Theresa Catharina de Góes Campos

  OS ONZE LIVROS DE CERES ALVIM

São todos obras autênticas, bem pessoais, sensíveis e muito criativas: nos temas, no vocabulário, nas metáforas delicadas; na prosa de linguagem lírica e nas imagens poéticas. Uma escritora por vocação.
Consciente de sua missão no mundo. Sabe o porquê de sua existência.

Os onze livros de Ceres Alvim têm personalidade própria. Na verdade, ela faz o seu projeto, para cada livro, como um pintor executa um imenso painel artístico.

Escrevendo cada frase como se fosse um quadro a merecer uma moldura diferente, para as ilustrações que recebeu nos sonhos, vestidas de palavras, idéias e cores. Quando os personagens assumiram formas a se revelarem nas páginas preenchidas com emoções e sentimentos. Como se as lágrimas tivessem sombras permanentes, delineadas nas paredes da mente, sob a luz da percepção. Como se a vida humana e a natureza à sua volta se fundissem num único ser.

E o Tempo, como infinito, já estivesse transformado em Eternidade.

Brasília, 02 de setembro de 2006
Theresa Catharina de Góes Campos
NOTA DA EDITORA:

Ceres Alvim lançou sua décima-segunda obra - "Vertigem", no outono de 2009, como ela quis registrar na publicação. São páginas abençoadas pelo talento e, por isso, muito bem-vindas, um testemunho de sua inspiração no percurso de seu viver. As belas ilustrações, assim como a capa e a contracapa, são de Pablo Alvim.

Theresa Catharina
São Paulo, 13 de junho de 2009.

NOTAS DA EDITORA:
1) "Pau-de-arara do Céu" (1a. edição - 1977; 2a. edição - 2007)

O belo livro de Ceres Alvim "Pau-de-arara do Céu" tem ilustrações de Rosane Marie muito atraentes para as crianças... e os adolescentes e adultos que conservam a infância em seu coração. E na verdade, o texto encantador, de lírica prosa, homenageia o Correio Aéreo Nacional e as suas missões de apoio às populações isoladas pela distância e carentes de recursos. A competência da autora, ao narrar com graça, originalidade e bastante informação, inclui pensamentos de reflexão crítica e profundidade, o que indica o "Pau-de-arara do Céu" para leitura de todas as idades. Como outros clássicos da literatura
universal.
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília, 31 de maio de 2007


2) Cândida Severiana foi o pseudônimo usado, nas primeiras obras literárias, pela escritora Ceres Alvim, mãe de cinco filhos e avó de Pablo Alvim, que ilustrou a maioria de seus onze livros. Amiga, colaboradora e incentivadora de Theresa Catharina, desde 1965, já nessa época a chamava de "Therezita", como até hoje, seus familiares e amigos mais íntimos.


3) - Quem leva a Esperança?
Therezita.
A Terra está em grande perigo. Precisa de sua Voz, para salvá-la.
Desejo que este aviãozinho de papel seja o arauto de um futuro
brilhante, criativo e muito Verde para você.
Você que viu e aplaudiu o nascimento de "Pau-de-arara do Céu".
Meu abraço e amizade de sempre,

Ceres
Brasília, 7/5/2007
(Dedicatória de Ceres Alvim, no exemplar que me ofertou, da segunda
edição de "Pau-de-arara do Céu".)


A CASA DO RELÓGIO DE SOL - prefácio para Cândida Severiana

Pelas mãos de fada da autora, os leitores têm o privilégio de viajar – no tempo e no espaço – literalmente, com emoção e sensibilidade. Encontram seus personagens multidimensionais, autênticos e de grande personalidade – tanto a narradora como eles não se perdem na multidão ou agem como carneirinhos liderados cegamente (destacam-se, deixam a sua marca individual, independente, na esfera em que atuam) – e com eles experimentam os lugares e a sua cultura própria, vistos de uma perspectiva mais profunda: uma visão espiritual, enriquecida pelos laços afetivos, duradouros.
Nestas páginas escritas com sinceridade em uma linguagem de prosa que soa como poesia, a realidade não se mostra limitada, mas de acordo com a sua riqueza de tempo e de espaço; e vemos que não se pode chamar de irreal, absurdo e fantasioso aquilo que, na verdade, é simplesmente mais profundo, complexo e se desenrola no meio ambiente do espírito, que não conhece barreiras materiais ou fronteiras, sejam estas de países ou épocas. Se não somos os senhores da vida e da morte, apenas instrumentos ou marionetes nos termos do plano especial de nosso Criador, por que estabelecer limites rígidos até mesmo à nossa imaginação?
Que estas páginas sejam folheadas com carinho e lidas com gratidão – pois muitos sentem e se acovardam, desistindo de registrar publicamente a riqueza de sua sensibilidade e expressão. Esta narrativa atrai pela sua originalidade nas descrições e pela ausência de uma estrutura formal de enredo; os adjetivos não foram escolhidos por acaso e sim, com a preocupação semântica do artista no sentido de que realmente expressem plástica e graficamente a percepção intelectual da autora, ao contar suas experiências como ser humano que, eventualmente, assume o papel de turista e hóspede. Além de contribuir para o nosso enriquecimento espiritual, através de exercício intelectual que nos convida à reflexão, Cândida Severiana também se une aos que, conscientes e responsáveis, não aceitam a guerra ou quaisquer conflitos armados. A Casa do Relógio de Sol se deixa visitar pelos leitores e se revela pela simpatia de seus habitantes tanto quanto pelo que oferece com habitação; e Cândida Severiana deixou registrado que se trata de moradia que respira, vibra e adormece, com uma existência tão VIVA
como a de seus moradores.
Comecemos a leitura. Podem entrar. A casa é sua...

