Theresa Catharina de Góes Campos

  A REBELDIA CONSCIENTE DOS VERSOS

Mandei calar,
o poema reagiu,
disse não!


Prendi os versos,
disse "não".
O poema gritou "sim".


Brigamos sem parar
até o sol chegar.
Anoiteceu sem acordo.


Tranquei as portas,
levantei os braços,
irritada.
A poesia reclamou,
indignada.


Gritou, esbravejou, vociferou,
à madrugada tudo denunciou.
Depois, exausta, chorou
um choro que comoveu
a alvorada,
pronta a ouvir confidências.


Tentei não ver,
fingi não ouvir,
soluços e lágrimas.
Tentei ficar insensível
ao clamor dos versos
aprisionados.


Eles recorreram
a instâncias superiores,
que também me ordenaram,
sem exceção, todas,
a libertar o poema
sem mais delongas.


Aí foi minha vez de chorar,
com voz embargada,
soluços altos,
lágrimas em cascata.


Pedi, supliquei,
com mil razões argumentei.
O poema não abdicou
de seus direitos.
Continuou insistindo
em realizar
sua missão profética.


Bati pé,
usei estratégia
com cenas de histeria.
A muitas artimanhas recorri,
mas não convenci
a poesia,
mais do que determinada
a abrir caminho,
deixar as grutas,
os desertos,
e se revelar.


A rebeldia
consciente dos versos
quebrou minha resistência.


Venceu a poesia,
carente de luz,
pedindo voz,
libertando o poema
antes ignorado
porque acorrentado,
impedido de ter vida,
asfixiado, sem respirar,
nem poder voar.


Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 17 de agosto de 2008.

From: REYNALDO FERREIRA
Date: 2008/8/17
Subject: RE: A REBELDIA CONSCIENTE DOS VERSOS - Theresa Catharina de Góes Campos
To: Theresa Catharina de Goes Campos


Prezada Theresa Catharina,

Este "A Rebeldia Consciente dos Versos" é inspiradíssimo. Belo poema. Parabéns. Vejo que sua produção literária se encontra, no momento, em expansão. Que bom!... Cumprimento-a por isso!...
Forte abraço, Reynaldo


From: artemis coelho
Date: 2008/8/17
Subject: RE: A REBELDIA CONSCIENTE DOS VERSOS - Theresa Catharina de
Góes Campos
To: Theresa Catharina de Goes Campos


AMEI!!!!
Que continuem a se insurgir contra/a favor de você.

Lembrou-me um poema do Carlos Drummond de Andrade, chamado O Lutador, vale conferir.
Artemis

 

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