Theresa Catharina de Góes Campos

  SER e CONVIVER, APESAR DAS REJEIÇÕES


Rejeição que a pele corta,
registra e recorda,
também atingindo o âmago invisível,
o corpo exposto
até a ponta dos pés.
Esse devastador furacão,
a rejeição.


Rejeição repetida,
renovada,reativada,
a refletir uso e abuso,
a revelar outras rejeições,
multiplicadas, sucessivas.


Rejeição íntima,
violência emocional,
às antigas rejeições adicionada.
Não é preconceito, é calúnia.
Rejeições visíveis, explícitas,
humilhantes, cruéis.
Maléficas, mesmo implícitas,
a ferir, magoar mais e mais,
porque gratuitas, agressivas
sem razão, sem motivo aparente,
sem provocação nem racionalidade.


Rejeições contínuas, covardes
porque atingem a vítima
já fragilizada, enfraquecida,
sem poder de reação.
Rejeições em grupo,
maltratando de maneira vil
quem está só,
sem defesa.


Rejeições que provocam
outras rejeições individuais,
mas seminais,
corriqueiras,
como se nada fossem...
e ninguém as visse...
num processo de cegueira
irresponsável, voluntária.


Rejeições mascaradas,
em duplo sentido disfarçadas,
na astúcia escondidas,
hábeis na ambigüidade,
para evitar identificação
da falta de humanidade.


Rejeições que calam,
emudecem o íntimo,
a voz da vítima silenciam.
Rejeições impunes,
ainda que abusivas.
Rejeições que são recusas
à solidariedade.


Rejeições que magoam,
rejeições praticadas
como gestos habituais,
comportamentos adquiridos
de insensibilidade,
do dia à noite, sem interrupções,
enquanto durar a vida
de quem sofreu a rejeição.


Inesperadas rejeições,
um turbilhão interior
a causar desilusões,
a quebrar quem já se encontrava
alquebrada e ferida.


Rejeições
que não se consegue
da memória apagar
nem do coração extirpar.
Porque os anos, as décadas
só fazem reavivar
as calúnias repetidas
com tanta covardia.


Rejeição:negligência,
omissão nas relações,
ausência de generosidade.
Explosão de dores,
origem da lágrima,
do poema inspiração.


SER E VIVER, APESAR DAS REJEIÇÕES,
ainda que sejam afastamentos dolorosos,
separações inexplicáveis.
SER E VIVER, com o que temos,
para quem somos mostrar,
ou mesmo esconder.


Ir à fonte buscar
o alento que faltar.
Receber com gratidão
a água trazida pela roldana
como alimento de vida.
Ouvir a música que a roldana canta
trazendo devagar o presente da água,
seu estribilho, sussurros em meio ao deserto
de carências e dificuldades naturais
à sobrevivência.
Eis o essencial, reconheçamos,
que nos deve bastar,
suficiente para viver,
porque de nada mais precisamos
para ser e conviver.
Se conseguimos à fonte chegar,
a roldana movimentar,
bastará ter paciência,
continuar na persistência
de SER, dia a dia,
o que pretendemos SER.


Pode também ajudar
ir à praia procurar
as dádivas que são as conchas
que trazem sussurros do mar.
Não são ruídos, são preces,
que não precisam ser entendidas.
Basta que sejam ouvidas.


Relembre a música da roldana,
puxando a água com humildade,
cantando a mesma canção,
cumprindo a sua missão.
Pense no som que o mar
lhe oferece nas ondas
e balbucia nas conchas.
Sinta-se forte, fortalecido,
capaz de tudo, agora pronto...
Amadurecido, um renovado você,
consciente de sua condição humana,
vivendo sua dignidade como pessoa,
disposto a SER e CONVIVER.


Theresa Catharina de Góes Campos

A NECESSIDADE IMPERIOSA DE PERDOAR
(para o nosso bem ...e o bem do próximo!)
To: artemis coelho

Estimada Artemis:

