Theresa Catharina de Góes Campos

 

UM CARA QUASE PERFEITO

O ator Ben Affleck tenta, com relativo êxito, dar uma guinada para melhor em sua carreira, em “Um Cara Quase Perfeito”, de Mike Binder, interpretando um agenciador de talentos para televisão que, não satisfeito com a natureza do seu trabalho, faz curso para se tornar escritor, o que lhe acarreta uma série de transtornos em sua vida particular.

O filme de Binder - que também atua e é autor do roteiro -  é uma comédia, com alguns lances dramáticos, que narra a história, um tanto extravagante, desse agente, Jack Giamoro (Ben Affleck), que, ao tomar aulas com o temperamental doutor Primkin (John Gleese) a fim de criar um diário íntimo, está, na verdade, à procura de meios para dar outro sentido à sua vida.

Giamoro reside com a mulher Nina (Rebecca Romjin) – uma atleta da natação – e o pai, Ben Giamoro (Howard Hesserman), já senil, numa rica residência em Malibu, a qual ele deixa todos os dias, num suntuoso carro, de executivo bem sucedido, para ir comandar  sua empresa no centro de Los Angeles, enfrentando engarrafamento de trânsito e outros transtornos da vida de uma cidade moderna. A propósito, a tradução do título mais apropriada seria “Um Homem Na cidade”.

Ao escrever o diário, porém, Giamoro, a conselho de seu impaciente orientador, mergulha em sua própria realidade, o que o leva a desconfiar que sua mulher, Nina, tem um amante. A confirmação disso, entretanto, lhe vem de forma mais avassaladora possível, uma vez que o amante dela é o maior cliente de sua empresa, o roteirista de televisão Phil Balow ( Adam Goldberg).

Apesar da estampa de homem fino e educado, Giamoro é, na verdade, impulsivo, arrogante, como qualquer juiz, recém-empossado na função, que quer exercer a magistratura menos pela observância da lei e mais  na base do grito e do faço-aconteço-e-aborreço. No caso da dispensa do amante de sua mulher da agência, porém, os  sócios de Giamoro reagem de forma negativa à sua imposição, o que o leva ao desespero.

A redação do diário, contudo, faz com que Giamoro encare os seus problemas, inclusive uma ação judicial originária de trapaças que o levaram ao topo da carreira, bem como complexos adquiridos durante a adolescência. Ele se vê obrigado a exorcizar, na cadeia, os seus fantasmas, procurando resolver daí por diante os problemas da forma mais prática que lhe parece ser possível.

Egresso da televisão – onde realizou a série “Fantasias de Homem Casado” – Mike Binder deixa perceber que sente dificuldade em trabalhar com o espaço cênico da tela grande cinematográfica, o que o leva a reparti-la em diversas imagens pequenas, como a da televisão, que reproduzem fatos sucessivos e simultâneos. Longe de ser esse um defeito, o artifício - dada a habilidade com que é manejado - acaba por criar uma dinâmica própria para sua linguagem narrativa, que ganha até certo charme.

É desse artifício que Binder se utiliza, por exemplo, para fazer o eficiente jogo de portas numa seqüência que lembra os equívocos de um vaudeville e, além disso, é dele também que decorre a harmonia de todos os elementos cênicos, como a boa ambientação, o adequado emprego de animação e o excelente comentário musical de Larry Groupé, que valoriza sobremaneira algumas cenas dramáticas do filme.

Pena que Binder não consiga explorar como devia algumas cenas cômicas, como a que envolve a jornalista Barbi Ling (Ling Bai), vingativa depois de ter seu trabalho recusado várias vezes pela agência de Giamoro,a qual ocorre num restaurante de comida chinesa, de propriedade de seus pais, que acaba de forma mais lastimável possível.

De Ben Affleck pode-se dizer que, voltando às origens de sua carreira, que foram as do cinema independente – “Procura-se Amy”, de Kevin Smith e “Gênio Indomável” de Gus van Sant – ele se livra da canastronice de suas últimas atuações para caracterizar bem Jack Giamoro dentro de uma linha discreta que lhe impôs a direção.

É evidente que o trabalho de Affleck ganha mais brilho quando ele contracena com Rebecca Romjin, que além de ser uma bela mulher, lhe dá  convincente apoio nas cenas dramáticas. Todo o elenco por sinal está bem, inclusive Binder, que faz o papel de Morty, o sócio que cuida da agência enquanto Giamoro se deixa envolver por seus problemas pessoais. Em suma, embora esteja longe de ser um grande filme, “Um Cara Quase Perfeito”, por sua linguagem cênica dinâmica e charmosa, resulta sem dúvida num bom divertimento.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Revista
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FICHA TÉCNICA
UM CARA QUASE PERFEITO
MAN ABOUT TOWN
EUA/2006
 

Direção – Mike Binder

Roteiro – Mike Binder

Produção – Jack Binder, Rachel Zimmerman

Música Original – Larry Groupé

Fotografia – Russ T. Alsobrook

Edição – Roger Nygard


Elenco – Bem Affleck (Jack Giamoro), Rebecca Romjin (Nina), Mike Binder (Morty), Jerry O´Conneell (David Lilly), Howard Hesserman (Bem Giamoro), Laura Soltis (Bárbara Giamoro), John Gleese (Dr. Primkin), Gina Gershon (Arlene), Adam Golberg (Phil Balow)

 

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