Theresa Catharina de Góes Campos

  "ENTRELINHAS" NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO - SP

From: Jose Araujo
Date: 2008/8/20
Subject: BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO - SÃO PAULO
To: theresa.files@gmail.com


Cara amiga Theresa,

Estarei participando da Tarde de Autógrafos dos autores do livro ENTRELINHAS, no estande da Andross Editora, que acontecerá na Bienal Internacional do Livro, no Anhembi, em São Paulo, no dia 23/08/2008,  sábado, das 16 às 17 horas, e seria um prazer ter sua presença lá para prestigiar meu humilde trabalho como escritor. A Andross apresenta suas publicações na esquina da rua O com a avenida 2 ,no pavilhão do Anhembi. Toda a programação do evento pode ser conferida no site www.bienaldolivrosp.com.br.

José Araújo
Autor e escritor

http://imagens-e-reflexoes.blogspot.com/

Segue abaixo um conto que escrevi em homenagem a todos os escritores e poetas do mundo e queria compartilhar com você:

ARROGÂNCIA E PRESUNÇÃO...

Mariléia estava limpando o quarto e local de trabalho de seu patrão, um escritor mineiro, nascido e criado em Belo Horizonte, em Minas Gerais, mas que se mudou para São Paulo, para onde veio à procura de uma chance para divulgar seu trabalho no mercado literário; e não demorou muito, com seu jeito simples de escrever e fácil de se entender, ele alcançou seu intuito e se tornou famoso, tendo seu trabalho reconhecido em vários países do mundo. Ela, uma mulher de 32 anos, solteira, sem família na cidade, trabalhava para o escritor como empregada doméstica desde que chegou à cidade grande, quando ainda era muito jovem. Léia, como ele a chamava, dormia no emprego e tinha verdadeira devoção pelo seu patrão, pois ele ensinou a ela tudo que sabia na vida, além do que, ela amava tudo que ele escrevia, era sua maior fã, mesmo que ele e o mundo inteiro não soubessem disso. Enquanto ela passava o espanador sobre o teclado do computador, ela percebeu que ele havia deixado o equipamento ligado e quando tocou numa tecla, o protetor de tela foi desabilitado e um texto apareceu.

Ela não resistiu e leu um trecho do texto que falava sobre uma ilha perdida em algum lugar do oceano, onde havia uma floresta tropical, com toda a exuberância da natureza, cheia de animais e plantas de várias espécies, um lugar paradisíaco onde foi parar uma linda jovem de 16 anos, que ficou órfã de pai e mãe num acidente de avião, sendo a única sobrevivente da tripulação. Léia leu apenas uma pequena parte do texto, mas já estava fascinada pelo enredo e não via a hora de poder ler a estória na integra, pois a cada livro lançado, seu patrão fazia questão de lhe presentear com um exemplar autografado e uma dedicatória muito especial.

Léia nunca viajou para lugar algum desde que chegou a São Paulo, mas graças aos livros escritos por seu patrão, ela pode conhecer o mundo todo, pode se emocionar com um pequeno esquimó perdido nas geleiras, pode sorrir e até mesmo chorar com a saga de uma família de onças Jaguatiricas numa tournê pela cidade dos homens, perdidas em pleno Metrô, jogadas por acaso num caminhão de lixo e depois despejadas nas lamas malcheirosas de um aterro sanitário, separadas e procurando desesperadamente se reencontrar e isso tudo, tendo como cenário uma selva diferente daquela que elas conheciam. Nela tudo era de pedra, nela o rei não era o Leão, mas sim um bicho danado e ardiloso, que destruía ou afastava de si tudo aquilo que ele não compreendia, por medo de ser superado por outro bicho, da mesma espécie que a sua.

Limpando, ela tirava cada coisa de um lugar e punha em outro, depois colocava tudo em seus lugares de origem e enquanto fazia isso, ela falava para si mesma a respeito do trabalho de seu patrão. Ela falava em voz alta como se estivesse conversando com alguém que estivesse junto com ela dentro do quarto, ela dizia que achava impressionantes as histórias e poesias que saíam daquele teclado de computador e também que ficava imaginando o que mais viria depois, porque tudo que surgia através dele, era quase impossível de acreditar que alguém pudesse ter escrito, que era fantástico, verdadeiramente impressionante!

