|   | 
								 A TROCA 
								 
								Ao abordar, em A Troca, dois temas que mais o 
								atingem 
								emocionalmente – violência contra crianças e 
								corrupção policial – 
								Clint Eastwood faz sutil referência à mudança 
								que pode se operar nos 
								EUA, após o dia vinte deste mês, com a posse de 
								um novo presidente, 
								Barak H. Obama, em busca do pleno estado de 
								direito, o que fica 
								positivado principalmente pela última frase 
								proferida pela 
								protagonista Christine Collins (Angelina Jolie) 
								: - Eu tenho 
								esperança!... 
								 
								Assim, o título original do filme deve ser 
								interpretado mais no 
								sentido de mudança do que propriamente de 
								permuta secreta de criança, 
								uma vez que a sra. Collins, além de sofrer no 
								plano individual um 
								forte abalo pelo desaparecimento do filho – o 
								que seria uma alusão aos 
								efeitos do atentado terrorista de 11 de setembro 
								de 2001 sobre a vida 
								do cidadão americano -, se torna vítima da 
								arbitrariedade policial, 
								posta a cobro, ao final, pela prevalência da 
								justiça. 
								 
								Sobre esse aspeto político da película, que em 
								nenhum momento, 
								entretanto, resvala para o conceitual, há uma 
								frase bastante 
								elucidativa de uma das personagens, dita no 
								decorrer da ação: - Lá 
								fora está chovendo canivetes e democratas!...Sob 
								o aspeto estético 
								também Eastwood usa o vaivém dos bondes pelas 
								ruas de Los Angeles – 
								magnificamente reconstituída em suas 
								características urbanas na década 
								de trinta – para mostrar como o indivíduo é 
								levado, no estado 
								republicano, democrático, ao léu da sorte sob o 
								jugo dos mais 
								comezinhos interesses eleitoreiros dos 
								políticos. 
								 
								Mas Eastwood não deixa ainda de fazer belo 
								elogio à ação ilusória 
								do cinema que restaura nas pessoas o prazer de 
								viver e de prosseguir 
								na luta contra as adversidades que se lhes 
								apresentam, pois, a sra. 
								Collins se sente capaz de, em 1934, apesar de 
								todos os reveses por que 
								passou, recusar convites de colegas para 
								festejar a entrega do Oscar a 
								fim de ficar sozinha, empolgada, torcendo pelo 
								filme de sua 
								preferência: Aconteceu Naquela Noite, de Frank 
								Capra, o primeiro a 
								ganhar cinco estatuetas. 
								 
								Há, da mesma forma, expressiva referência ao 
								western, uma constante 
								na gloriosa carreira de Eastwood, quando 
								policiais, isentos do esquema 
								de corrupção, que enxovalha a Polícia de Los 
								Angeles da época da 
								grande depressão econômica, envergando capas 
								como as dos justiceiros 
								de diversos filmes do gênero, vasculham um 
								fosso, no deserto, para 
								encontrar, finalmente, orientados por um 
								sobrevivente, Sanford Clark 
								(Eddie Alderson), os corpos de dezenas de 
								meninos assassinados por um 
								psicopata, Gordon Northcott (Jason Butler Harneh). 
								 
								Além de haver criado um tema musical apropriado 
								para pontuar sua 
								narrativa, seca e objetiva, mas brilhante, 
								Eastwood explora efeitos de 
								iluminação não só para destacar a atuação de 
								alguns intérpretes - de 
								poucos nomes famosos, à exceção de Angelina 
								Jolie e de John Malkovich 
								(Rev. Gustav Briegleb) ao contrário do que 
								ocorria em Sobre Meninos e 
								Lobos, com o qual o filme tem ligação pela 
								temática -, e para 
								reproduzir o clima sombrio das películas 
								dramáticas da época. 
								 
