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O triste silêncio da Igreja Católica sobre os
presos do 08/01
A quem muito foi dado, muito será exigido; e a
quem muito foi confiado, muito mais será pedido.
(Lucas 12:48)
Entre tantos silêncios constrangedores que
marcam o Brasil de hoje — da OAB, da ABI, da
Rede Globo e de diversas instituições outrora
defensoras da liberdade —, talvez o mais
doloroso seja o silêncio da Igreja Católica, de
seus bispos e padres, diante das injustiças
cometidas na esteira dos acontecimentos de 8 de
janeiro de 2023. Com raras, corajosas e honrosas
exceções, a Igreja tem preferido fingir não ver
o que está diante dos olhos de todos.
A desculpa mais comum é a de que “a Igreja não
se envolve em política”. Mas é preciso dizer com
clareza: não se trata de política — trata-se de
justiça, de misericórdia e de verdade. A Igreja
Católica nunca se calou diante da opressão.
Acaso São João Paulo II silenciou frente aos
horrores do comunismo no Leste Europeu?
Acaso nossa Santa Igreja não ergueu a voz pela
anistia de 1979, quando tantos brasileiros
estavam presos, perseguidos e exilados? Naquele
tempo, nomes como Dom Paulo Evaristo Arns, Dom
Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Tomás
Balduíno e Dom José Maria Pires se ergueram em
defesa da anistia. Sob a liderança de Dom
Aloísio Lorscheider e Dom Ivo Lorscheiter, a
CNBB apoiou a luta pela anistia ampla, geral e
irrestrita.
O que mudou de lá para cá? Apenas o lado dos
anistiados. Em 1979, a Igreja defendeu a anistia
de terroristas, assassinos e assaltantes de
banco, porque via neles antes de tudo seres
humanos, filhos de Deus. Hoje, quando se trata
de pessoas comuns — homens e mulheres que
protestaram contra um governo com o qual
discordam —, a maioria dos bispos se cala, se
omite, se esconde.
Os presos do 8 de janeiro não são terroristas,
nem assassinos, nem ladrões. são cidadãos que
exerceram, ainda que de forma desorganizada, o
direito de manifestação. Atos semelhantes foram
cometidos inúmeras vezes pela esquerda ao longo
da história recente — nos “Fora Collor”, “Fora
Itamar”, “Fora FHC”, “Fora Temer”, “Fora
Bolsonaro” —, e nem por isso milhares foram
presos, muito menos condenados a penas
desumanas.
Será que preciso recordar os episódios em que
manifestantes de esquerda depredaram prédios
públicos e incendiaram a Esplanada dos
Ministérios, como ocorreu em 24 de maio de 2017?
Imaginem se naquele dia 1.200 militantes de
esquerda tivessem sido presos, mantidos meses
sem acusação formal, e depois condenados a 17
anos de prisão sob a acusação de “tentativa de
golpe de Estado”. Qual teria sido, então, a
reação da Igreja?
É triste constatar que, diante do sofrimento
atual, a Igreja Católica prefere o conforto do
silêncio à coragem da verdade, escudando-se no
argumento falso de que “anistia é assunto
político”. Não é. A anistia é um ato de
humanidade, de misericórdia, de reconciliação e
de pacificação nacional. E a Igreja, fiel à sua
tradição, tem o dever moral de se colocar ao
lado da misericórdia e contra a opressão.
Padres e bispos católicos, escutem novamente a
pergunta que ecoa há dois mil anos:
“Quo Vadis, Domine?” — Para onde vais, Senhor?
Será preciso que Cristo volte a se sacrificar
para defender suas ovelhas abandonadas? Honrem a
herança da Igreja, defendam o vosso rebanho,
ergam a voz pela anistia e pela paz. Lembrem-se:
“A quem muito foi dado, muito será exigido.”
Adolfo Sachicida |
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