Theresa Catharina de Góes Campos

  O QUE DESTRUIU A AMIZADE?

O que foi dito a meu amigo, para causar a destruição irracional de quase cinco décadas de amizade e confiança?

Que inverdade fez a estima de longa data desaparecer, o amigo se calar, evadir-se em silêncio, quando eu mais precisava de apoio e da presença dos relacionamentos fraternais construídos durante a minha existência?

Afinal, se tantas outras amizades permaneceram, sólidas, concretas e solidárias, o que eu teria feito de incorreto, unicamente a esse amigo, que se distanciou por todas as formas, cortando todos os caminhos de comunicação, sem uma palavra de adeus ou explicação?

Do que foi convencido para se mostrar tão decidido a manter essa prolongada e repetida atitude de total afastamento, em todos os níveis?

Determinado a nem mesmo querer me cumprimentar numa manhã de domingo, no interior abençoado de uma igreja?

Como posso eu explicar o que não tenho como entender ou perceber, nem encontrar uma possível justificação?

Que mentira foi dita a meu respeito...que derrubou décadas de antiga e declarada amizade?

Quem falou tanto mal , e tão mal de mim ...e por que mereceria tanto crédito, capaz de fazer desmoronar o que estava construído em valores e princípios, ideais compartilhados e vividos em atitudes e palavras, ao longo de mais de cinco décadas?

O que houve? Qual foi a semente desse mal? Como cresceu semelhante ovo de serpente, sem aviso, despercebido por mim? Como eu pude estar totalmente desavisada?

O que me foi atribuído de tão terrível , que seria uma falta grave, um erro de todo injustificável para ser perdoado?

Tudo isso me parece inacreditável, de tão surreal... Contudo, para minha imensa tristeza, isso de fato me aconteceu...e segue ocorrendo. Como eu gostaria que fosse um longo pesadelo, do qual irei despertar em breve!

Trata-se, porém, de uma realidade que continua a existir, um contexto permanente, uma circunstância que me acompanha, nesse drama concreto de ausência não eventual, ao invés de um texto de ficção. Se fosse uma obra de ficção, eu já teria revisado este capítulo, criando uma página literária bem diferente... E um novo manuscrito surgiria, sem referências, inclusive, à descortesia em ambiente público.

Afinal, esta situação que me atormenta envolve muitos enigmas, um mistério a me desafiar a mente: que acusação destrói uma amizade de cinco décadas, sem interrupção?

Por que a memória do amigo, suas antigas e muitas lembranças não me defenderam?

Ou por que ninguém tomou a iniciativa de sair em minha defesa?

Se fui acusada e não tive conhecimento, por que não me foi concedida a oportunidade para fazer a minha defesa, ou pelo menos tentar me explicar sobre o que ainda ignoro?

Como eu posso estabelecer uma ponte de comunicação, fundamentada no vácuo do silêncio e da descortesia constantes que me levam à imobilidade do choque traumático?

Precisarei esperar o tempo da eternidade, quando não haverá mais lágrimas?

E tudo se explicará, sem deixar quaisquer dúvidas, com pleno esclarecimento, segundo promete a Bíblia no Livro de Revelações?

O que fazer, porém, agora, nesta vida, onde todos os minutos são preciosos, porque cada segundo poderá ser o último instante, definitivo e inesperado..., para que a antiga amizade retorne e de novo se revele como antes visivelmente se manifestava, mesmo à distância?

Ou, se nada mais eu puder fazer aqui...

Bem, refletindo, neste momento, sobre como enfrentar este dilema para o qual eu não estava preparada ( ou não pensei estar preparada...), começo eu mesma a chegar a um ponto de amadurecimento sem retorno, uma defesa pela qual sou a única responsável, pois não cabe a nosso próximo reconstruir o nosso íntimo, o âmago de nosso ser.

Já vivenciei, como tantas outras pessoas, algumas desilusões profundas, que me rasgaram por dentro. No entanto, consegui reunir, sob as bênçãos e a misericórdia divinas, a minha integridade de ser humano, a essência de mim, para retomar em plenitude as minhas forças adormecidas, os meus recursos espirituais, superiores a qualquer iniciativa de mesquinhez.

O que perdi, não tenho mais. Deus conhece as minhas necessidades...Se eu precisasse, não teria perdido. E por que deveria continuar me preocupando com o que não disse e não fiz?

Chega, portanto, de lamentações que nada constroem de bom!

Com a fé de sempre, aguardarei esperançosa a eternidade, para que a luz da verdade se estabeleça!

Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo, 09 de julho de 2009.
 

Jornalismo com ética e solidariedade.