Theresa Catharina de Góes Campos

 

OS INDOMÁVEIS

Com qualidade de sonorização excepcional, música original de Marco Beltrami que pontua com maestria a ação e as excelentes interpretações de Russell Crowe e Christian Bale, o filme Os Indomáveis, de James Mangold, evidencia, em relação ao clássico western original em que se baseou - Galantes e Sanguinários (1957), com Glenn Ford e Van Heflin, -, que, quanto mais se vendem pela mídia corrupção e violência, mais cresce a sanha do público por grandes dramas, hecatombes e tragédias.

Pois de fato é o que se depreende, tanto da nova formatação da personagem do rancheiro Dan Evans (Christian Bale) - interpretada na versão original por Glenn Ford -, como do aumento de espaço dado à  ação em detrimento do embate de duas personalidades. Isso ocorre no restrito ambiente de um quarto de hotel de uma cidadela, enquanto Evans e o bandido Ben Wade (Russell Crowe) aguardam o trem, que levará o segundo, preso, a Yuma para ser condenado e enforcado.

Para satisfazer ao gosto do público da atualidade portanto, a personagem Evans não é agora apenas a de um rancheiro fracassado, humilhado pela família porque não consegue pagar as dívidas, tendo por isso sua propriedade sempre atacada por credores e interessados nas terras para a passagem do trilho de uma ferrovia. Pesam também sobre Evans, na nova versão, e, como manda o figurino, diversas outras desgraças.

Ambos os filmes se baseiam em história extraída de um conto, Three-Ten To Yuma (1953), de Elmore Leonard, prolífico escritor de Detroit, que já teve inúmeras obras adaptadas para o cinema, algumas com roteiros escritos por ele próprio. Essa versão atual começa com o ataque de Ben Wade e seus asseclas a uma diligência que conduz dinheiro para a ferrovia em construção.

O rancheiro Evans e seus dois filhos, William (Logan Lerman) e Mark (Benjamin Petry), conduzindo o gado, aparecem no local após o assalto, em tempo de ter rápido contato com Ben Wade, que lhes leva os cavalos. De qualquer forma, porém, pai e filhos conseguem transportar, em maca improvisada, para a vila, Grayson Butterfield (Dallas Roberts), que escoltava a diligência, ferido durante o assalto, a fim de ser tratado pelo médico Byron McElroy ( Peter Fonda).

É no bar em que pontifica a bela Emmy Nelson (Vinessa Shaw) que - talvez, influenciado por ela - Ben Wade se deixa envolver também pela conversa de Evans, o qual lhe cobra a perda de duas rezes, dando tempo assim a que as autoridades locais se preparem para prender o assaltante da diligência.  O fato é consumado. Um grupo então se organiza para conduzir Ben Wade a uma cidade distante, ao qual também se integra Evans para receber recompensa em dinheiro, tão logo o bandido seja colocado no trem que o levará a Yuma.

É dessa peregrinação do grupo – com curta passagem pelo rancho de Evans – que se ocupa grande parte da ação do filme, sob a pressão do bando de Ben Wade, liderado por Charlie Prince (Ben Forster), que vem em seu encalço e de muitos imprevistos, os quais deixam o espectador em constante tensão, pois a narrativa de Mangold, sem quebra de ritmo, é, sem dúvida, a mais cativante entre as outras anteriores, como Garota Interrompida e Fora da Linha. Ele faz boa composição de planos, captados pelas lentes de Phedon Papamichael, que destacam, principalmente, o trabalho dos intérpretes, dos quais extrai excelentes atuações.

É o caso, em primeiro lugar, de Russell Crowe na personificação de um bandido, de dotes artísticos, pois que é também desenhista, galanteador de mulheres – mesmo a de Evans, Alice (Gretchen Mol) -, que analisa a conduta de seus contendores e, se for o caso, respeita-os, mas,  sendo o contrário, elimina-os, como o faz, na madrugada, com Glenn Hollander (Lennie Loftin). O ator neozelandês demonstra que sabe perfeitamente combinar elementos vivos de sua personalidade para criar o perfil da personagem que deseja ser em cena. Ele está muito bem como o bandido Ben Wade.

O ator Christian Bale arca com a responsabilidade de recriar personagem que foi uma das mais marcantes da carreira de Glenn Ford, se bem que agora, sob nova formatação, com mais carga de dramaticidade, exija do ator um processo mais complicado de composição. E Bale se sai também muito bem da empreitada. De face rígida e evitando os clichês, ele trabalha os olhos, sempre atentos e lampejantes. Era como se estivesse a indicar a todo o tempo que qualquer descuido, para a personagem, ser-lhe-ia fatal. É, da mesma forma, uma grande atuação.

Destaques ainda devem ser dados, em termos de interpretação, a Peter Fonda, como o médico Byron McEroy;  ao jovem ator, Logan Lerman, como William, filho mais velho de Evans, num início promissor de carreira, e a Ben Forster, no papel de Charlie Prince, fiel escudeiro de Ben Wade. Em síntese, Os Indomáveis é western no estilo tradicional, refilmagem de um clássico, que tem cativante narrativa de James Mangold, primoroso trabalho de sonorização, de trilha musical e de fotografia, além de excelentes atuações principalmente de Russell Crowe e Christian Bale e que, por isso, merece, sem dúvida, ser visto.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA
OS INDOMÁVEIS
3:10 TO YUMA
EUA / 2007

Duração – 117 minutos
Direção – James Mangold
Roteiro – Halsted Welles, Michael Brandt e Derek Haas, baseado num conto de Elmore Leonard.
Produção – Cathy Konrad
Fotografia – Phedon Papamichael
Música – Marco Beltrami
Elenco – Russell Crowe (Ben Wade), Christian Bale ( Dan Evans), Logan Lerman (William Evans), Dallas Roberts (Grayson Butterfield), Ben Forster (Charlie Prince), Peter Fonda (Byron McElroy), Vinessa Shaw (Emmy Nelson), Gretchen Mol ( Alice Evans), Benjamin Petry (Mark Evans), Lennie Loftin (Glen Hollander)

 

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