Theresa Catharina de Góes Campos

  A GAROTA DA ESTRADA

Para mamãe, com todo o meu carinho, no dia de seu aniversário.

Eu a encontrei chorando,
sozinha na estrada
e fiquei pensando:
ela foi abandonada!

A garota logo compreendeu
que eu a olhava -
aumentou o choro,
o rosto entre as mãos prendeu,
de soluçar não parava.
Pelos seus bracinhos escorriam
suas lágrimas infantis.
Sua fronte estava molhada,
pingando de suor.

Que pena senti!
Não havia ninguém a seu lado!
Ela estava só. Sozinha!
Na imensidão do caminho!

Corri para a infeliz criança
para estreitá-la nos braços.
Havia um mundo de sonhos em seu olhar!
Logo suas mãos rodearam meu pescoço...
aflitas, inseguras e trêmulas,
com receio talvez
que eu voltasse atrás.
A cabecita, exausta,
repousou em meu ombro.

Era a hora do crepúsculo.
Morria o dia.
Havia angústia em meu coração.

Naquela hora indecisa,
resolvi levá-la comigo.
Prometi intimamente
jamais abandoná-la;
falei a ela, baixinho,
sobre um lar feliz.

Adormecera a menina no meu colo,
enquanto eu caminhava de volta.
Interessante! Eu esperava novos problemas,
entretanto, já não sentia mais angústia,
nem tédio, nem descrença.

Alguém em meus braços
precisava de amor,
alguém que também tinha
direito à felicidade.

Beijei de leve a inocente fronte.
Tive vontade de dizer bem alto
àqueles que passavam apressados,
honestos mas egoístas:
por que não ter sempre
o coração aberto?
Por que não ver continuamente
naquele que sofre, no próximo que é infeliz,
no que verga ao peso de uma responsabilidade,
na pessoa que caminha ao nosso lado,
a figura sublime de Jesus ferido,
Jesus maltratado, Jesus por nós abandonado?

Theresa Catharina de Góes Campos
Recife - Pernambuco, 15 de outubro de 1961

Nota: Devo a minha irmã Victória Elizabeth ter encontrado essa poesia
manuscrita, assinada com o apelido - Therezita Campos, nos pertences
de nossa mãe, depois de seu falecimento. Com meus pais esses versos
foram a muitas cidades, em estados e países diferentes... O poema
seguinte também retornou assim às minhas mãos.Mas estava datilografado
em máquina bem antiga e, sendo uma cópia em carbono, trazia
dedicatória e uma segunda data, manuscritas, como estava na assinatura
o apelido, escolhido por eles desde a participação de meu nascimento.

Theresa Catharina
Brasília-DF, 24 de agosto de 2009
 

Jornalismo com ética e solidariedade.