Theresa Catharina de Góes Campos

  AS VEIAS INVISÍVEIS DO CORAÇÃO


Onde e como tocar
as veias invisíveis do coração?
Cadê o mapa, cadê?
Sei não, como chegar
a meu coração descontrolado...


Onde estão os caminhos?
Quem tem os roteiros,
as palavras e os cantos?
Ele não sabe, nem eu...
Nem eu sei ! Sei não...
Como vou saber?
Já vou logo dizendo
que não sei mesmo
o coração decifrar.


Se o coração vive escondido,
só perguntando, sem responder,
como se pode qualquer coisa saber
dessas veias invisíveis
que os olhos não vêem,
as mãos desconhecem?
É muito mistério, enigma demais
pra minha cabeça inquieta,
que vive se recusando
a brigar com o coração!


Por que tanto medo de enfrentar
quem não se vê nem ao luar,
nem quando o sol chega
para também tentar?
Por que a mente não esclarece,
não abre o caminho?
Sei não, sei não...
Eles não sabem, nem eu!


Como chegar a uma decisão,
fazer um mapa, um roteiro,
se o coração não fala,
só faz bater, bater,
pulsar, pular como louco,
sem nada para dizer,
tão escondido como a semente
do fruto, da árvore e da flor?
Sei não, é mistério...
Ela não sabe, nem eu...


Se ninguém me contou...
nem chave eu recebi
para abrir a tal porta
que se diz haver no coração,
como vou encontrar
essas veias invisíveis do coração?


Como eu saberia,
se não vi mapa nem roteiro
dessas veias invisíveis do coração?
Sei não, sei não, acho que não...
Acho que sim, ou não sei não...
Vá desistindo de me pressionar
porque não adianta insistir...
Não tenho resposta
porque nem há como perguntar!
Sei não, não sei mesmo...
Estou ainda por descobrir
se há música escondida
nos meandros do coração.
Talvez sim, talvez não,
vou apurar os ouvidos...
Nada sei, reconheço,
sei não...sei não...


Se tantos não sabem
o coração decifrar,
como vou eu saber?
Acreditem: eu também não sei!
Eles não sabem, nem eu!
Deve ser mesmo muito difícil,
em qualquer idade e lugar,
um coração entender!


Theresa Catharina de Góes Campos
Água Preta, Pernambuco, fevereiro de 1962

(Estávamos sentados na varanda de uma residência, em Água Preta, um lugarejo onde a família nos oferecera hospitalidade, em apoio ao movimento estudantil do qual fazíamos parte, como líderes da entidade estadual pernambucana. Conversávamos baixinho, para não perturbar os donos da casa, nossos anfitriões, de quem já nos tínhamos despedido, com palavras de agradecimento, pois precisavam dormir e, no dia seguinte, realizar os seus trabalhos rotineiros. Dulce, Ricardo e Paulo Gileno, assim como eu, tentávamos não adormecer, apesar de muito cansados, porque o trem passaria de madrugada, antes do alvorecer, e precisávamos regressar a Recife. Aquelas horas no alpendre, tão agradáveis, apesar da fadiga, foram momentos de confidências partilhadas na maior confiança. Quando um cochilava, os outros ficavam atentos... Ali, no alpendre, éramos jovens idealistas, unidos também pela amizade... às vezes amadurecidos e fortes, outras vezes bem frágeis...)

Theresa Catharina
 

Jornalismo com ética e solidariedade.