Quando acabou de limpar o ambiente, Léia saiu do quarto e foi fazer seu trabalho nos outros cômodos do apartamento e quando ela acabou de sair, uma voz se fez ouvir:

"Eu não disse?" Disse o teclado. "É impressionante!" "Isso é o que eu sempre disse!" E ele falou isto alto e bom tom para a caneta que estava ao seu lado e para tudo que estivesse em cima da mesa do computador.

É absolutamente incrível tudo que sai de mim, contando ninguém acredita, mas quando o ser humano começa a digitar em mim, nem eu mesmo sei o que vem depois e quando vejo, coisas fabulosas surgiram de mim, unicamente de mim, para o mundo! Indignada com a arrogância do teclado, a caneta respondeu: "Você é um mero principiante!" "Eu estou aqui muito antes de você e de toda esta parafernalha que o acompanha para você poder funcionar e posso dizer que de mim, unicamente de mim, originaram-se e irão se originar os grandes personagens como príncipes histórias de ficção que previram o futuro num passado distante e que hoje, são parte integrante de nossa realidade."

"Isto sim teclado! Isto é o que é verdadeiramente incrível! É tanto, que nem eu mesma consigo acreditar quando o escritor termina de me usar para criar suas histórias e com chave de ouro, ele me usa para assinar o livro e enviar ao editor!

O teclado não poderia deixar de retrucar e respondeu: " Você é um museu! Ninguém usa mais objetos antiquados como você! As assinaturas hoje são digitais e usar uma caneta para assinar documentos já está ficando fora de moda! Já percebeu que ele não te usa há um tempão? Que há mais de uma semana ele nem toca em você?"

A caneta, muito triste e ofendida, não poderia deixar por menos e respondeu à altura: "Você é um retardado! " Você nem mesmo tem o trabalho de pensar e se o fizesse, saberia que tanto você, quanto eu, somos apenas provedores do meio e que os méritos da criação são do escritor, pois é a mente dele que cria as mais belas histórias com as mais lindas heroínas, com os mais valentes cavaleiros, com mundos mágicos e intrigantes para ilustrar seus enredos!

"Mas de qualquer forma, Sr. Arrogância, eu sou mais velha e mais experiente que você e mais ainda! Estou aqui desde os primórdios dos tempos, sou descendente direta das primeiras penas de ganso que foram usadas para escrever as primeiras palavras escritas num livro pelo homem, e isso, amigo, não tem desenvolvimento tecnológico que pague! Além do mais, não preciso de energia para funcionar, mas você, olhe só para você! Nem consegue ficar acordado se alguém desligar o computador!"

O teclado, injuriado, não deixou barato e disse: "Olha aqui, sua múmia, seu lugar é num sarcófago, dentro de alguma pirâmide nos confins do deserto! O escritor deveria enviar você via Sedex para o Egito, pois tenho certeza de que lá, nas profundezas das areias do deserto, é seu lugar!"

A caneta, mais machucada que nunca, disse ao teclado: "Babaca, insensível e arrogante!"

O teclado, é claro, não deixaria de retrucar e respondeu: "Trouxa, sensível e presunçosa!"

Ocorreu que ,naquele momento, o escritor abriu a porta de seu quarto e tudo voltou ao normal, nem um pio foi ouvido, exatamente como tinha que ser. Já era tarde da noite e o escritor tinha acabado de chegar da Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes, onde ele havia assistido a um concerto de piano com alguns amigos e o programa não poderia ter sido melhor. Enquanto ele ouvia a música tocada pelo pianista, na acústica perfeita do lugar, ele não ouvia apenas o piano, era como se ele estivesse ouvindo a toda uma orquestra e, enquanto ele observava os movimentos do pianista e se deixava levar pela magia do momento, sua mente de escritor, diante de tanta inspiração, não pôde deixar de criar.

