"OUniverso
apenas finge que é feito de
matéria. Secretamente, ele é feito de Amor.”
Rumi
Quando olhamos para uma pedra,
acostumamo-nos a enxergar somente pedra. No
máximo, observamos a natureza do mineral e, com
um pouco de conhecimento, conseguimos
classificá-la por sua cor, textura e
propriedade.
Quando olhamos para uma planta,
geralmente enxergamos somente planta. Com uma
dose de curiosidade, buscamos saber a espécie e
quais são os cuidados básicos que devemos ter
com ela, para que não morra na primeira semana.
Quando olhamos para um animal, às
vezes, enxergamos somente instintos. Com uma
dose de interesse, buscamos saber como agir com
ele, para não nos colocarmos em risco, e sem
deixá-lo abandonado, no caso dos animais
domésticos.
E quando olhamos para um
ser humano, o que vemos? Sua
forma? Sua energia? Suas emoções? Quiçá seus
pensamentos? Suas crenças e anseios? Será que o
vemos por dentro?
Quando olhamos na casca do mundo,
enxergamos somente o que se mostra do lado de
fora. E nos acostumamos a ver apenas o que os
olhos alcançam. É assim que o poeta nos diz que
o Universo finge ser feito de matéria.
Acontece que, lá no
íntimo, no centro de todas as coisas, a Vida se
disfarça de afeto. É
o Amor que faz o enlace, que une as faces. E faz
com que o todo seja a parte, e a parte seja o
todo. O mistério do Uno na multiplicidade. Uma
síntese que abarca tudo.
Gostaria de te fazer, hoje, um
convite. E se voltássemos no tempo, naquela
brincadeira de infância na qual andávamos pelo
quintal, ou pela rua, recolhendo pedrinhas,
flores e sementes como se fossem verdadeiros
tesouros, que colecionávamos em uma caixinha
secreta, guardada embaixo da cama ou no fundo do
armário?!
Uma brincadeira singela, sem
muitas pretensões de sermos reconhecidos como
colecionadores de verdade. Algo que realmente
nascia de um anseio de levar consigo objetos que
passavam a ter um valor adquirido pelos olhos
atentos que os viram em algum ponto do caminho.
Era um objeto de cada vez.
Selecionados com cuidado e atenção. Eram
guardados com carinho e afeto. Cada um com seu
valor, compondo um todo. Víamos as
coisas por dentro. E gostávamos.
A pedrinha era mágica. A flor, se
colocada dentro de um livro, se eternizava. A
semente guardava um mistério: qual será a árvore
que dorme aqui dentro?
Uma caça ao tesouro diferente, na
qual revelamos, secretamente, o Amor no interior
de cada coisa, que não é só coisa, mas que tem
Alma, que sonha, e que sente.
Aline
Nascimento Freitas
Aluna e Professora da Nova
Acrópole
Lago Norte - Brasília/DF
Vídeo:Como
Abrir Mente e Coração | Lúcia Helena Galvão de
Nova Acrópole:Neste
vídeo, Lúcia Helena Galvão apresenta o que
significa estar aberto à vida e como desenvolver
virtudes como adaptabilidade, discernimento,
empatia e generosidade — para uma vida mais
plena e humana.
Livro:O
filósofo autodidata:Trata-se
da história de Hayy ibn Yaqzân, um herói
solitário aos moldes de Tarzã, que parte à
conquista do mundo. Suas aventuras alimentam a
reflexão sobre a natureza e a cultura, a
civilização e a vida "selvagem" - daí a alcunha
de "filósofo autodidata". A obra de Ibn Tufayl
mistura a tradição mística ao racionalismo,
ilustrando perfeitamente a situação da Andaluzia
medieval, que se situava a meio caminho entre o
Ocidente e o Oriente, entre a Antiguidade e a
Modernidade. Um livro que demonstra como podemos
ir descobrindo o tesouro que há em cada coisa,
em cada ser.