Como à retidão de tua doutrina/subiram estas curvas de serpente/ até que o medo e crime se aninharam/ e toda claridade foi exterminada? / Ficaram ainda sementes da dor! / Tempo maldito, enterra-te em seu túmulo! / Que nunca mais a terra deixe entrar/ a matéria de deuses e demônios/ no coração dos governadores/: que não se mostre o céu individual/ ou o caprichoso inferno do solitário:/ pune-o com a pedra do Partido, / pica-o com a abelha coletiva, / quebra o espelho, corta-lhe a soga, / para que no jardim triunfe a rosa.” ( XXIV – Elegia – Pablo Neruda)
 

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