Theresa Catharina de Góes Campos

  Faustino Vicente - Consultor de Empresas - e-mail: faustino.vicente@uol.com.br -
 tel.(011) 4586.7426 - Jundiaí (Terra da Uva) - SP

GOL DE PLACA DA GOL

Faustino Vicente*

O Brasil é, sem dúvida alguma, o maior celeiro mundial de jogadores de futebol de alta qualidade técnica. Centenas deles agregam valores a clubes dos cinco continentes, especialmente o europeu, passarela maior onde desfilam os "galáticos" do esporte mais popular do planeta azul. Entre as jogadas mais admiradas destacamos o chamado "gol de placa", lance onde o atleta demonstra toda sua habilidade artística no domínio da bola, nos dribles espetaculares, na "bicicleta", nas "pedaladas", no "chapéu" ou na ginga de corpo,lances capazes de enganar os adversários e resultar na marcação de um golaço, que poderá "imortalizar" o seu autor. Essa jogada merece uma placa no estádio onde ocorre o lance memorável. Esse segmento faz parte da economia da criatividade brasileira, a qual acaba de revelar, para o mundo dos negócios, um caso singular.

Essa façanha coube à Gol Transportes Aéreos que, com apenas seis  anos em operação, acaba de comprar a Varig, empresa que durante oitenta anos encantou os passageiros e fez a bandeira brasileira tremular nos quatro cantos da terra. Quando a Gol entrou no mercado, a aviação já apresentava turbulências mundiais, declínio da Varig e consolidação da TAM.Com uma estratégia focada no conceito "low cost, low fare" (baixo custo, baixa tarifa), revolucionou o mercado ao democratizar as tarifas aéreas. Esse fato, ratifica o estudo sobre Longevidade e Performance Empresarial desenvolvido pela Fundação Dom Cabral. "Das 500 maiores empresas em operação no Brasil em 1973, apenas 117 (23,4%) conseguiram se manter no mesmo ranking em 2005.As companhias que deixaram de existir foram derrubadas pela incapacidade de reverter decisões prejudiciais à organização, pela falta de transparência da alta gestão e por lideranças voltadas para o passado,sem visão de futuro. "Se a Gol voa em céu de brigadeiro, não podemos dizer o mesmo da aviação civil brasileira, que se debate num mar de turbulências."

Segundo o noticiário geral, aconteceu de tudo: verdades, meias verdades, vacilos nas declarações,acusações, reivindicações, recuos, revolta dos passageiros, ofensas, overbooking, ultimato e, gravíssimo, quebra de hierarquia e disciplina militar. As causas do Apagão Aéreo, pois acreditamos numa conjunção de vários fatores, devem ser diagnosticadas por uma equipe representativa de todas as  partes responsáveis pela normalidade do controle de trafego aéreo e pela segurança dos vôos no céu do Brasil. O caminho eficaz encontra-se na aplicação da metodologia contida no diagrama dos 7Ms: mão-de-obra, mercado, método, máquinas, materiais, meio ambiente e medição.

As noticias veiculadas pela imprensa nos levam a crer que em cada um desses "emes" deve haver uma, ou mais causas, do  maior "desastre" da história da aviação civil brasileira. Essa novela ainda tem muitos capítulos para chegar a um final feliz. Os prejuízos financeiros, imateriais, e da imagem do nosso país no exterior, são incalculáveis. Fatos como esses demonstraram que não há programas de qualidade assegurada, de normas técnicas internacionais, como a ISO, por exemplo, que possam impedir que o sistema seja "quebrado", quando as pessoas tomam decisões equivocadas. A excelência em gestão evidencia que as responsabilidades precisam ser apuradas para que cada um assuma as
conseqüências de seus atos.

Considerando que a demanda de passageiros deverá crescer nos  próximos anos,concluímos que uma alternativa estratégica eficaz ficou esquecida... lá no passado. A operação do chamado "trem bala", que "voa" a 300 quilômetros por hora. A população de baixa renda espera que os governantes demonstrem a mesma indignação, que revelaram diante do caos aéreo, com o atual nível da educação e da saúde pública, condição sine qua non para o ultimato na mais cruel das violências e no mais ultrajante desrespeito ao Ser humano: a miséria.

*Faustino Vicente - Consultor de Empresas - e-mail:
faustino.vicente@uol.com.br - tel.(011) 4586.7426 - Jundiaí (Terra da Uva) - SP

NOTA  DA  EDITORA:
DESRESPEITO AOS CIDADÃOS E PASSAGEIROS

A imagem de sucesso da aviação comercial brasileira agora foi substituída pelas demonstrações de que as companhias aéreas não respeitam os direitos dos cidadãos e clientes.

Se quando ocorre um problema, as empresas aéreas e seus funcionários não sabem se comunicar adequadamente com os seus clientes, isso também é uma falha grave.

