Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: A VELHA SAUDADE!




De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: ter., 11 de nov. de 2025
Subject: saudade

A VELHA SAUDADE!

O Aurélio define saudade a partir de sua origem, do latim, solitate, “que significa lembrança melancólica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes.” Sim, há tanto de melancolia na saudade! Portanto, de depressão, de tristeza e pesar. Que nunca se afastam e estão significativamente presentes quando as lembranças assaltam sem esperar. E sem reação elas penetram de mansinho, mexem com o coração, inquietam a alma. Talvez porque envolvam a noção de impossibilidade. Do nunca mais. Da irremediável, irrecorrível e impraticável volta ao passado.

Trata-se de regressar ao passado, portanto, com um olhar carregado de tristeza, melancólico. Porque ele representou tanto e se perdeu nas brumas do que ficou para trás. Misturado com tanta coisa sem significado! Voltar ao que se viveu naquele tempo de coração pleno de alegria e de afeto que transbordava, mas aparecia tímido. De desejo vivo, mas contido. Da espera carregada de expectativa e encontro carinhoso.

Um tempo de satisfação renovada. Onde brigas e desentendimentos não tinham vez. Onde se conversava muito e os risos eram frequentes. Com as caminhadas na calçada e os olhares indiscretos da vizinha que espionava pelas frestas das janelas. As noites passavam rápidas e não apresentavam nada mais, a não ser um encontro bem tranquilo de duas pessoas que se gostavam. Mas não confessavam seus amores. E pareciam dois grandes amigos.

No entanto, venceu o temperamento forte e agressivo, que não deixou tempo para explicações quando soube que na cidade onde estudava, ele fora visto em companhia feminina. Não havia menção a manifestações carinhosas entre o casal. Mas foi o suficiente para que cartas e retratos fossem devolvidos. No entanto, a dor da decisão espalhou lágrimas por todos os cantos da casa. E era tão intensa que, às vezes, sufocava. Mas o orgulho era maior. Não houve respostas às tentativas de reaproximação que ele fazia. Que, na verdade, eram feitas de longe. Se um contato pessoal tivesse ocorrido, talvez as coisas pudessem ser diferentes. E o amor voltado.

Muitos anos depois a notícia de sua morte. E algo irrompeu por dentro - de saudade, de melancolia, de um pesar intenso, como se a riqueza do passado desaparecesse com ele. E, certamente, foi o que aconteceu. Era uma perda carregada de desilusão. Mas que ilusão? Alimentadas, as lembranças eram fonte de ternura, mas sem nenhum objetivo quanto a reviver o passado. Porque as impossibilidades pairavam assustadoramente, retirando as esperanças de mudança. Pessoas mais corajosas talvez lutassem e fizessem o necessário para saber a quantas andava aquele amor. E revivê-lo se fosse possível.

Talvez para muitos seja difícil deixar o passado. Esquecê-lo em um canto para se viver a vida. Então, ele ainda pode aparecer, depois de tanto tempo, com suas lembranças se esgueirando no presente. Por quê? Talvez o coração tenha razões que a razão desconhece. Relações podem ser especiais pelo afeto, pelo modo como o outro aparece na imaginação e como o belo e elegante parceiro consegue ser na realidade. São experiências que acontecem em uma fase de vida da juventude, com sonhos e esperanças vivos, pulsantes. Assim como os hormônios. Contudo, o tempo não perdoa. As pessoas se vão e com elas as lembranças.

Se falamos sobre o amor, lindas são as palavras de Pablo Neruda em seu livro “Cem sonetos de amor” XVII - “Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio/ ou flecha de cravos que propagam o fogo:/ te amo como se amam certas coisas obscuras,/ secretamente, entre a sombra e a alma./ Te amo como a planta que não floresce e leva/ dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,/ e graças a teu amor vive escuro em meu corpo/ o apertado aroma que ascendeu da terra/ Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,/ te amo diretamente sem problemas nem orgulho:/ assim te amo porque não sei amar de outra maneira,/ senão assim deste modo em que não sou nem és/ tão perto que tua mão sobre meu peito é minha/ tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.” Neruda ofereceu seu amor e o livro de sonetos a Matilde Urrutia. (11/2025/luiza)
 

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