								Todas essas nuanças, ditas históricas, de A 
								Troca – que não deve 
								ser confundido com o filme do mesmo título do 
								diretor canadense Paul 
								Medak - estão também expressadas na ambientação, 
								no figurino de 
								extremo bom gosto e, principalmente na bem 
								cuidada maquiagem dos 
								atores. Destaca-se, nesse caso, a de Jolie que, 
								para criar sua 
								personagem, além de seguir à risca as 
								determinações da direção, deixa 
								transparecer, em alguns momentos, haver calcado 
								sua composição – a 
								mais inspirada até agora de sua carreira - na de 
								Olívia de Havilland 
								em A Cova das Serpentes, de Litvak. 
								 
								O que prejudica o filme é o roteiro de J. 
								Michael Stracynski, 
								baseado em fatos reais, mas de estrutura linear, 
								que, para concretizar 
								o recado político, falha na conexão de um crime 
								famoso ocorrido na 
								época, na região de Los Angeles, com a história 
								de Christine Collins, 
								mãe solteira, telefonista, que se dedicava com 
								afinco à educação do 
								filho Walter (Gattlin Griffith), desaparecido no 
								dia 10 de março de 
								1928, um sábado, enquanto ela fora trabalhar 
								para substituir uma 
								colega. 
								 
								A partir daí, Christine se torna vítima do 
								Capitão J. J. Jones 
								(Jeffrey Donavan) que comanda o poderoso esquema 
								de corrupção policial 
								da cidade, vigorosamente atacado pelo Rev. 
								Gustav Briegleb, do púlpito 
								de sua igreja, cujas palavras, divulgadas pelo 
								rádio para a 
								comunidade, são de valores universais, isto é, 
								se ajustam não só à 
								triste realidade de Los Angeles na década de 
								trinta, mas também à de 
								todos os quadrantes, principalmente à nossa dos 
								tempos atuais. 
								 
								REYNALDO DOMINGOS FERREIRA 
								 
								ROTEIRO, Brasília, Revista 
								
								www.theresacatharinacampos.com  
								
								www.arteculturanews.com  
								
								www.noticiasculturais.com  
								
								www.politicaparapoliticos.com  
								
								www.cafenapolitica.com.br  
								 
								FICHA TÉCNICA 
								A TROCA 
								THE CHANGELING 
								EUA/2008 
								 
								Duração – 140 minutos 
								Direção – Clint Eastwood 
								Roteiro – J. Michael Straczynski, baseado em 
								fatos reais. 
								Produção – Brian Grazer, Ron Howard, Robert 
								Lorenz 
								Fotografia – Tom Stern 
								Trilha Sonora – Clint Eastwood 
								 
								Elenco – Angelina Jolie (Christine Collins), 
								John Malkovich (Rev. Gustav Briegleb), Gattlin 
								Griffith (Walter Collins), Jeffrey Donavan 
								(Capitão J.J. Jones), Eddie Alderson (Sanford 
								Clark), Jason Butler Harneh (Gordon Northcott), 
								Amy Ryan (Carol Dexter), Michelle Martin (Sandy). 
								NOTA DA EDITORA 
								 
								Estimado Reynaldo: 
								 
								Meus agradecimentos por ter enviado seu 
								EXCELENTE artigo sobre A Troca. 
								 
								Um texto maravilhoso: além de informativo, com 
								análise profunda da 
								forma e do conteúdo do filme, e igualmente, 
								fazendo uma interpretação 
								abrangente, envolvendo questões fundamentais - 
								históricas - referentes 
								ao passado, aos tempos atuais e ao futuro de 
								esperança que aguardamos 
								com a posse de Obama, nos Estados Unidos. 
								 
								Você nem precisa de meus parabéns, entretanto, 
								faço questão de 
								apresentá-los a você. 
								 
								Na verdade, tenho o privilégio e a honra de 
								contar com a sua 
								colaboração regular, enriquecendo, 
								generosamente, o conteúdo de meus 
								sites. 
								 
								Muito obrigada! 
								 
								Abraços cordiais de 
								Theresa Catharina  
								From: adfalcao 
								Date: 2009/1/15 
								Subject:A TROCA - Reynaldo Domingos Ferreira 
								To: "theresa.files" 
								 
								Theresa, agradeço sua gentileza de enviar-me os 
								comentários sempre excelentes de nosso amigo 
								Reynado. Um abraço, Ana  | 
								  |