Theresa Catharina de Góes Campos

  From: Tereza Lúcia Halliday
Date: 2009/7/20
Subject: PELO DIA INTERNACIONAL DO AMIGO

Escolhi, para hoje, 20 de julho, escrever sobre Amizade.
Texto abaixo e no anexo.
Um abraço, Tereza.

AMIGO É OUTRA COISA

 Tereza Halliday – Artesã de Textos

 Exultante, o menino de 11 anos apontou para a tela do computador e anunciou: “Já tenho 420 amigos!”. Tadinho! Nasceu num país onde a palavra amigo não designa um status diferenciado, como “friend” em inglês e “freund” em alemão. Em português do Brasil, amigo é termo guarda-chuva, aplicado a qualquer um que não nos arreganhe os dentes nem rosne para nós. E a cultura da Internet na qual esse menino está sendo criado reforça a aplicação exagerada do conceito a meros conhecidos e desconhecidos, mais apropriadamente designados como “contatos”. Ter numerosos contatos dentro e fora da Internet pode ser muito útil e divertido.  Mas amigo é outra coisa.

          

As comunidades de relacionamentos no www geraram a expressão “amigos virtuais”, isto é, não são “de mesmo”. Nada mau brincar de amigo na Internet  - com as devidas precauções que os pais são obrigados a ter. Nada errado que adultos usem esses sites para praticar o networking -  construção milenar de uma rede de apoio social e profissional. Contatos de Internet ampliam horizontes, ajudam a achar emprego, comprar ou vender qualquer coisa, ter recomendações sobre prestadores de serviços, dar e receber dicas sobre tudo no mundo. Contatos online informam, orientam e distraem. Podem até transformar-se em protagonistas de uma grande amizade, com o devido tempo e convivência, reforçada ou não por chats e e-mails. Contudo, para conhecer bem o território da Amizade real é preciso tempo, sintonia, discrição, gentileza, captar a respiração do outro.

 

O garoto dos 420 contatos ainda não ouviu falar da fábula exupéryana onde a raposa diz ao principezinho: para tornar-se amigo é preciso ter paciência, cada dia sentar-se um pouco mais perto, cativar e ser cativado, isto é, criar laços; cuidar um do outro até que aquela pessoa se torne para você única no mundo. Tive a ventura de conhecer e vivenciar essa fábula com apenas 12 anos de idade, graças a Maria Laura (que tinha a idade de minha mãe) e a Zé Luiz (então com 18 anos). Nosso afeto cresceu regado a Chopin, livros, conversas profundas, humor – éramos um trio insólito onde as diferenças de idade não pesavam. A vida separou, mas os liames atravessaram o tempo.

 

 Amigos para se guardar do lado esquerdo do peito, como diz a canção, jamais atingirão a cifra dos 420. Amigos profundos, então, no máximo totalizam os cinco dedos de uma mão. Grandes amizades não formam estatísticas.  Mesmo os amigos sociais, com quem você se dá muito bem, mas não abre a alma, dificilmente passarão de uma centena. Fora disto, é conhecido, colega, companheiro de campanha, contato. Amigo é outra coisa. 

 

 Neste Dia Internacional da Amizade, sou grata àqueles por quem fui cativada e com quem teci, paulatinamente, o tempo, a ternura e a confiança através dos quais adquirimos as qualificações para ser Amigos.

(Diário de Pernambuco, 20 de julho 2009, p.A-11)

 

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