Theresa Catharina de Góes Campos

 

NÃO MATEM A ESPERANÇA!

Quem já ensurdeceu de dor

não pode mais ouvir

palavras ferinas.

Quem ficou cego de tanta tristeza

e maldade que viu

hoje tem os olhos embaçados de lágrimas;

caminhos, beco e pontos se confundem.

 

O corpo geme e vacila;

a alma também;

a voz enrouquece, desiludida;

a esperança vai morrendo

e a gente vira fantasma.

 

Entontecidos e amargurados,

mas ainda procurando defender

a Fé que, apesar de tudo,

não morreu dentro de nós,

corremos, assustados e mortificados,

em busca de outros cegos,

à procura de loucos,

chamando os surdos,

questionando os mudos.

 

Brancos e negros, apesar do apartheid,

somos irmãos na dor

da desilusão que se repete.

Somos todos fantasmas da vida.

A união jamais alcançada

na alegria e no amor

hoje é irmandade de sofrimento.

 

O coração ainda bate no peito,

embora os olhos não mais sorriam.

A boca ainda emite gemidos;

não diz mais palavras de amor.

 

Os olhos conseguem chorar

e as lágrimas banham

a voz transformada pela dor.

 

Não mais importa que o sangue

corra nas veias como vertente natural.

Não mais importa que o nosso andar

pareça indicar uma vida normal.

A verdade vem à tona, persistente

como o suor que não se esconde;

já morremos dentro de nós...

porque matamos a esperança

em nosso íntimo

ao desistirmos de lutar

contra as injustiças

que não parecem nos atingir pessoalmente...

 

Theresa Catharina de Góes Campos
Dacar, Senegal, agosto de 1960.

 

Jornalismo com ética e solidariedade.