Theresa Catharina de Góes Campos

  NATAL DE VÁRIAS FACES

From: Tereza Lúcia Halliday
Date: 2009/12/21

O assunto em pauta é: Feliz Natal!

NATAL DE VÁRIAS FACES

Tereza Halliday – Artesã de Textos

A atmosfera do Natal envolve crentes e descrentes. Talvez porque se afine com o anseio universal de ser alegre e feliz, de ter muitas cores e sinos enfeitando a vida.

Substituindo celebrações ancestrais do solstício de inverno europeu, institucionalizou-se o 25 de dezembro como a data do aniversário de Jesus Cristo. Aquele que, no Sermão da Montanha, deu o melhor conselho de todos os tempos: “Trata os outros como desejas ser tratado”. (Lucas 6,31). Não se sabe a data precisa do seu nascimento, mas isto é irrelevante no campo das narrativas mágicas e da Fé.

Os mais felizes nesta época são aqueles cristãos profundamente religiosos que celebram o nascimento de Jesus em suas igrejas e corações. A alegria por esse evento histórico e místico vem de dentro e consola saudades e solidões. O Natal religioso é uma festa de beleza, fé, poesia, enternecimento. Festa de cânticos, do presépio, da Estrela-Guia na magnífica história dos Três Reis Magos – metáfora da busca por algo maior que nós, finalmente encontrado depois de longa viagem.

O Natal social é evento paralelo ao evento religioso. Banaliza as canções natalinas em arranjos musicais melosos, nos alto-falantes de supermercados e shopping centers, fomentando um espírito-padrão de alto consumo, bem longe do espírito cristão. Mesmo os críticos do consumismo se rendem à expectativa geral: é tempo de dar presentes. Embarcamos no trenó do simpático personagem que povoa o imaginário das crianças e alavanca vendas: Papai Noel. Criado para um anúncio da Coca-Cola na primeira metade do século 20, o velhinho de farda vermelha, banhado de suor nos trópicos, é uma caracterização distorcida de São Nicolau, bispo de Myra, Turquia (270-346 d.c.). Magérrimo, asceta, reverenciado por católicos e ortodoxos, Nicolau ficou famoso por presentear anonimamente, com moedas, os mais necessitados. Daí a tradição das doações natalinas.

No Natal social, um modelo de alegria prevalece, gerando mal-estar em quem não estiver no “clima”. Pessoas pesarosas porque suas vidas são de um jeito diferente do desejado. Machucados por expectativas não preenchidas, deixam de viver o agora, que vem e passa. Remoendo perdas - pais que já não vivem, casamento que deixou de existir, falta de namorado, família dispersa - essas pessoas são pressionadas pelo “modelo”: se é Natal tem que ser conforme o figurino da “família ideal”, deve ser alegre, ruidoso, grupal, com muita comida e bebida, muita animação. Mas estar alegre não é compulsório, nem mesmo no Natal. Há que aceitar as próprias circunstâncias e transcender. A tristeza é conteúdo natural de um dos pratos da balança da vida, vizinho e parceiro do prato da alegria.

Às pessoas que não passam fome, enviemos estes votos de um Bom Natal: deixem de focalizar o que lhes falta e abram os olhos para as bênçãos discretamente presentes. Que aceitem seus Natais como eles são e fiquem em paz.
(Diário de Pernambuco, 21/12/2009, p.A-11)

Tereza Lúcia Halliday, Ph. D.
Artesã de Textos
www.terezahalliday.com
 

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