Se não prestam as devidas informações a seus passageiros, nem tentam solucionar alguns problemas que estão sob a sua alçada, eis outro erro absurdo.

Se não se preocupam com o bem-estar de seus clientes, pelos quais se tornaram responsáveis, ao lhes vender passagens e prometer lhes prestar, com responsabilidade e competência, o serviço de transporte aéreo, as empresas demonstram ser negligentes, omissas, ineficazes e irresponsáveis.

Não há como se eximirem dessa responsabilidade, todas essas empresas ,
alegando que os problemas são causados por outros e abandonando à própria sorte, desesperados e angustiados, os passageiros que as contrataram diretamente para lhes prestarem o serviço de transporte aéreo.

Não há como desculpar a total omissão das empresas aéreas, que assistiram, insensíveis, sem nada fazer para minorar, ao sofrimento de seus clientes, pessoas humanas a quem deveriam e poderiam ter socorrido, prestando auxílio, assistência e acompanhamento. Não seria um favor, mas o cumprimento de um dever.

Presenciar, sem atitudes de compaixão e gestos solidariedade,o drama de
passageiros atormentados e desinformados, torturados emocionalmente, significou uma prova de desumanidade, além de ferir o princípio da honestidade, por parte de quem se comprometeu a executar, com datas e horários programados, o serviço de transporte aéreo.

Aliás, esses episódios horripilantes do chamado "apagão aéreo" contribuíram para uma situação gravíssima: o passageiro não confia mais!

Essa quebra da confiança que antes existia é um prejuízo econômico e moral. O cidadão e cliente não acredita mais nas informações das empresas aéreas, nem das autoridades que deveriam ser responsáveis pela fiscalização e punição. O desrespeito à pessoa humana, ao cidadão e cliente, passou a ser corriqueiro, rotineiro,embora absolutamente inaceitável.

E como sabemos, em qualquer tipo de relacionamento, quando desaparece o respeito, a relação se deteriora, não tem condições de se manter, quanto mais de crescer.
Torna-se um relacionamento marcado pela indignidade das condições a que se submete uma das partes e atinge a todos os envolvidos.

Com a degradação do serviço que deveria ser prestado aos cidadãos e passageiros, foi-se a qualidade de vida, a modernidade de poder se locomover com rapidez, em tempo hábil, confortavelmente, em clima de confiança.

Viajar se tornou uma "via crucis" ...quando, vítimas de chantagens covardes, não sofrem apenas as crianças, os idosos, as gestantes, os deficientes...mas igualmente os fisicamente mais fortes, também estressados e levados à exaustão.

E não podemos esquecer que tal calamidade pública - a praga desse "apagão aéreo " - começou após o acidente aéreo em que 154 pessoas perderam a sua vida. Depois que foi iniciada uma investigação. Sob suspeita: os pilotos do "Legacy" que colidiu no ar com o avião da Gol. No entanto, uma pergunta fundamental precisa ser respondida com a mais absoluta clareza: o que faziam os controladores de vôo, naquele dia e horário, quando deveriam estar acompanhando as duas aeronaves, e tomando as devidas providências, enfim, trabalhando na sua nobre missão? Aliás, por que atualmente reclamam tanto de que não podem mais usar seus celulares particulares, nem a internet, em seus locais de trabalho? Imagina-se que não seja possível atuar eficientemente como controlador de vôo e, ao mesmo tempo, estar acessando a internet ou falando ao celular...

Em qualquer circunstância, se as empresas aéreas não sabem atender com a devida sensibilidade, cortesia e responsabilidade os seus clientes, nos aeroportos e nas linhas telefônicas disponibilizadas, em situações de exceção; se os seus funcionários não se mostram preparados,treinados com eficiência, para socorrer passageiros estressados e transtornados , nas constantes ocorrências de anormalidade no serviço de transporte aéreo...

Como confiar que, durante o vôo, no ar, em eventuais situações de emergência, as tripulações terão condições técnicas, profissionais e emocionais, para agir com responsabilidade, solucionando problemas urgentes, em tempo útil e real, e atendendo às necessidades primordiais de seus passageiros?!

Desrespeitados e testemunhas de abusos regulares e repetitivos, no caos das relações com o transporte aéreo, os cidadãos, clientes e passageiros,
simplesmente perderam a confiança! O que poderia ser de mais grave que isso?!

Ganhar dinheiro pode ser fácil para empresários e administradores. Entretanto, para recuperar a confiança perdida,tarefa dificílima, sobretudo por causa das lembranças traumáticas de tantas experiências desagradáveis, será preciso uma atitude bem diferente! Além de um tempo e dedicação consideráveis, até que as feridas cicatrizem e as recordações ruins sejam substituídas por lembranças bem distantes, quase perdidas no passado, de momentos agradáveis nas viagens aéreas..

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 16 de abril de 2007

 

Jornalismo com ética e solidariedade.