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								|  | PARIS 
 Pela ótica de um jovem paciente que necessita de 
								transplante do
 coração para continuar vivendo, o cineasta 
								Cedric Kaplisch faz, em
 Paris, uma crônica dura, amarga, porém sincera, 
								sobre as difíceis
 condições sócioeconômicas que enfrentam os que 
								residem na cidade
 considerada a mais bela do mundo.
 
 Autor também do roteiro, Kaplisch parece haver 
								se inspirado no
 depoimento de René Clair sobre os últimos 
								momentos de vida do ator
 Gérard Philippe para escrever, pelo menos, a 
								sequência final em que
 Pierre (Romain Duris), segue, de táxi, para o 
								hospital a fim de se
 submeter à arriscada cirurgia do coração. Sem 
								deixar de apreciar a
 paisagem de famosas avenidas parisienses, Pierre 
								se indaga: - Será que
 essas pessoas sabem da importância de se ter um 
								instante de
 tranquilidade em Paris?
 
 Pierre é um dançarino de cabaré, que se isolou 
								no acanhado
 apartamento em que vive, desde que tomou ciência 
								do agravamento do seu
 estado de saúde. Os amigos costumeiros dele se 
								ausentaram. A irmã,
 Élise (Juliette Binoche), uma assistente social, 
								de quarenta anos,
 sabedora de que ele pode estar com os dias 
								contados, veio, com seus
 filhos, lhe dar o apoio de que necessita.
 
 A primeira preocupação de Pierre é a de como 
								deve dizer para as
 crianças, mal acomodadas em sua moradia, o que 
								lhe pode acontecer. Mas
 desiste ao se conscientizar de que elas preferem 
								não saber disso. Um
 dos sobrinhos está apenas preocupado com o 
								comentário de um colega,
 segundo o qual Papai Noel não existe. Pierre não 
								só lhe confirma a
 existência do bom velhinho, como lhe mostra a 
								Torre Eiffel iluminada,
 da qual ele se servirá para descer do céu, na 
								noite de Natal, a fim de
 visitar as crianças de Paris.
 
 Assim como os meninos precisam de ilusões e de 
								fantasias, como
 fica evidente pela atitude de Pierre em relação 
								ao filho de Élise, os
 adultos necessitam de noitadas em bares, de 
								festas e de fazer amor com
 quem quer que seja para superar as agruras de 
								insegurança no trabalho,
 de subemprego e de desemprego, enfrentadas no 
								dia a dia parisiense.
 Apesar de as esferas oficiais falarem muito em 
								diversidade social,
 como observa Pierre, Paris é cada vez mais uma 
								cidade só para os
 ricos.
 
 De seu terraço, ele vê desfilar vários tipos – 
								feirantes,
 padeiros, uma modelo, um arquiteto, um professor 
								de História -, todos
 assoberbados, introvertidos ou mal humorados, 
								compondo com os seus
 problemas individuais uma espécie de mosaico ao 
								estilo de Altman.
 Pierre se interessa por Laetitia (Mélanie 
								Laurent), uma vizinha,
 moradora do edifício de frente, estudante, jovem 
								e bonita, que, numa
 frase, entretanto, desanca com os visitantes da 
								cidade, quando diz –
 Então, vamos fingir que somos turistas 
								idiotas!... Ela recebe, pelo
 celular, mensagens de assédio de alguém que não 
								se identifica.
 
 Esse alguém é o professor Roland Verneuil (Fabrice 
								Luchini),
 cultor do passado histórico da cidade, servidor 
								público, mal
 remunerado, que também vive num cubículo 
								sórdido, embora seja irmão de
 um arquiteto famoso, Philippe Verneuil (François 
								Cluzet), que projeta
 residências futuristas, de alto luxo, mas é 
								bastante emotivo no que
 diz respeito às questões familiares.
 
 Kaplisch cuida bem da fixação dos traços 
								característicos de cada
 uma dessas personagens, mas ganha brilho, 
								principalmente ao retratar a
 figura da dona de uma padaria (Karin Viard), 
								intolerante ao extremo
 para com seus auxiliares no balcão, por ela 
								criticados, repreendidos
 ou maltratados mesmo na presença dos clientes. 
								Viard, que recebeu
 indicação ao César de Melhor Atriz Coadjuvante, 
								tem realmente uma
 atuação marcante, expressando pelo gestual e 
								pelo olhar mais do que
 pelos impropérios que, sem papas na língua, a 
								personagem diz.
 
 O elenco é composto de muitos nomes famosos, 
								como os de Juliette
 Binoche, esplêndida como sempre, Fabrice Luchini, 
								e Romain Duris, este
 no terceiro filme dirigido por Kaplische, que o 
								lançou no cinema em O
 Abrigo Espanhol. Há ainda a presença de Albert 
								Dupontel (Um Lugar na
 Platéia ), no papel do feirante Jean, numa 
								discreta, mas boa
 interpretação. Além de contar com as belas 
								imagens de Benoit Delhomme,
 a narrativa de Kaplisch ganha impulso graças ao 
								excelente comentário
 musical, de Loik Dury e Robert Burke, que inclui 
								variadas peças de
 jazz e de Johann Sebastian Bach.
 
 REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
 ROTEIRO, Brasília, Revista
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 FICHA TÉCNICA
 PARIS
 França/2008
 Duração – 95 minutos
 Direção – Cedric Kaplisch
 Roteiro – Cedric Kaplisch
 Produção – Aissa Djabri, Fahrid Lahoussa, Manuel 
								Munz
 Fotografia – Benoit Delhomme
 Trilha Sonora –Loik Dury e Robert Burke
 Edição – Francine Sandberg
 Elenco – Juliette Binoche (Élise), Romain Duris 
								(Pierre), Fabrice Luchini (Roland Verneuil), 
								Albert Dupontel (Jean), Melanie Laurent (Laetitia), 
								Karin Viard (La Boulangère), François Cluset (Philippe 
								Verneuil)
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