Em certo momento, com os olhos fechados, a música que penetrava em sua alma e em seu coração o fazia voar por sobre telhados de castelos antigos e num deles, presa numa torre, vivia uma linda princesa à espera de um príncipe valente para libertá-la de sua prisão. Em sua mente de escritor e seu coração de poeta, ele imaginava os cenários da época com detalhes minuciosos e planejava uma chegada triunfal do príncipe ao alto da torre, mas essa história tinha que ser diferente das outras, tinha que ser muito mais do que especial e, quando chegasse em casa, ele iria encontrar um jeito de escrevê-la como ninguém nunca o fez, mas antes, ele precisava descansar.

Em pé, em frente ao computador, ele percebeu que o havia deixado ligado, olhou para a mesa,vendo a caneta, e falou como se eles pudessem ouvir e compreender: "Hoje eu não preciso mais de você,meu amigo e parceiro, nem de você minha amada caneta, afinal, vocês, assim como eu, precisam descansar!"

Mas ele se lembrou de que havia deixado seu casaco na sala e saiu para buscá-lo e, quando saiu, recomeçou a discussão:

O teclado, arrogante, disse à caneta: " Eu não digo sempre? Nem mesmo o
escritor vive sem minhas criações!

A caneta, desolada com a imaturidade do teclado, respondeu: "Arrogante!"

O teclado retrucou: "Presunçosa"!

Contudo, aquele foi o final da discussão porque o escritor entrou novamente em seu quarto e os dois se calaram, mas de certa forma, sentindo que poderiam ter ido dormir sem ouvir tantas besteiras, tantos insultos e dormir eles foram, porque o escritor desligou o computador, pegou a caneta e a guardou num estojo ,colocando-a no fundo de uma gaveta, mas ele, o escritor, não foi dormir como foram o teclado e a caneta. O escritor passou a noite acordado, criando em sua mente brilhante o enredo, os personagens e tudo mais para escrever sua nova história que ele resolveu que iria se chamar " O Grande Maestro" e seus pensamentos fluíam em sua mente com a força de uma tempestade tropical, como se fossem os acordes mágicos de um violino, infinitos como a vastidão do oceano, belos como o sorriso de uma criança e com a mesma voracidade com que correm as pérolas de um colar que se quebra e se esparramam pelo chão.

Ele sentia seu próprio coração fazendo parte da história que estava criando, ele, o homem, o ser humano, ao contrário do teclado e da caneta, sempre foi consciente do verdadeiro brilho do grande e único maestro e mestre de nossas vidas. Ele sempre soube que ele, com todo seu talento, nunca passou de um mero instrumento nas mãos de Deus e no fundo de sua alma, ele era feliz, porque tinha a verdadeira consciência de que todos nós, sem exceção, somos os objetos do desejo divino e por mais que estejamos preparados, por mais conhecimentos e talentos que possamos ter na vida, somos como músicos e nossos conhecimentos, os instrumentos musicais.

O escritor, o patrão de Léia, sempre soube que Deus nos utiliza, cada um com seu instrumento, para fazer tocar com sucesso, a grande orquestra da vida.

Ele, em sua humildade, com sua sensibilidade, fé em Deus e na vida, carregava ,dentro de si, o conhecimento de que, por mais que sejamos capacitados, por mais talentos que possamos vir ter a mais do que outras pessoas, não temos o direito de nos vangloriar, de nos achar superiores, humilhando e menosprezando nossos semelhantes, sem dó nem compaixão, pois o "O grande maestro" é um só e é ele quem comanda não
só os músicos e instrumentos, mas toda uma orquestra que toca em uníssono a sinfonia da vida, em suma, é ele quem comanda o espetáculo da vida.

Se alguém é merecedor de receber os louvores pelo sucesso deste espetáculo sem igual, este alguém é Deus, nosso criador.

Autor: José Araújo
 

Jornalismo com ética e solidariedade.