Theresa Catharina de Góes Campos

  DIPLOMA...PARA QUÊ?

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27 de Abril de 2009

Artigo 21/04/2009 | 14:00
Diploma... Para quê?

*Sílvio Teles

Imagine-se lendo um jornal. Você gosta da forma como o redator conduz
as palavras. As reportagens são bem contadas e você até visualiza a
cena descrita nas linhas. Depois, você liga a TV. Um rosto bonito
apresenta, da bancada, o telejornal. Sua dicção e texto, invejáveis.
Irrequieto, você vai ao computador e, num site, lê as notícias.
Curtas, leves, informativas. Clica, comenta, opina. Você até envia
notícias... Não importa quem escreveu ou apresentou as matérias, você
se sente informado. Não lhe preocupa se, ali, alguém tem ou não o
diploma de jornalista. Até mesmo porque você supõe que todos tenham.
Têm?

Eis o ponto em discussão no Supremo Tribunal Federal por esses dias: é
necessário diploma para o exercício do jornalismo? Em plena era do
webjornalismo, quando, cada vez mais, leitores e jornalistas trocam de
papéis, através de blogs ou de seções como “você faz a notícia”, e
quando outros milhares de profissionais atuam nas redações, sem sequer
ter graduação em nível superior (por força de decisão do STF, de
2006), a Justiça está a um passo de decretar a desnecessidade do
“canudo de papel” para se formar opinião. A polêmica reside no
princípio constitucional da livre expressão da atividade intelectual e
da comunicação, considerado ferido com a exigência do diploma.

Acredito ser uma questão de credibilidade. Assim como o diagnóstico
médico é mais convincente que o do curandeiro e o laudo da perícia é
superior à prova testemunhal, ao relato jornalístico profissional
reputa-se maior confiança que ao popular. Fora os motivos técnicos,
porque o médico, o perito e o jornalista estão presos, em tese, à
ética profissional.

A inexigibilidade de diploma traz consigo a desregulamentação da
profissão de jornalista, uma vez extintos os requisitos para seu
exercício. Além disso, a não exigência dá às empresas o arbítrio de
dizer quem é ou não jornalista, já que somente o serão quando, e se,
contratados. Estes, sem dúvida, terão uma visão de comunicação,
exclusivamente, restrita aos interesses da contratante. Se hoje, com
profissionais do meio acadêmico, cientes de seu papel social, o
“pensamento editorial” já é fortemente sentido, como não será, quando
forem excluídas a técnica e a ética do jornalismo?

Entendemos que a livre expressão da atividade intelectual e da
comunicação deve ser exercida, inclusive, como já vem sendo feito.
Todos os cidadãos podem opinar, escrever, contar fatos e suas visões
sobre esses. Afinal, fazemos isso, todos os dias, quando relatamos as
situações que presenciamos ou que ouvimos falar. Mas, a atividade
profissional de jornalismo, especializada, cumpridora do papel de
fiscalização social e de formação da opinião de um povo, não pode, sob
pena de engatarmos uma marcha retrógrada jamais vista, prescindir de
formação acadêmica própria, de regulamentação e ética profissionais.

Pelo contrário, as autoridades deveriam estar discutindo como melhorar
os cursos de jornalismo do País, com avaliações mais rigorosas e com o
fechamento dos que não estiverem de acordo com padrão estabelecido.
Suas excelências poderiam estar planejando em como tirar das mãos de
meia dúzia de famílias o império da comunicação social, que torna
hereditário o poder político no Brasil. Deveriam estar preocupados em
fazer nascer uma comunicação social pública forte, voltada à educação
e à formação cultural da Nação e, o mais possível, livre das
interesseiras ideologias mercantis e partidárias. Entretanto, como
sempre no Brasil brasileiro, é mais seguro – e menos trabalhoso – não
cutucar, nem com vara longa, as verdadeiras onças.

*Jornalista formado pela Universidade Federal de Alagoas. Articulista
dos jornais Gazeta de Alagoas, O Jornal e Tribuna Independente

Originalmente publicado no jornal Tribuna Independente, edição de 03
de abril de 2009
 

Jornalismo com ética e solidariedade.