Theresa Catharina de Góes Campos

  ROSÁCEAS DE ESTRELAS

Ao meu querido Pai, no dia do seu aniversário.
Rio, 07 de julho de 1963

Contam. Como foi, não sei. As palavras, as circunstâncias, há muito derraparam no tempo. Hoje, não consigo nem mesmo a promessa de um retorno àqueles dias agora relembrados. Retorno ao passado, volta à infância. A custo, posso apenas concordar com a minha avó materna. Ela me conta que eu, com uns três anos de idade, já opinava sobre as eleições presidenciais. Repetindo conversas de adultos, eu dizia, até com uma certa segurança na voz infantil, mas confundindo a noção de realidade:
- Eu votei no "Duta".

Outro fato perdido no recuo dos anos refere-se à ocasião em que papai beijou minha irmãzinha caçula,Victoria, três anos mais nova que eu, e, depois, encostou seu rosto no dela por alguns minutos. Ao presenciar tal cena, prontamente pedi:

- Papai, me beije como o senhor beijou Victoria. Faça no meu rosto o mesmo que o senhor fez, igualzinho...

Se, um dia, eu beijasse com os olhos o infinito do céu e então sentisse nos lábios o esplendor de mil rosáceas de estrelas, ainda imaginaria minha infância um baú preciosíssimo, repleto de lendas verdadeiras. (Ah, a meninice que escorregou com o crescimento de nossas mãos!)

As rosáceas de estrelas não poderiam mesmo competir. Existem há séculos e pertencem a todos.

Mas a simplicidade é própria das crianças , crédulas e crentes, para quem tudo existe como possibilidade.

E o valor de um carinho de pai prolonga-se em nossa vida, repetindo-se e se fazendo presente por toda a eternidade.

A filha que muito o ama,

Therezita

lº ano de Jornalismo - 1963 -Faculdade Nacional de Filosofia, Universidade do Brasil (hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro).

P.S.
Recentemente, após a morte de minha mãe, em 14/06/08, tendo meu pai falecido em 02/02/2000, encontrei o envelope original, com o meu texto manuscrito, entre algumas cartas que ela guardava.
Meus pais me deram, desde a participação por escrito de meu nascimento, o apelido carinhoso de "Therezita", depois adotado por familiares e amigos íntimos. Quanto a mim, gosto mesmo é de usar o meu nome,Theresa Catharina, tão bem escolhido por meus pais,invocando conscientemente a proteção de duas Santas e Doutoras da Igreja Católica, Teresa D'Ávila e Catarina de Sena.

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 13 de agosto de 2008.
 

Jornalismo com ética e solidariedade.