Theresa Catharina de Góes Campos

  CONDOR
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Condor
(Condor, 2007)
Origem: Brasil
Gênero: Documentário
Censura: 10 anos
Duração: 106 min.
Distribudora: Lumière
Lanc. Nacional: 30/04/2008
 

Sinopse: Uma análise do que foi a Operação Condor que, durante a ditadura, previa ligações de ajuda mútua entre os governos militares da América Latina.

Elenco: Manoel Contreras, Pinochet Junior, Jarbas Passarinho, Hebe de Bonafini

Roteiro: Roberto Mader

Produção: Tuinho Schwartz

Direção: Roberto Mader


LUIZ FELIPE FUSTAINO
Faculdade Cásper Líbero
www.facasper.com.br

Condor
Condor faz cafuné nas esquerdas
Por Luiz Felipe Fustaino, 3º ano de Jornalismo
 
Reprodução
 

Condor são dois filmes, não um. O primeiro contextualiza a operação Condor, uma estratégia armada pelos militares ditatoriais da America Latina dos anos 1970 - sobretudo de países como Argentina, Chile e Brasil – com o objetivo de realizar um intercâmbio de informações e de prisioneiros entre seus governos. O segundo traz histórias de bebês seqüestrados pelas ditaduras que migraram de um país a outro por meio desse aparelho militar integrado.

Se fossem exibidos separadamente, o Condor político e engajado seria apenas um registro histórico comprometido com um dos lados em questão, assim como todo documentário político e engajado. Já o outro, o Condor emotivo, que não se prende à questão política e aborda dramas familiares com certa sensibilidade, seria um ótimo argumento de um filme que tivesse essas pequenas histórias no centro de suas atenções. Juntos, porém, têm um efeito perverso: o lado emocional do filme parece estar sendo explorado pelo diretor Roberto Mader com o intuito de sensibilizar a platéia e legitimar a caracterização maniqueísta das personagens.

A iniciativa de contar a história da Operação Condor, cuja existência teria sido negada ou desconhecida por muito tempo, justifica o didatismo que toma conta da primeira metade do filme. Contudo, é nesse mesmo didatismo que reside o mais grave dos problemas do documentário: Mader quer explicar o que foi que aconteceu, mas se exime da preocupação de responder por que a Operação existiu.

Mader consegue responder à pergunta "como foi a Operação?" apenas porque aquele material, repleto de torturas, mortes e desaparecimentos, compromete apenas os réus de seu filme. Todavia, ao deixar de lado qual seria a razão para a criação de um esquema continental de repressão, fica a errônea impressão de que os militares são gratuitamente truculentos, ou seja, de que matam e torturam por puro instinto cruel e sanguinário.

Evitar os "porquês" da Operação sinaliza o comprometimento com as esquerdas, vitimizadas de cabo a rabo ao longo do documentário. Para respondê-los, seria preciso mostrar atitudes violentas realizadas por aqueles em quem Mader prefere fazer um cafuné. Por que não dizer que as esquerdas que combateram armadas às ditaduras na America Latina não almejavam uma democracia liberal, mas uma ditadura à sua maneira?

O verdadeiro mérito de Mader foi mostrar Jarbas Passarinho, chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações) do governo Geisel, reconhecendo a existência da Operação Condor. Tal atitude, contudo, coloca o diretor em uma saia justa. Os vilões de sua história são honestos com a História; já a caracterização inverídica das esquerdas, não. A ausência de um olhar autocrítico das esquerdas, portanto, faz de Condor um documento histórico muito frágil.

A abordagem totalmente comprometida com a vilanização dos ditadores faz com que o documentário falte com a verdade histórica. E são justamente os depoimentos de Jarbas Passarinho e Manuel Contreras, aqueles que a montagem prefere ridicularizar, que dão algum valor ao filme. Até porque são elas as personagens realmente confrontados pelo diretor. Se também colocasse as esquerdas (e a si próprio) no banco dos réus, talvez Mader não produzisse um filme tão descartável.

 

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