Theresa Catharina de Góes Campos

  A PERMANÊNCIA DO TEMPO – FILMES DE JOHAN VAN DER KEUKEN

CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, DE 2 A 14 DE JUNHO DE 2009. ENTRADA FRANCA.

Centro Cultural Banco do Brasil (Brasília) exibe grande retrospectiva
de um dos maiores documentaristas contemporâneos

*exibição de filmes inéditos no Brasil
*28 títulos que mostram diferentes maneiras de olhar o mundo contemporâneo
*sessões diárias com entrada franca

O Centro Cultural Banco do Brasil Brasília apresenta, pela primeira
vez no Brasil, a maior retrospectiva já realizada no País sobre a obra
de um dos mais originais e consagrados documentaristas contemporâneos.
Durante 40 anos, o holandês Johan van der Keuken realizou cerca de 50
filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, que oferecem ao
espectador possibilidades diferentes e inovadoras de mirar o mundo
contemporâneo. Consensualmente considerado um dos mais importantes
documentaristas da era moderna, Keuken criou verdadeiras epopéias
documentais que ajudam o homem contemporâneo a se compreender melhor e
o mundo que o rodeia. Agora, o público de Brasília terá oportunidade
de conhecer a maior parte desta produção. A mostra A PERMANÊNCIA
DO TEMPO – Filmes de Johan van der Keuken irá exibir, de 2 a 14 de
junho, 28 filmes, dentre títulos consagrados internacionalmente, como
como Amsterdam Global Village e Face Value - que o próprio
cineasta considerava duas de suas principais obras -, Big
Ben/Webster in Europe e até mesmo seu último filme, Férias
Prolongadas. Serão duas sessões, de terça a sexta-feira, e três no
sábado e domingo, sempre com entrada franca. A curadoria é do
cineasta, professor e crítico Sérgio Moriconi. No dia 09, após a
sessão das 18h30, haverá um debate sobre a obra do diretor com a
participação do cineasta Vladimir Carvalho.

Estão na programação todos os principais títulos que fizeram de van
der Keuken um dos mais conceituados documentaristas da história do
cinema mundial. Cineasta, fotógrafo, experimentador, Johan van der
Keuken produziu muito e manteve sempre uma coerência em todo seu
trabalho: seu cinema é construtivo, não apresenta verdades absolutas
e é feito de partes que vão se encaixando para que o espectador forme
sua opinião sobre o que está sendo apresentado na tela. Sua obra
Amsterdam, Global Village (1996) é uma epopéia documental de quase 4
horas de duração, que se transformou numa referência como retrato
poético de uma cidade e das relações humanas que ela estabelece com o
resto do mundo. Van der Keuken deixou um enorme acervo fotográfico e
uma obra cinematográfica vasta, inigualável. O realizador, que
faleceu em 2001, gostava de falar filosoficamente sobre seu trabalho:
“fotografar porque o tempo passa demasiado depressa, filmar porque o
tempo me faz falta”.

Johan van der Keuken era seu próprio cameraman e gostava de filmar
livremente, a partir de uma ideia inicial. Seu interesse foi sempre o
homem e suas relações, como ele se relaciona com as mais diversas
realidades. O cineasta esteve no Brasil, em 1999, como homenageado do
É TUDO VERDADE – FESTIVAL INTERNACIONAL DE DOCUMENTÁRIOS. Na ocasião,
foram exibidos oito de seus filmes. A mostra A PERMANÊNCIA DO
TEMPO é, portanto, a maior retrospectiva já feita sobre o cineasta no
País. Dentre seus filmes mais importantes destacam-se Amsterdam
Global Village (1996), Big Ben (1967), O Estúdio de To San (To Sang
Fotostudio (1997), Paris ao Amanhecer (Paris à l´Aube (1957-1960), A
Nova Era do Gelo (The New Ice Age (1974), O Olho sobre o Poço ( The
Eye Above the Well (1988), Valor de Face ( Face Value, 1991) e
Caminhos para o Sul (The Way South, 1981).

UM CRIADOR INTERESSADO NA NATUREZA HUMANA

Nascido em 1938 em Amsterdã, Johan van der Keuken realizou suas
primeiras obras em fotografia, aos 17 e aos 19 anos – “Wij zijn 17”
(“Nós tínhamos 17 anos”) e “Achter Glas” (“Atrás da janela”) –
dois livros inovadores, retratando os adolescentes, um grupo
social raramente representado na época. Entre 1956 e 1958, van der
Keuken estudou cinema no IDHE (Instituto de Altos Estudos
Cinematográficos), em Paris, prosseguindo com sua atividade
fotográfica nas ruas da capital, trabalho do qual resultaria, em 1963,
a publicação de Paris Mortel. Obra dividida em seis capítulos, entre
os quais o metrô, retratos de rua, desfiles militares e o cemitério de
Père Lachaise, em Paris Mortel a ambiência sombria vai ganhando
intensidade até alcançar o tema principal, aquele da “mortalidade” da
cidade. Assim, Johan van der Keuken colocava fim ao mito da Paris
romântica e intemporal, pondo em evidência uma Paris das classes
trabalhadoras, uma capital industrial.

Sua carreira de cineasta e fotógrafo está ligada à
"percepção da realidade". O cineasta é saudado por seu olhar
original, que resultou em documentários que adotam procedimentos da
ficção e do experimentalismo e tratam de temas como a pintura, a
música, a poesia, a cultura de rua, o jornalismo e a dança. Sempre
alternando cinema e fotografia, van der Keuken desenvolveu séries de
trabalho como Jaipur, de 1991, - uma homenagem aos condutores de
rickshaw das movimentadas ruas de uma cidade indiana superpovoada - e
As ruas de Amsterdam, em 1993 - uma contraposição de duas ruas da
cidade: Damstraat, percorrida por turistas, marginais, drogados e
traficantes, e Haarlemerdijk, uma rua de comércio tradicional. Em
seus filmes e em suas fotografias é a natureza humana que
interessa. Neles predomina uma visão humanista, destituída
de qualquer traço de etnocentrismo.

