Theresa Catharina de Góes Campos

 

O DESPERTAR DE UMA PAIXÃO

(THE PAINTED VEIL)

EUA- China /2006
Duração – 125 minutos
Direção – John Curran
Roteiro – Ron Nuswaner, baseado no romance Véu Pintado, de H. Sommerset Maugham
Produção – Edward Norton, Naomi Watts e Anthony Bernard
Música – Alexandre Desplat
Fotografia – Stuart Dryburgh
Editor –Alexandre de Franceschi
Elenco – Naomi Watts (Kitty Fane), Edward Norton (Walter Fane), Liev Schreiber ( Charlie Towsend), Toby Jones (Waddington),Diana Rigg (Madre Superiora), Bin Li ( Te Ming), Anthony Wong Chau Sang (Coronel Yu), Alan david (Mr. Garstin), Juliet Howland (Dorothy Towsend) e Luky Voller (Mrs. Garstin).

História comovente de paixão, infidelidade e amor, contada em ambientes contrastantes (festas da alta sociedade, em Londres e Shanghai, em oposição às aldeias chinesas atingidas por epidemia de cólera), ao som de belíssima trilha sonora e algumas cenas de fotografia deslumbrante. Gostei muito de "O despertar de uma paixão", apesar do final não ser o que o meu coração pedia.

Destaco, também, a produção, direção e interpretação; a reconstituição de época, a direção de arte, cenografia; adereços, figurinos e maquiagem. E ainda: os temas e os diálogos.

Julguei ser o filme uma narrativa realista, dramática, sem deixar de, por outro lado, tratar do amor, em suas facetas (seus estágios?) de paixão e romance.

Encontrei no roteiro outros elementos atraentes para o público: ação, clima de perigo e suspense emocional; choque de culturas; paisagens e situações incomuns.

Finalmente, concluí que eu gostei muito de "O despertar de uma paixão", inclusive porque analisei o filme, também, por critérios e valores de meu coração, comovida, sensibilizada pelo drama do casal protagonista.

Sem julgar unicamente pelos critérios exigentes, utilizados pelo colega jornalista e escritor Reynaldo Domingos Ferreira, fundamentado em seus conhecimentos e na sua experiência pessoal de dramaturgo, diretor e crítico, literário e de artes cênicas.

Emocionei-me, portanto, com a humanidade dos personagens, frágeis e fortes ao mesmo tempo, aperfeiçoados pelo sofrimento, amadurecidos no encontro com o próximo.


Gravei em minha mente aquele diálogo que responde à pergunta de Kitty, bastante ofensiva ao anfitrião:

- O que ela vê em você?

- Por que não pergunta a ela? (retruca, sorrindo, o inglês amigo do casal)

E a resposta procurada vai ser enunciada com um sorriso:

- Porque ele é um homem bom.

Fiquei convencida de que o reencontro, a aproximação sentimental e física dos personagens principais revelou o crescimento dos dois, como casal e como seres humanos de personalidades distintas, com diferentes experiências de vida: a mudança de comportamento, não apenas da esposa fútil que se transforma pelo amor, após ter sido obrigada a refletir sobre as suas atitudes indefensáveis e reconhecer a sua quase inutilidade. O marido ultrapassou seu orgulho ferido, a mágoa pela infidelidade, que o motivou, ultrajado e magoado, a dizer à mulher que se envergonhava de tê-la amado um dia.

Na verdade, penso que foi somente quando ele perdoou, que sentiu um sentimento novo - passou daquela paixão inicial (insensata, porque sabia não ser correspondido e casou assim mesmo), ao amor consciente, adulto e realista.

Aos que acusam o filme porque seria melodramático, rebato afirmando que até um melodrama pode ser uma excelente história. Principalmente porque, para muitas pessoas, entre as quais me incluo, a vida é melodramática.

As palavras de Kitty, já assumindo uma nova postura como ser humano, encerram "O despertar de uma paixão", demonstrando, com firmeza, não mais acreditar nas mentiras de um conquistador irresponsável.

Inesquecíveis, porém, foram as observações da Madre Superiora:

- Quando o dever está unido à paixão, a pessoa é realmente "abençoada".

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 26 de julho de 2007
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Ler também:

Uma das maiores histórias de amor em 130 anos de cinema está na Netflix e talvez você não tenha assistido - Revista Bula

https://www.revistabula.com/66075-uma-das-maiores-historias-de-amor-em-130-anos-de-cinema-esta-na-netflix-e-talvez-voce-nao-tenha-assistido/
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O DESPERTAR DE UM PAIXÃO - Reynaldo Domingos Ferreira

http://www.theresacatharinacampos.com/comp2131.htm

"(...) depois de descobrir o envolvimento amoroso da esposa com o amigo, ele propôs o divórcio a Kitty que, decepcionada com o amante e temerosa de um escândalo, recusou. Atingido no seu orgulho, para vingar-se dela, Walter se ofereceu como voluntário para ir trabalhar em Mei-tan-fui, um distante vilarejo chinês, assolado pela epidemia de cólera.

O filme tem início, em 1925, com a chegada do casal a Mei-tan-fui, onde tem de se instalar na única casa disponível, cujos antigos ocupantes acabaram de morrer, vitimados pela cólera. Embora vivam na mesma casa, os dois mantêm distanciamento um do outro, o que causa estranheza tanto dos criados, como do único inglês que habita a região, o comissário Waddignton (Toby Jones), que também por outro lado estranha a obsessão suicida de Walter pelo trabalho. (...)"

 

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