Theresa Catharina de Góes Campos

  MINHAS RAZÕES PARA ESCREVER


Espalhei poesia na minha vida,
pintei com versos as lembranças
esculpidas, construídas, mas
adormecidas no coração silencioso.
Talvez por anelar que a mesma poesia
respingue de versos a vida de outros.


Fiz chover poesia nos meandros,
nas grutas azuis e nos labirintos
de meu íntimo, quiçá para curar,
quiçá para recordações reavivar,
de tantas paisagens, esquinas...
ruelas e cidades de encantadoras,
charmosas praças visitadas.
Coloquei ritmos e rimas
em todas essas lembranças.
Aspergi de versos os canteiros,
borrifei de poesia as flores cultivadas.
E não deu outra coisa: os caminhos
floresceram em cores de poesia.


Tudo isso digo para confessar:
escrevo porque sou/permaneço
frágil e temporária, até assustada
com a mortalidade dos entes queridos,
o desamparo de nossa condição humana.


Escrevo porque sou
forte, consciente, plena
de fé na imortalidade potencial.
Porque sou e permaneço
muito determinada.


Mais facilmente eu diria
a pura verdade, sem mais
nada alegar...nem justificar.
Teria razão se eu dissesse,
simplesmente, sem rodeios:
escrevo porque não consigo
parar de escrever, silenciar
de todo o meu teimoso coração.


As palavras me acordam
com vigor e suavidade
no seu chamado ao papel,
à caneta, à máquina de escrever.
Pela mão me tomam, resolutas
palavras e versos de poesia.
O meu coração tocam,
meu intelecto direcionam,
escrever me obrigam...
pode crer, não duvide...
porque é a pura verdade
dos escritores e poetas.


Quando as palavras me acordam,
às vezes começo a sonhar!
Quando no íntimo silenciam,
já iniciei meu discurso ousado.
Como se fosse dona do mundo,
quando apenas sou escriba,
jornalista não-alienada,
com ideais e metas a realizar
sem demora porque já são
tardios e devidos, prometidos
a mim mesma, a primeira pessoa
a quem dei minha palavra.


Escrevo porque as palavras
também me correm nas veias.
Os versos pulam dos olhos
onde as lágrimas marejam
e a poesia escorre pelo rosto,
chamando a prosa para conversar,
convocando textos e mais textos.


Escrevo porque sou,
porque eu quero ser.
Porque meus olhos vêem,
os ouvidos escutam,
a boca - aberta ou fechada,
deve cumprir sua vocação,
sua missão humanista.
Ou silenciar...para refletir,
sonhar com o silêncio
do amadurecimento necessário.


Que a poesia, os versos, as palavras
pelo mundo afora com amor aspergidas
me façam crescer (e aos outros, também).


_ Ei, tenho algo a lhe dizer:
vamos acabar com tanta lenga-lenga,
pois a poesia existe, não precisa
de tanta explicação...por favor
trate de aprender a fazer haicais,
para encerrar esse longo discurso
seu (relatório, depoimento, sei lá!),
com versos precisos, enxutos.
Não demore a fazer isso, porque
preciso fugir, antes que o texto
lhe venha reclamar atenção
(como me fez confidência).
Uma prosa com ele, há muito
lhe é devida e prometida.


Faço poesia porque
a mim não me dá trégua,
não quer largar do meu pé!


_ Do seu pé não vou largar,
enquanto você viver.
Não vou sair de seu lado,
não vou largar do seu pé!


Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília-DF, 07 de março de 2009.

From: adfalcao
Date: 2009/3/8
Subject: Re: MINHAS RAZÕES PARA ESCREVER
To: "theresa.files"


Querida Theresa,
Realmente você respinga de versos nossas vidas ao reviver lembranças, hoje postas em palavras, lembranças que nos remetem a tantas outras, pessoais. Só que você tem o raro dom de encontrar as palavras, as rimas e os sons e arrumá-los harmoniosamente para nosso encantamento. Obrigada.
Ana

 

Jornalismo com ética e solidariedade.