Realizador que expressa, com excelência, um novo humanismo do mundo
globalizado, Johan van der Keuken sempre demonstrou um imenso talento
para sintetizar imagens que subvertem a lógica e os postulados do
filme documental convencional. Aquilo que filma não é simplesmente
explorado pela câmera em sua "verdade" mas sintetizado a partir
de uma gama de informações, aparentemente esparsas, que formam um
pequeno sistema. Keuken buscou, ao longo de 30 anos de carreira,
formar um sistema-mosaico sobre o objeto filmado e não simplesmente
interpretá-lo .

CINEMA MOSAICO

"Faça um mapa, estabeleça um método paradoxal. Lance mão de uma
narrativa que ponha em questão a suposta linearidade dos
‘documentários’, isto é, estabeleça outros parâmetros para
desvendar ‘verdades’ que não são os do ‘cinema verdade’”, ele
costumava dizer sobre o fazer cinematográfico. Os objetos escolhidos
por van der Keuken não são convencionais, mas se movimentam em viva
articulação com outros objetos, criando novos sentidos. Sob essa
concepção, o cineasta cunhou alguns dos mais belos filmes das últimas
décadas (em especial Big Ben e Herman Slobbe). Mas além de
simplesmente sintetizar, seu trabalho igualmente admirável pela
capacidade de pensar analogias, recompor ambientes e olhar
simultaneamente para o indivíduo e para o mundo.

“Johan van der Keuken é de uma escola que olha para o passado e
reformula possibilidades. Esse poder de transformação e síntese lhe
confere um lugar privilegiado na cinematografia mundial, como forma
de reconhecimento a um trabalho profundo e livre, cuja mirada
pode lançar luzes sobre novas perspectivas por um cinema menos
comprometido com os padrões estéreis do mercado”, afirma o curador,
Sérgio Moriconi. Para Moriconi, essa situação está exemplificada no
último longa do cineasta, Férias Prolongadas. Realizado entre 1998 e
2000, enquanto colhia, "despretensiosamente", cenas em diversos
lugares (inclusive no Rio de Janeiro), o filme conta como o próprio
Keuken lidou com a descoberta, de que desenvolvia um câncer na
próstata (que pouco depois o levaria à morte). “O filme é um
mosaico admirável, uma celebração, um corajoso olhar para o futuro
e para o presente”, explica Sérgio Moriconi. A câmera reproduz
estes momentos cotidianos, onde Van Der Keuken busca explicações, mas
também toma banho, come, se veste. Para "sobreviver", ele filma. Filma
tudo como forma de garantir a permanência no tempo. Deixar de
filmar é a metáfora da morte. Esta seria a essência da obra do
realizador”.

PROGRAMAÇÃO

Dia 2, terça

18h30 – Paris ao Amanhecer (Paris at Dawn, Holanda, 1960, P&B, 10
min) + Big Ben/Ben Webster na Europa (Big Ben/Ben Webster in
Europe, Holanda, 1967, P&B, 31 min) + Beppie (Holanda, 1965, P&B, 38
min)

20h30 – A Nova Era do Gelo (The New Ice Age, Holanda, 1974, cor, 80 min)

Dia 3, quarta

18h30 – O Olho sobre o Poço (The eye above the well, Holanda, 1988, cor, 90 min)

20h30 – Lucebert (Lucebert, Time & Farewell, Holanda, 1994, cor e
P&B, 53 min) + Questão sem resposta (The Unanswered Question,
Holanda, 1986, P&B, 18 min) + O movimento do Animal (On Animal
Locomotion, Holanda, 1994, P&B, 10 min)

Dia 4, quinta

18h30 – Lição de Leitura (The Reading Lesson, Holanda, 1973, P&B, 10
min) + Criança Cega (Blind Kid, Holanda, 1964, P&B, 24 min) + Os
Palestinos (The Palestinians, Holanda, 1975, cor, 45 min)

20h30 – Sopro Livre (Brass Unbound, Holanda, 1993, cor, 106 min)

Dia 5, sexta

18h30 – Quatro Paredes (Four Walls, Holanda, 1965, P&B, 22 min) +
Velocidade 40-70 (Velocity 40-70, Holanda, 1970, cor, 25 min) + O Muro
(The Wall, Holanda, 1973, cor, 9 min) + Vietnam Opera (Holanda, 1973,
cor, 11 min)

20h30 – O Olho sobre o Poço (The eye above the well, Holanda, 1988, cor, 90 min)

Dia 6, sábado

16h00 – Amsterdam Global Village (Holanda, 1996, Cor, 228 min)

20h00 - Lucebert (Lucebert, Time & Farewell, Holanda, 1994, cor e P&B,
53 min) + Questão sem resposta (The Unanswered Question, Holanda,
1986, P&B, 18 min) + O movimento do animal (On Animal Locomotion,
Holanda, 1994, P&B, 10 min)

Dia 7, domingo

16h00 – A Nova Era do Gelo (The New Ice Age,Holanda, 1974, cor, 80 min)

18h00 – Férias Prolongadas (The Long Holiday, Holanda, 2000, cor, 142 min)

20h30 - Quatro Paredes (Four Walls, Holanda, 1965, P&B, 22 min) +
Velocidade 40-70 (Velocity 40-70, Holanda, 1970, cor, 25 min) + O Muro
(The Wall, Holanda, 1973, cor, 9 min) + Vietnam Opera (Holanda, 1973,
cor, 11 min)
 

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