Theresa Catharina de Góes Campos

  A PARTIDA

Ganhador do Oscar, deste ano, de Melhor Filme de Língua
Estrangeira, A Partida, de Yojiro Takita, é obra de imagens
convencionais, mas de linguagem lírica, competentemente dirigida, que
recorre a uma tradicional cerimônia fúnebre japonesa para mostrar,
mesmo com certa ironia, como se deve, pela superação das perdas
afetivas, valorizar cada momento da vida.

O roteiro, de Kundo Koyama, baseado no livro Coffinman: The
Journal of a Buddhist, de Aoki Shinmon, embora esquemático, é rico em
simbologia. É disso um exemplo a seqüência em que o protagonista Daigo
Kobayashi (Masairo Motoki), estando às margens de um rio, nos
arredores de Yamagata, sua terra natal, observa a persistência dos
salmões em nadar contra a corrente até chegar ao encontro com a morte.

Daigo moldou a sua personalidade pela do pai, Toshiki Kobayashi
(Toru Mineghishi), que o incentivou, desde criança, a tocar violoncelo
e a dar atenção às tradições japonesas, como a da compreensão de
mensagens das pedras-cartas. Seus sonhos, porém, foram sempre
alimentados pelo lado da música. Quando Kobayashi abandonou a família,
a mãe de Daigo teve de montar um pequeno negócio para custear as
despesas domésticas e educá-lo.

O filme se inicia em Tóquio, onde Daigo integra uma orquestra
sinfônica em dificuldade, que acaba por ser dissolvida. Sem ter como
pagar as dívidas, o músico vende o violoncelo e, tendo a concordância
da mulher Mika (Riyoko Hirosue), decide retornar à sua cidade para
morar na própria casa, vazia desde que sua mãe morrera, há algum
tempo, sem que ele pudesse estar presente aos funerais.

Instalado, Daigo procura emprego pelos jornais. E se entusiasma
com o anúncio de uma organização, Agência NK, que cuida de partidas.
Sua dedução é a de que se trata de uma empresa de turismo, que lhe
poderá dar oportunidade, tantas vezes também sonhada, de viajar pelo
mundo afora.

A grande surpresa de Daigo, entretanto, acontece, quando ele
descobre que o trabalho que lhe é oferecido, com pagamento de
compensador salário antecipado, é o de assistente de um profissional,
Shoei Sasaki (Tsutomu Yamasaki), preparador de cadáveres para o ritual
familiar que antecede à cremação.

A direção de Takita é pródiga em criar elementos visuais para
imprimir certo tom impressionista à narrativa, como o que se observa
nas seqüências em que ele enclausura Daigo no estreito corredor de sua
residência a fim de expressar o quanto a personagem se sente
angustiada por não poder dizer à mulher, Mika, temendo reação
desfavorável dela, qual é o tipo de trabalho a que se dedica.

Da mesma forma, Takita usa a imagem de Daigo tocando o seu
violoncelo dos tempos de criança sobreposta à dos campos que circundam
a sua região, captada pela lente de Takeshi Hamada, para simbolizar a
tormentosa dúvida em que vive a personagem sobre o possível paradeiro
do pai, cuja lembrança, ao decorrer do tempo, sob vários aspectos, por
mais que negue, passou a atormentá-lo.

Para envolver mais o espectador na evolução do tema, difícil,
pois que de caráter lúgubre, Takita não só soube dosar a narrativa com
algumas situações cômicas, como conseguiu tirar proveito da magnífica
trilha sonora de Joe Hisaishi, composta – além da bela canção-tema de
sua autoria - de peças como o Hino à Alegria, da Nona Sinfonia, de
Beethoven, com coro e orquestra, a Ave Maria, de Gounod, e o
Wiegenlied, de Brahms, em solo de violoncelo.

Mais que tudo, porém, o elenco, estupendo, reunido por Takita,
merece os louros por inúmeros prêmios conquistados pela película,
principalmente o veterano Tsutomu Yamasaki, de muita categoria, e o
jovem ator Masairo Motoki, que impressiona por seu perfeito domínio de
jogo facial. Histriônico, Motoki se sai muito bem nas cenas cômicas e,
nas dramáticas, usa os músculos da face com uma habilidade tal que não
há como deixar de reconhecer nele um perfeito seguidor da arte de
interpretar de Toshiro Mifune.

REYNALDO DOMINGOS FERREIRA

ROTEIRO, Brasília, Revista
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FICHA TÉCNICA

A PARTIDA
OKURIBITO
Japão/2008
Duração – 130 minutos
Direção – Yojiro Takita
Roteiro – Kundo Koyama, inspirado no livro Coffinman: The Journal of a
Buddhist, de
Aoki Shinmon
Produção – Yojiro Takita
Fotografia – Takeshi Hamada
Música Original - Joe Isaishi
Edição – Akimasa Kawashima
Elenco – Masairo Motoki (Daigo Kobayashi), Tsutomu Yamasaki (Shoei Sasaki), Riyoko Hirosue (Mika Kobayashi), Toru Mineghishi (Toshiki Kobayashi), Kimiko Yo (Yuriko Uemura).

From: manoel craveiro
Date: 2009/5/24
To: Theresa Catharina de Goes Campos



Sra. Theresa Catharina,
Considerei 'A PARTIDA", filme japonês, extraordinário. O enfoque, inusitado, por certo, merece reflexão. No filme, o respeito dado à profissão chegou a mudar relacionamentos, o que é sumamente importante.
Um abraço.
Manoel Craveiro
 

 

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