Theresa Catharina de Góes Campos

  From: LMAIKOL
Date: 2009/10/5
Subject: Lágrimas Olímpicas 2016


LÁGRIMAS OLÍMPICAS

A vitória da cidade do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de
2016 arrancou lágrimas e risos dentre muitos, até do mandatário maior
da Nação. Quanto a mim, não sei se rio ou se choro. Habituado que
estou a observar tudo com um pé atrás – cautela, quero dizer –
estanquei diante de uma cifra: R$ 28 bi.

Somos, sabidamente, um país de contrastes. E contradições.
Pena que não sejamos, sabiamente, administradores de um equilíbrio
maior entre os opostos ou extremos que caracterizam essa nação
abençoada por Deus “e bonita por natureza”. Império tupiniquim num
continente mergulhado em conflitos classistas, misérias e riquezas
extremas, que agora se dá ao luxo da ostentação, pois que o pré-sal
está salgando a cabeça de muitos. 28 bi. Tentei imaginar essa cifra
rateada entre os duzentos milhões de brasileiros que hoje somos.
Confesso: perdi-me nos zeros. Tentei imaginar quantas bocas famintas,
quantas escolas, creches, asilos, etc, etc...

Mas, cautela! Antes que você abandone essa leitura,
acusando-me com adjetivos nada agradáveis, devo analisar o reverso da
moeda, os dividendos positivos desse quase insano investimento
público. Quantos empregos serão gerados? Qual seu custo benefício?
Qual a importância dessa cifra para um país que tenta, a qualquer
custo, emergir de suas profundezas históricas, que investe pesado na
propaganda para resgatar o devido respeito internacional, afagar o
orgulho pátrio de seu povo? Quantos degraus a auto-estima brasileira
subirá na escala de seus valores, contribuindo para melhores
rendimentos coletivos?

Parece-nos que os contra-valores – a velha cantilena da
realidade social – pesam tanto quanto os valores ainda utópicos de uma
sonhada introdução brasileira nos arejados salões do primeiro mundo. A
diferença entre um mundo e outro é o peso nessa balança de
incoerências dum planeta dividido entre pobres e ricos. Dividido entre
dois hemisférios, povos do norte evitam, ao máximo, o contágio com a
miséria sulista. Os daqui de baixo que se cuidem, promovam suas
competições no próprio quintal, defendam-se com os recursos que
possuem. Uma filosofia ainda dominante dentre civilizações que nos
dominaram durante séculos. Um comportamento tipicamente colonialista,
cujas raízes ferem os solos dos continentes subtropicais. Mas até
quando?

Talvez seja este o aspecto mais positivo da vitória
carioca diante do comitê olímpico internacional: mostrar ao mundo o de
que somos capazes. Mas convenhamos: não precisamos exagerar. O projeto
brasileiro superou em cinco vezes o projeto de investimentos dos norte
americanos, por exemplo. Aquilo que poderia ser disputado com lastros
ancorados na fibra, na honra, na educação e hospitalidade do nosso
povo, tornou-se uma simples negociata de pregões financeiros, onde,
aparentemente, levaria quem fizesse o martelo soar. Eis então que seu
som ecoou sem os “brados retumbantes de um povo heróico, braços
fortes”.

Dividido que estou, busco referências ‘a luz dos
ensinamentos cristãos. Nenhuma lágrima de alegria será plenamente
reconfortante quando muitas lágrimas de dor e incertezas ainda
persistem no meio do povo. Cristo um dia contemplou a beleza e
ostentação dos templos e palácios de Jerusalém, das grandes arenas que
ofereciam circo ao povo – e não pão – e chorou sobre ela... Deixou
escapar um pensamento profético, causa de sua breve destruição: “Oh!
Se também tu, ao menos neste dia que te é dado (a euforia de sua
Entrada Triunfal) conhecesses o que te pode trazer a paz!” (Lc 19,
41). Oh, Cidade Maravilhosa, se já soubesses o valor da verdadeira
alegria, da partilha e da igualdade que nos propõe Cristo Jesus! Então
vamos torcer: que essa nossa entrada num mundo competitivo seja
triunfante na solidificação de nossos anseios de paz e justiça.

WAGNER PEDRO MENEZES
www.meac.com.br
 

Jornalismo com ética e solidariedade.