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ESTADÃO 18/11 _
A estagnação de Brasília: por que o terceiro
maior PIB do País parou de crescer
A capital federal registra o pior desempenho de
renda entre as UFs nos últimos cinco anos;
desemprego está bem acima da média nacional
Por Pedro Fernando Nery
17/11/2025 | 14h32
Notícia de presente
A economia acontece nas cidades, não nos países.
Esse é um dos bons insights da urbanista Jane
Jacobs. Por isso, todos deveriam se preocupar
com o que está acontecendo, ou não acontecendo,
em Brasília. O terceiro maior PIB do Brasil está
crescendo pouco.
Brasília está para a economia brasileira como
São Francisco está para a dos Estados Unidos ou
Milão está para a da União Europeia, se
olhássemos apenas para a posição das metrópoles.
A renda do Distrito Federal teve o pior
desempenho entre todas as UFs nos últimos 5
anos. Segundo o IBGE, em 2024 ela sequer tinha
voltado ao pré-pandemia. Do lado, em Goiás, ela
cresceu 30% no mesmo período — com as óbvias
ressalvas sobre a economia brasiliense ser de
serviços e a goiana de agro.
O catch-up goiano é interessantíssimo. Em 2012,
a renda média de Goiás era 47% a do DF. Em 2024,
já tinha subido para 61%. Goiânia não para de
adicionar prédios ao seu skyline, Brasília segue
engessada.
Mas não é só na comparação com a “Guiana Goiana”
que Brasília vai mal. A taxa de desemprego da
área metropolitana no último dado era 15%, mais
que o dobro da taxa nacional. A pior entre
regiões metropolitanas. Goiânia estava em 4%.
Guarde esse número: 800 mil pessoas estão no
Bolsa Família na Grande Brasília.
A cidade sofre com uma certa reforma
administrativa invisível nos últimos anos, com
redução real na folha do funcionalismo federal.
Não está claro também qual o papel do
teletrabalho nos últimos anos. O Executivo
federal liberou servidores bem remunerados para
morar fora da cidade, e muitos fugiram do alto
custo de vida ou simplesmente voltaram para suas
cidades de origem. Menos dinheiro circulando.
Quanto pesou?
O DF ganha de presente o fundo constitucional,
mas o investimento é relativamente baixo. Um
obstáculo mais óbvio, porém, são os limites
impostos pelo tombamento de Brasília e outras
normas, que limitam a construção em áreas vazias
e bem localizadas, e engessam o uso do solo ao
que foi previsto nos anos 50.
Eles impedem os efeitos virtuosos das economias
de aglomeração: com renda ainda alta entre as
capitais e elevados níveis de escolaridade, os
transbordamentos de maior densidade seriam
elevados.
Mas esse potencial fica limitado por um
tombamento racista e carbono-intensivo. Boa
parte da força de trabalho do DF é obrigada a se
deslocar de Goiás e a segregação espacial é
parecida com a de Joanesburgo. Uma área de
produtividade alta na economia brasileira em que
ainda cabem muitas superquadras e milhares de
negócios. Como Jacobs sugere, Brasília é um
problema nacional.
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