Theresa Catharina de Góes Campos

 

Educação para a Vida

Raquel Ferreira de Souza1

 

“Qual é a escola dos seus sonhos? Para mim,  é a escola que educa os jovens para extraírem força da fraqueza, segurança da terra do medo, esperança da desolação, sorriso das lágrimas e sabedoria dos fracassos.”

(Augusto Cury)

 

Na era tecnicista em que vivemos faz se necessária a produtividade alarmada, em que não se respeita a subjetividade das pessoas, no quesito mais fundamentalista em que se possa pensar, que é a essência e a construção do “humano”. O processo de ensino/aprendizagem apresenta-se “flutuante” aos olhos do educador, pois o mesmo conhece os problemas que envolvem a educação, mas não sabe o que fazer para solucioná-los.

A contemporaneidade diz que o importante é o “ter”, não o “ser”, mas a educação e a escola buscam uma construção do “ser”, do pensamento autônomo, do auto- conhecimento, da construção da cidadania.

Os educandos de hoje são diferentes dos d’antes, mudou-se tudo. E agora? Como, eu, enquanto educador, vou me comportar frente a tais mudanças, se na maioria das vezes eu as desconheço? Daí, surge a necessidade de um educador contemporâneo, preparado para o novo. O “novo” não está no futuro, é o agora; nossos alunos do agora são o presente do Brasil.

Estamos em um país que grita por pessoas melhores, mais bem preparadas para a vida, para as complexidades do dia-a-dia, cidadãs, que conhecem seus direitos, mas que também praticam seus deveres.

A expressão “educação para a vida” tornou-se  um clichê pobre que circula nas escolas, já que nem sabemos de que educação estamos falando. E de que vida? Não há como padronizar nem a educação, nem a vida. É neste ponto que voltamos à sociedade do “ser” a que tanto almejamos, pois cada pessoa é única e deve ser tratada como tal, com direito a todas as suas especificidades e individualidades. Para tanto, o professor, além de desenvoltura, tem que ser preparado. Não se pode fazer aquilo que ainda é desconhecido, é preciso  uma mudança de olhares vinda desde a escola, passando pelos educadores, alunos, sociedade e voltando, em um movimento cíclico, à escola, como reflexo de um trabalho conjunto.

Tendo já levantado alguns dos problemas presentes na educação contemporânea, atenho-me à pergunta inicialmente apresentada por Augusto Cury: “qual é a escola dos seus sonhos?” O que temos sonhado para o espaço educativo? O que podemos fazer pelo mesmo? São questões complexas, mas não tanto quanto permitir que nossos alunos sofram futuramente pelo despreparo para a vida. Despreparo este advindo da nossa parte, do nosso conteudismo, comodismo, falta de sensibilidade, falta de humanidade, falta de preocupação com o outro: o não envolvimento. Como disse Carlos Drummond de Andrade: “Cuidado por onde andas, que é sobre os meus sonhos que caminhas”.

 

Já bem diz a sabedoria popular “melhor prevenir, a remediar”, mas tudo que temos visto (de camarote – com toda a ironia que permite a expressão) é o remediar os problemas educacionais, por uma questão de falta de planejamento da gestão escolar, dos educadores, da família, do governo. Enfim, da sociedade como um todo. O conhecimento popular muito nos ensina: “quem não trabalha direito, faz duas vezes”, é o que temos sofrido. Fazemos várias vezes o que não foi bem feito na primeira. Aprovamos os nossos alunos por conveniência e transferimos os problemas de aprendizagem desses para o professor do próximo ano/série: mera camuflagem, só adiamos o problema, não o resolvemos e além disto, brincamos, mesmo que inconscientemente, com o tempo dos nossos alunos.

É fato que há vários conhecimentos que não são aprendidos na escola convencional, e sim na escola da vida; como já disse Cora Coralina: “ estudei na escola da vida, em que o tempo era o professor”. Mas também é fato que podemos preparar o aluno para as situações diversas de que ele dará conta no decorrer de sua vida. Não caminharemos junto aos nossos alunos fisicamente durante a vida, mas sempre seremos lembrados com apreço pelos mesmos, pois contribuímos para a construção e o desenvolvimento de sujeitos de razão, de emoção, de humanidade, de direitos, de deveres, outros.

Para sermos profissionais excelentes é necessário que sejamos felizes naquilo que desenvolvemos. Temos o poder de agir de forma libertadora ou de forma traumatizante e aprisionadora. Como temos agido? A educação consiste na busca de desafios, que devem ser aceitos com seriedade sim, mas com toda felicidade possível. Não podemos concordar com esta sociedade que deixa a aparência sobressair `a essência, em que julgamos nossos alunos num primeiro contato e os esteriotipamos  como se fossem mercadorias a serem rotuladas; a percepção da essência demanda convívio e tempo.