THERESA CATHARINA DE GÓES CAMPOS
Brasília, 31 de julho de 1987.
(Prefácio do livro “A Casa do Relógio de Sol”, de Cândida Severiana)


O "Delírio em Prosa" de Ceres Alvim

Theresa Catharina de Góes Campos, jornalista, escritora e professora universitária

Há mais de três décadas Brasília tem uma ilustre residente: a escritora Ceres Alvim, admirada e amada por seus leitores e amigos, gratos porque persistiu em encontrar o tempo e a determinação necessários para produzir obras publicadas como: "Lágrima Comprida" (1960), "Adivinhão" (1973), "Pau-de-arara do céu" (1977), "A Casa do relógio de sol" (1988), "Cantata de Natal" (1991), "Poema dentro da xícara de chá" (1992), "Matinas no portão do céu" (1993), "Um minuto celestial" (1994), "Serenata para a Boneca" (1995) e "Um navio no telhado". O delírio dos seus fãs, encontrados no Brasil e no exterior, começa pela leitura dos títulos e continua até a última página.

As quatro primeiras obras foram assinadas com o pseudônimo Cândida Severiana - homenagem à sua querida avó e madrinha. A partir de "Cantata de Natal", Ceres assinou seu nome verdadeiro e contou com a colaboração do neto Pablo Alvim de Miranda na criação das capas e ilustrações dos livros, passando a oferecê-los como presentes natalinos à sua família e a seus muitos amigos. Para o Natal de 1998, entregou-nos mais uma preciosidade literária, o "Delírio em Prosa", com projeto gráfico de Mário Viggiano.

Considerando que foi uma edição particular, com poucos exemplares, com a permissão da autora selecionamos vários trechos desse lançamento sem alarde...

É uma história de pessoas que sofrem e buscam livrar-se das dores por meio do espiritismo, da mediunidade, entretanto, o texto mostra-se religiosamente eclético, alternando realidade, surrealismo, visão interior, magia ocular que se manifesta em descrições de um lirismo encantador, o que suaviza a temática e o drama dos personagens. A minha escolha foi propositadamente subjetiva e católica romana, espelhando-se na dedicatória de Ceres no livro que recebi de suas mãos abençoadas de escritora. ("Para Therezita, um retrato de nossa gente, um pedaço de nosso Sertão. /Deus é Beleza, é Formosura!/ Um abraço e Feliz Natal 98. Da amiga e do amigo, Ceres e Pablo / Brasília, 24/12/98") Que outros leitores encontrem, também, os seus parágrafos preferidos!

(...)"Seguiram uma placa indicando Vianópolis e passaram a contornar velhos quintais, até saírem do perímetro urbano. Aí descortinaram uma linda paisagem dos dois lados da estrada reta e bem conservada. Flamboyants vermelhos floridos, fazendas organizadas, cercas bem feitas. Grandes áreas de terra sendo aradas para o plantio. A cor da terra impressionava pela beleza. Vermelha arroxeada de beterraba. Uma única árvore frondosa em toda a extensão de terra revolvida. Flamboyants amarelos começaram a surgir. Na porteira de uma fazenda, dois flamboyants floridos: um vermelho, um amarelo. Lado a lado, entrelaçando os galhos de flor. Esplêndidos! Ah, Van Gogh, se você conhecesse nossos flamboyants! - Lore pensou. As três viajantes comentavam e se encantavam com as árvores. Em Brasília o flamboyant amarelo é mais raro. Aqui é maioria."

(...) "Um trator infatigável, arando, arando."

(...) "Hoje a paisagem está domesticada."

(...) "Voltaram a admirar as ondulações de terra vermelha, fazendas, flamboyants, mangueiras, rendadas de bilros, carregadas de frutos."

