Theresa Catharina de Góes Campos

  DIÁLOGO COM O VENTO (DISCUSSÃO?)


- Quanto movimento! E força !
Por que fazer tantos esforços?
Por que tanto empenho,
muitas vezes com tanta fúria,
demonstrando tanta violência?


- Ora, sou assim por natureza...
Apareço com toda minha energia,
sem o meu vigor esconder
sem economizar esta indômita força,
sem nada disfarçar.
E por que seria diferente,
se tal é a minha personalidade
própria, individual e única,
diversa da chuva e da calmaria ?


- Sei não, sei não, por quê ?
A chuva também não realiza
sua missão, com energia e
dotada de poderosa força ?
É capaz de para longe levar,
pronta para obstáculos derrubar,
no seu dorso muito carregar.
Mistura e ainda vai transformar
o cenário das paisagens...
mais o que vê pela frente derrubar -
grandes obstáculos, barreiras -,
mostrando ser independente,
de outras forças bem diferente,
porém igualmente determinada
a vencer todas as fronteiras.


- Esta discussão é inútil...
No máximo, um tolo diálogo
sobre o que não se pode
em nenhum momento comparar.
Afinal, tudo está bem definido:
temos métodos individuais,
características próprias -
chuva molha, chega e se vai;
sou vento, apareço sem avisar,
faço o que eu quero, independente
tal qual minha irmã, a chuva.
Às vezes combinamos para unir
toda a força de que somos capazes,
porém mesmo assim diferentes
( não vejo qualquer semelhança ! ),
cada um na sua personalidade,
em nossa natureza específica,
também ambos independentes.
É isso e pronto, nada para discutir!


- Tudo bem, já compreendi.
Por que tanto alvoroço,
tamanho nervosismo?!
Somos únicos, originais, sim !
Todos nós, criações divinas,
portanto em nossas origens,
Deus nos fez semelhantes.
Não há a menor necessidade
de nós dois nos aborrecermos.
Sempre reconheci nossas diferenças.
Admito sem a menor dificuldade
saber de toda a sua força, sim,
como aceito os feitos de sua energia.
Jamais briguei ou discuti com a chuva,
inclusive quando de repente aparece,
zangada, raivosa além dos seus limites,
em atitudes, ações, em que parece
existir sozinha neste mundo de Deus.


Quando o vento irascível se foi,
para finalmente calar, repousar,
fatigado talvez de nosso diálogo,
que encarou como discussão,
revelo o que escolhi e vou ser:
nem vento, nem chuva, nem mar;
nada de calmaria também.
Minha decisão vem de menina...
eis o que escolhi e vou ser:
com palavras e versos realizar
a vocação que aceitei viver.


Quem viver, verá !
É só esperar...
porque acontecerá!


Theresa Catharina de Góes Campos
Rio de Janeiro, novembro de 1963
(na sede do Círculo dos Operários Cristãos, após finalizar o trabalho voluntário como editora e redatora de textos para um Boletim Informativo da entidade ).
 

Jornalismo com ética e solidariedade.