Theresa Catharina de Góes Campos

   Alexandra
(Aleksandra, 2007)

» Direção: Aleksandr Sokurov
» Roteiro: Aleksandr Sokurov
» Gênero: Drama/Guerra
» Origem: França/Rússia
» Duração: 95 minutos
» Tipo: Longa
»
» Sinopse: Alexandra Nikolaevna vai visitar seu neto, um dos melhores
soldados russos de sua unidade, em serviço na Chechênia. Chegando ao
acampamento, descobre um novo mundo, sem conforto e calor humano.
Neste ambiente preponderantemente masculino, a vida é miserável e
ninguém expressa seus sentimentos. Com sua sinceridade e seu espírito
independente, Alexandra transforma a rotina do campo militar. Ela faz
perguntas, conversa com os soldados e vai até a cidade, onde encontra
mulheres chechenas, constatando que não são diferentes dela.

» Palavras-chave: exército, família, velhice

Elenco ::.
- Ator/Atriz Personagem
- Galina Vishnevskaya (Aleksandra Nikolaevna)
- Vasily Shevtsov (Denis)
- Raisa Gichaeva ( Malika )
- Andrei Bogdanov -
- Alexander Kladko -
- Aleksei Nejmyshev -
- Rustam Shahgireev -
- Evgeni Tkachuk -

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Filme: Alexandra

Michel Simões, setembro 29, 2008 9:06 AM
(Aleksandra, 2007 - RUS)



Pode-se olhar aos noventa minutos de duração e com incomodo afirmar:
Nossa, não acontece nada! Não deixaria de ser uma interpretação, já
que a octogenária avó que cruza a Rússia até se alojar numa base
militar na Chechênia só para matar um pouco da saudade do neto, não
poderia oferecer seqüências ágeis, por exemplo, ou numerosos
conflitos. Aleksander Sokurov praticamente nos coloca na pele daquela
senhora (Galina Vishnevskaya), de andar vagaroso, de necessidade de
sentar-se e descansar a todo o momento porque as pernas doem, de
sabedoria adquirida pelas experiências de vida. Nunca se esteve tão
próximo do exército, de suas rotinas (dormir mal naquele calor, limpar
as armas), do dia-a-dia pacato; com sua câmera complacente enxergamos
desde as lindas seqüências em que a senhora caminha pela base militar
naquele terreno árido de chão de terra batida, até a descoberta de
cada alojamento (a sensação de documentário é forte), onde se come,
onde se dorme, onde se lavam as roupas. Trata-se de um filme de laços
familiares fortes, avó e neto discutem a família, como toda senhora
ela cobra que o rapaz se case, ele escancara que a mãe sempre teve
necessidade de um afeto materno. Ela afirma que ele tem o cheiro bom
de homem, que todos os homens são maravilhosos.

O maior vôo do filme é o passeio de Alexandra pela pequena comunidade
da região, e de forma discreta Sokurov escancara a realidade e traz a
tona outro lado do conflito (o que resta depois da guerra, as
construções e pessoas). Os prédios parcialmente destruídos, em ruínas,
a população local vive da venda de artigos para o exército (cigarros,
biscoitos, botas) em pequenas barracas pela rua, o que se vê não é
ódio, mas uma espécie de consentimento pela realidade. Um garoto
afirma que só queria que os russos fossem embora e os deixassem em
paz, Alexandra no alto de sua sabedoria diz que as coisas são mais
complicadas que isso. O que o cineasta quer não é criticar esse ou
aquele, identificar culpados, seu filme seguindo essa senhora é um
documento sobre as relações pessoais, sobre a exposição dessa
realidade que se vive todos os dias, sobre os efeitos de uma guerra
combatida por jovens imaturos e despreparados em entender a
inutilidade daquilo tudo.

 

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