(...) "Velhas árvores frondosas. Uma delas, a mais bela, cantava alto. Voz de soprano, de alto registro. De periquitos e papagaios. A árvore vestia-se toda de verde e dourado, com florinhas amarelas. Cantava a bela feiticeira da cidade dos espíritos. Da cidade delirante: ESPERANÇA. Sara estacionou o carro à sombra da cantante e dirigiram-se à pensão, logo à frente."

(...) "O que me interessa e encanta é o dom da cura. Este dom, penso que é distribuído indiscriminadamente por Deus. A católicos, protestantes, espíritas, budistas. Quando menina, conheci em Belo Horizonte um padre que tinha este dom. Padre Eustáquio. Àquela época ele já era famoso. Estive com ele. Toda a sua figura era a de um santo. Tinha o dom da cura."

(...) "A árvore com voz de periquitos cantou. Um sabiá de papo-roxo cantou."

(...) "No telhado escurecido do Centro Espírita o sabiá de papo-roxo trinou. Com suas flautas acordou a manhã. Depois a pomba-rola cantou: -Fogo-pagou! Fogo-pagou! A prima-dona cantou, emitiu seus agudos na ópera sertaneja. De seus cabelos verdes, de seu decote, dos babados de seu vestido dourado de sol voaram seres alados: jandaias, periquitos, papagaios. As jandaias em formação, como pequenos aviões, gritando muito. O sabiá do papo-roxo desceu do telhado e começou a passear pela rua. Na lavanderia da pensão, oito beija-flores revezavam-se diante de uma garrafa de plástico, enfeitada de flores. Água com açúcar."

(...) "Ao mesmo tempo, os galos começaram a cantar, a festejar a noite. A árvore cantora estava vestida de verde escuro. O céu estrelado refletia-se, brilhava nos espaços vazios de sua folhagem. Resplandecia. Um vitral de folhas, flores e estrelas. Os pássaros verde-amarelos dormindo à sombra de seus esconderijos."

(...) "Belezinha queria que a mãe lesse alguma coisa para ela: - O Salmo 91 num livrinho que ela trouxera. Lore procurou o Salmo e leu: - "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente
descansará".

(...) "De repente, o assunto mudou de rumo, derivou. Chegou à encruzilhada do Ciúme. Neusa contou que as duas, ela e Lourdes, eram mulheres de cantores sertanejos famosos. Uma dupla caipira. E passou a relatar o assédio dos fãs e a luta diária das duas com o monstro de olhos verdes chamado Ciúme."

(...) "Belezinha sentia falta de cantos e orações."

(...) "Por trás dos varais, a mangueira do quintal vizinho, exibia suas mangas sobre o muro. A árvore resplandecia de beleza. Mangas verdes, comuns, compridas. Penduradas em longos cabos, como colares e brincos. Os frutos enfeitavam a vaidade da mangueira. Os beija-flores, grandes e negros, cobertos de purpurina dourada, revezavam-se diante da garrafa de plástico. E brigavam, perseguindo-se uns aos outros. O gato faraó esticava as pernas, andava sorrateiro, sabe-se lá com que pensamentos."

(...) "Ela foi até lá e sentiu-se em seu ambiente. Amava os bichos, a simplicidade das pessoas do meio rural, suas conversas, sua postura diante da vida. Integrou-se. Encantou-se com os beija-flores."

(...) "A mãe riu. A filha se parecia ao pai, não com ela. Aventurava-se por lugares primitivos, exóticos, impensáveis para Lore. Selva, cachoeiras, casas palafitas, macacos pendurados em seu pescoço. Afeição exagerada aos bichos. Só os insetos a perturbavam."

(...) " - Esta visão é muito triste, Belezinha! Prefiro o céu dos católicos, com anjos cantando músicas de Vivaldi e Bach. Talvez um anjo tocando um trompete..."

(...) "À noite o concerto é dos cachorros. Negrinha iniciou, latindo fino e demorado. O cachorro marrom, vizinho dela, latiu duas vezes. Bem rouco. Ela continuou, insistente. Outros cachorros responderam. Até que todos os da cidade do Além latiram em coro. Galos cantaram. Um cavalho relinchou duas vezes. Chuva. Às quatro da madrugada voltaram a cantar os galos. Um respondendo ao outro, em desafios. Uma vaca mugiu duas vezes. A árvore-laranjeira floresceu, desabotoou seus botões. Enfeitava-se de pequenos buquês brancos. De noivas. Abelhas e borboletas festejavam-na. Amanheceu."

Que sensação maravilhosa a que estou experimentando como leitora: estou na cidade, diante de um computador, apenas fisicamente...minha mente, o meu coração, estão nos lugares descritos por Ceres Alvim, junto às arvores, contemplando e ouvindo a natureza!

Respirando a magia lírica da autora, pareço estar compartilhando de seu "Delírio em Prosa"... E o que mais se pode esperar de uma
escritora?

Jornalismo com ética e solidariedade.
Theresa Catharina

 

Jornalismo com ética e solidariedade.