É fácil ver o erro do outro, do aluno. Quando o problema é do outro, vemos além daquilo que pode ser visto se o problema fosse nosso, ou seja, para cobrarmos respeito, dedicação, ética, atitude, desenvoltura, etc., do aluno, temos que ser respeitadores, dedicados, éticos, ter iniciativa e sermos desenvoltos. Não podemos cobrar do aluno aquilo que não somos. “Educador tem que ser educado”

 

(CHALITA); ou como já cantou Caetano Veloso “ de perto ninguém é normal”.

A educação é uma relação de equilíbrio, relações humanas, valores, sedução ao aprendizado, ou seja, é o povoar a cabeça do outro, enchê-lo de curiosidade, de vontade de saber. Olhada por este prisma, percebemos o motivo pelo qual as palavras “sabor e saber” vêm da mesma família etimológica; é porque o saber conota um sabor convidativo, é o querer sempre mais.

“Imagine uma criança num quarto escuro, pensando que toda aquela escuridão é o fim do mundo, mas de repente ela encontra o interruptor de luz e se aquieta. Pena que nem todas as crianças têm este privilégio.”  ( Cecília Meireles)

 

O aprendizado, o conhecimento e os valores se apresentam como um interruptor de luz que de repente é encontrado e traz quietude. Quando trabalhamos apenas com uma metodologia cognitiva, reduzimos nossos alunos a cópias. A necessidade contemporânea é o trabalho metacognitivo, ou seja, a visualização daquilo que se aprende no universo do aluno. O homem é um ser de razão, de questionamentos, deve saber o porquê do aprender. “Nossas aulas têm que emocionar, tocar a alma, e quando menos se espera, as palavras tomam conta de nós”( CHALITA) . O cuidado com o aluno é fundamental, pois as nossas ações podem refletir em uma vida inteira.  O ser humano tem o poder de mudar tudo, se para melhor ou pior depende apenas de nós.

O professor tem que ser entusiasmado, para entusiasmar também. Curiosamente, a palavra “entusiasmar” tem um sentido bastante interessante:

achegar-se a Deus”. Um profissional entusiasmado e feliz constrói indivíduos também felizes e motivados. Daí, surge uma pergunta que não deve calar em nosso pensamento nunca: pelo quê temos acordado todos os dias? Quais são as motivações que nos têm levado às salas de aula?

                        Certa vez, Adélia Prado disse que se pudesse pedir alguma coisa a Deus, não pediria pão de queijo; pediria fome de pão de queijo, porque sem vontade, sem fome, não adiantaria ter em mãos o pão de queijo; o mesmo ocorre com a educação, tem que ter fome de conhecimento, fome de ensino, fome de mudança.  

            Existem três tipos de vida, segundo Aristóteles, que são: o prazer, que se preocupa apenas consigo; a ética, que se preocupa com o outro e a metafísica, que é a raiz da felicidade, é quando nós  percebemos o que somos. “Para lidar com gente, tem que entender de gente, considerar os fluxos de vivências” ( BACKSON). Gente é  a imagem da simplicidade na busca da felicidade, como já disse Adélia Prado, “ se isto ou aquilo te faz infeliz não faça, só faça aquilo que te faz feliz” . Não podemos aceitar a perda da sensibilidade humana, o abraço amigo, a palavra que vem na hora certa, o carinho para com os outros, o respeito, os limites, a dignidade, etc., como sabiamente disse Paulo Freire: “Eu sou na sala de aula o que eu sou na vida”.

 

“ Na escola que sonho, os professores e os alunos escrevem uma belíssima história, são jardineiros que fazem da sala de aula um canteiro de sonhos.”  (Augusto Cury).

 

REFERÊNCIAS:

 

I-                   CURY, Augusto. Pais brilhantes professores fascinantes. Cia das Letras: São Paulo, 2002.

II-                DORNAS, Roberto. In Editorial: “Voltemos ao Be-a-Bá”. Jornal Instituto Itapoã,2006.

III-              MUSSAK, Eugênio. In Palestra: “ Educar é Liderar”. Rede Pitágoras, 2007.

IV-             PRADO, Adélia.  In Entrevista Coletiva.

V-                CHALITA, Gabriel. In Palestra: “Cognição e Valores”. Rede Pitágoras, 2007.

VI-             LUFT, Lya. In Editorial: “ Família tem que ser careta”. Revista Veja, 2007.

VII-           ZAGURY, Tânia. O professor refém. Cia das Letras: São Paulo, 2006.

 

1 Graduada em Letras pela Pucminas; pós graduanda em Arterapia em Educação pela UCAM/ RJ; graduanda em disciplinas isoladas em Filosofia pela FAJE/ MG; MBA em Gestão em Negócios (em andamento) pela UNOPAR- Contagem; professora de Língua Portuguesa da Rede Pitágoras, tutora universitária das graduações em Pedagogia, Normal Superior, Letras e Serviço Social e Coordenadora Educacional da UNOPAR- Contagem.

 

Jornalismo com ética e solidariedade.