Como eu consegui lhe mandar um relato bem pessoal e você me respondeu com a devida espiritualidade, fiquei encorajada a lhe enviar o meu poema SER E CONVIVER, APESAR DAS REJEIÇÕES, que considero, sem dúvida alguma, o meu texto mais sofrido, o mais íntimo, o mais revelador , o que passei décadas sem concluir nem aceitar que fosse lido por outra pessoa, sendo você a primeira a quem tive a coragem de enviar, depois de pela primeira vez publicar.
Retirei as inúmeras datas, porque eram muitas, bem antigas e recentes, assim como os inúmeros locais...e sinceramente, eu me sentiria, de fato, bastante acanhada, talvez humilhada, na verdade, devo reconhecer isso, com essas revelações...
Se alguém leu no meu site, entre tantas poesias de minha autoria, nenhum comentário até hoje recebi. Aliás, só decidi publicar depois que eu consegui escrever um título e um final "positivos", capazes de transmitir, como eu venho me empenhando durante toda a minha vida, a esperança cristã para SER E CONVIVER, APESAR DAS REJEIÇÕES.
Que o meu registro possa ajudar, se porventura um indivíduo qualquer viveu (ou ainda experimenta) essas situações.
Sobre o perdão tão difícil de conceder com generosidade aos que nos magoam cotidianamente, presentes ou na sua ausência, garanto apenas que me disciplinei a ter o hábito de, pelo menos duas vezes por dia, fazer orações pedindo a Deus pelo bem, nominalmente, dessas pessoas...
Aqui encerro esta mensagem, contando com a sua compreensão, pois se trata de um assunto sempre penoso, além de íntimo demais.

Abraços afetuosos de
Theresa Catharina

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2008/12/5 artemis coelho

Olá, Theresa,

Lamento muito por sua tia. É dor para quem fica, libertação para quem vai. Mas é difícil. (...)
Deus sabe que sim, pois tudo vê e a todos retribui com justiça, e é Dele que vem seu conforto. E quanto mais você perdoar, mais você receberá, quanto aos que insistem no caminho da maldade. 'Não é de hoje' que Deus os observa, e, como a própria Palavra nos diz, "coisa terrível é cair nas mãos do Deus vivo".
Mas isso é só com Ele.
A nós nos é 'ordenado' perdoar. E sei que você faz isso um pouco a cada dia. E testemunhe, para Glória de quem lhe possibilita a proeza. Fica com Jesus, que nunca te deixa e que te ama.

Forte braço
Artemis


From: artemis coelho
Date: 2008/12/6
Subject: RE: SER E CONVIVER, APESAR DAS REJEIÇÕES
To: Theresa Catharina de Goes Campos


Caríssima Theresa,
Obrigada pelo privilégio de seu tão belo e doído poema, doído, mas alentador, como um farol na escuridão a mostrar o caminho aos que perdem por um momento a rota do amor e do aconchego do lar.
Um amigo muito querido escreveu que as 'lágrimas de hoje são adubo para alegrias no porvir'. Isso é lindo e verdadeiro.
Em Deus, que é nosso eterno farol e nossa capacidade para reconhecê-Lo,
abraço-a com carinho.

Artemis


De: Heloisa Guimaraes
Assunto: Re: Envio meus versos mais sofridos, que saíram à luz porque vislumbrei poderem ajudar algumas pessoas, depois que encontrei um final positivo.
Para: "Theresa Catharina de Goes Campos"
Data: Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009, 15:46


Querida Theresa Catharina,

A leitura atenta do seu sentido poema confessional SER e CONVIVER, APESAR... me deixou muito tocada, pela funda sinceridade na exposição de sentimentos íntimos, tão dolorosos, quais sejam os provindos de ingrata e cruel REJEIÇÃO - inteiramente infundada em todos os seus aspectos, como bem sabemos os seus fraternais amigos, conhecedores dos notáveis testemunhos de retidão de caráter e de generosidade que os seus atos estão sempre a nos oferecer, sem quaisquer desvios.
Mas é confortante divisar-se, ao final daquelas sofridas linhas poéticas, a bravura com que você logra alcançar - em triunfal conclusão - a sábia e apaziguadora conscientização da dignidade que é atributo inafastável do ser humano, nesta condição propício ao ilimitado engrandecimento espiritual e moral, pela via do exercício enaltecedor do SER E CONVIVER. Que soberbo "gran finale" para tais reflexões!
Sendo assim, veja que nunca se poderá sentir desamparada. Como você justamente discerniu: há uma indestrutível FORTALEZA nesse SER E CONVIVER, sob as bênçãos divinas.

Com o afeto sincero, da amiga
Heloisa Helena
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Querida amiga Heloísa:

Só posso voltar a repetir que suas belas palavras nasceram de sua permanente bondade. São, antes de tudo, um bálsamo generoso para o meu coração.
Você interpretou com tanta sensibilidade, de forma correta e maravilhosamente os meus versos, de modo especial as estrofes que revelam a compreensão de que podemos ser maiores que as nossas dores, superando nossas lágrimas, aprendendo com os nossos sofrimentos.
Para isso viemos a este mundo, marcado por tantas fraquezas e imperfeições, mas bem inferiores à vida maior que temos em nós.
Porque viemos da Luz , somos luzes, em nosso potencial de vitórias e realizações.

Com a gratidão de sempre,
Theresa Catharina

 

Jornalismo com ética e solidariedade.