Theresa Catharina de Góes Campos

  Publicado no Diário de Pernambuco, segunda-feira 27 outubro 2008, p.A-11:

BÊNÇÃO PARA TELEMARQUETEIROS

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Virou motivo de gracejo lá em casa. Toca o telefone. Um de nós
advinha: "lá vem o Santander". Com ares de secretária protegendo o
patrão, digo que o procurado não se encontra no momento, pode deixar
recado. Perguntam a que horas podem encontrá-lo. Se eu disser que não
queremos comprar produto algum, voltam a telefonar, trocando de
assediante – se o primeiro foi voz de homem, o segundo será de mulher
e vice-versa. "Santander" tornou-se símbolo do assédio comercial
telefônico, mas pode ser também a Abril e mais uma meia dúzia de
insistentes a clamar por nossa anuência ao ato de venda pretendido.

O inviolável espaço privado, poeticamente conhecido como "o recesso
do nosso lar", tem sido violado por duas pragas: telemarqueteiros e
excesso de som dos marqueteiros de rua com suas carrocinhas,
bicicletas e caminhões. Enquanto a zoeria dos vendedores de rua conta
com a complacência das autoridades, a importunação dos
tele-vendedores tem sido alvo de gozações na Internet, com paródias e
sugestões de revanche, entre as quais azucriná-los de volta com a
mesma impostação de voz, ou delongar-se para gastar o tempo deles e
fazê-los desistir de nos atanazar. Discordo dessas sugestões pelo
respeito que tenho por quem trabalhe honestamente para ganhar o
próprio sustento.

Não há hora conveniente para telemarqueteiro chamar. Na residência é
sempre invasão de privacidade. No celular, é abuso. No escritório, é
boicote do trabalho alheio. Ninguém quer atender ao telefone para se
deparar com ofertas de produtos. Elementar, meu caro Watson. Não
obstante, telemarketing (ou marquetingue, segundo Luiz Fernando
Veríssimo) deve dar bons lucros, senão já teria se acabado, em vez de
florescer, proliferar, passar de epidemia a endemia. Certamente
conseguem convencer uma minoria do outro lado da linha, pois é preciso
somar "dois" para o amor, a briga ou a venda e compra. E a minoria que
se deixa fisgar deve ser significativa o bastante para sustentar essa
forma de venda por atazanamento.

Telefonista de telemarketing está entre as profissões mais
estressantes, pelos numerosos foras que levam, muitas vezes,
grosseiramente; pelo alto número de nãos (ato de rejeição), até
conseguirem um sim (ato de aceite da proposta). Minha empatia por eles
não apaga, porém, o fato de que seus telefonemas são tão irritantes
quanto mosca ao redor do nariz e muriçoca ao pé do ouvido. São ladrões
do nosso tempo e do sossego domiciliar.
A fim de não pagar o mal com o mal e para reagir com positividade a
situações desagradáveis, encontrei uma forma curta e fina para
encerrar o diálogo indesejado com os telemarqueteiros. Quando ela ou
ele começa o seu discurso padrão, respondo: Meu anjo, a única coisa
que você vai conseguir de mim é uma bênção. Deus o (a) abençoe. E
desligo imediatamente. Melhor bênção do que bronca. Algumas vezes,
ainda dá tempo de ouvir um surpreso "Amém".

Cara amiga jornalista e escritora, Tereza Halliday, mas que artigo positivo, atual - realmente precioso! Absolutamente original, cristã, a sua sugestão de como nos "comunicarmos", ou melhor, comunicarmos o nosso direito de dizer "não", mas sem desrespeitar o próximo que, reconhecemos, está fazendo o seu trabalho e tentando ganhar a vida, o sustento para si e os seus!
Parabéns, felicitações sinceras, do fundo de meu coração!

Com a estima e a admiração da colega
Theresa Catharina
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De:"Tereza Lúcia Halliday"
Para: Theresa
Data:Thu, 13 Nov 2008 13:40:06 -0800 (PST)
Assunto:Sobre Telemarketing


Querida Theresita:

Por tratar-se de texto positivo e de assunto que incomoda a tanta gente, compartilho no anexo, matéria minha publicada recentemente no Diário de Pernambuco.

Um carinhoso abraço,
Tereza Lúcia

 

Jornalismo com ética e solidariedade.