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Reflexões Homiléticas para Janeiro de 2010
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Festa da Epifania do Senhor (03.01.10)
Mt 2, 1-12
“Viemos prestar-lhe homenagem”
Hoje celebramos uma das grandes festas do Ciclo
de Natal - a Manifestação do Senhor (“Epifania”
em grego), onde comemoramos o fato de que Jesus
foi manifestado, não somente ao seu próprio
povo, mas a todos os povos e nações,
representados pelos Magos do Oriente. Embora a
festa tenha muita popularidade folclórica,
também esconde uma grande verdade da fé - que a
salvação em Jesus é para todos os povos, sem
distinção de raça, cor ou religião. Retomando a
grande intuição do profeta Isaías, celebramos
hoje a salvação universal em Jesus.
O texto de hoje é altamente simbólico - usa uma
técnica da literatura judaica chamada “midraxe”,
ou seja, uma releitura de passagens bíblicas,
com o intuito de atualizá-las. Assim, Mateus
quer ensinar algo sobre Jesus, usando figuras e
símbolos tirados de diversos textos do Antigo
Testamento. Por exemplo:
- Vêm os magos (nem três, nem reis!) buscando o
Rei dos Judeus. Esses magos lembram os magos que
enfrentavam e foram derrotados por Moisés (Êx 7,
11.22; 8, 3.14-15; 9,11) e acabaram reconhecendo
o poder de Deus nas maravilhas feitas por Ele.
- A estrela é sinal da vinda do Messias, relendo
a profecia de Balaão em Nm 24, 17.
- O menino nasce em Belém, conforme a profecia
de Miquéias (Mq 5, 1)
- Os presentes lembram as profecias de Segundo e
Terceiro-Isaías, e dos Salmos, sobre os
estrangeiros que viriam a Jerusalém trazendo
presentes para Deus (Is 49, 23; 60,5; Sl 72,
10-11).
- Herodes, como o Faraó, massacra os filhos do
povo de Deus (Êx 1, 8.16).
O texto chama a atenção pelas reações diferentes
diante do nascimento de Jesus. Os que deveriam
reconhecer o messias - pois são versados nas
Escrituras - ficam alarmados, pois para eles,
opressores do povo através da religião e da
política, Jesus e a sua mensagem constituem uma
ameaça. Outros, pagãos do oriente, buscando sem
ter certeza, arriscam muito para descobrir o
verdadeiro Deus, e entregam-lhe presentes, sinal
da partilha, grande característica do Reino que
Jesus veio pregar.
Hoje em dia, verificam-se as mesmas reações
diante de Jesus e do seu evangelho. Muitos
querem reduzir os eventos religiosos a algo
folclórico com shows e cantos, mas que de forma
alguma possa questionar a nossa sociedade e os
seus valores. Para outros, o menino na
estrebaria é um sinal do novo projeto de Deus, o
mundo fraterno, onde todos as pessoas de boa
vontade têm que se unir, seja qual for a sua
raça, nação, gênero ou religião, para construir
a fraternidade que Deus quer.
Jesus não precisa de presentes, mas, sim do
nosso esforço na vivência do seu Reino. Na
prática, temos que optar - para a vivência
religiosa vazia como a de Herodes e dos Sumos
Sacerdotes, ou pela mensagem libertadora do
Menino de Belém, que convoca todas as pessoas de
boa vontade, sem distinção de raça, cultura ou
tradição religiosa, representados hoje pelos
magos, para a construção do mundo de paz,
fraternidade e justiça, pois Jesus veio para que
“todos tenham a vida e a tenham plenamente.” (Jo
10, 10)
FESTA DO BATISMO DO SENHOR (10.01.10)
Lc 3, 15-16. 21-22
“Este é o meu Filho amado, que muito me agrada”
Hoje, no Domingo seguinte à Epifania, celebra-se
a Festa do Batismo do Senhor. O batismo de Jesus
por João Batista no Rio Jordão é tão importante
teologicamente que é tratado por cada um dos
quatro evangelistas, cada qual da sua maneira,
dependendo da situação da sua comunidade e dos
seus interesses teológicos. A história logo se
tornou um problema para os primeiros cristãos,
pois levantava a questão de como Jesus, sem
pecado, podia ter sido batizado num ritual de
purificação dos pecados. Por isso, Mateus deixa
fora a referência de Mc 1, 4 ao perdão dos
pecados, a adiciona os vv. 14 e 15. Para João, o
batismo era tão difícil de ser harmonizado com a
sua cristologia, que omite qualquer referência
ao atual evento, e no seu lugar, faz com que
João Batista indica Jesus como o “Cordeiro de
Deus” (Jo 1, 29-34).
O texto já nos apresenta o programa da vida e
missão de Jesus. Lucas se destaca pela
insistência em situar Jesus como membro do seu
povo - identificando-se com aquela camada do
povo marginalizada e menosprezada como “impuro”
pela teologia oficial, atrelada ao poder
político das elites. Como disse o saudoso Padre
Alfredinho, fundador da Fraternidade do Servo
Sofredor: “No dia do seu batismo, Jesus entrou
na fileira dos excluídos para nunca mais sair
dela!” Com o seu batismo, Jesus assume a
fidelidade radical à vontade de Deus. O
significado disso será mostrado ao longo do
Evangelho. Também Jesus, unindo-se aos
pecadores, já está, desde o começo, rejeitando a
visão de um Messianismo triunfalista.
Os sinóticos ressaltam o fato que “o céu se
abriu”. Marcos é o mais contundente quando
enfatiza que “os céus se rasgaram”. É uma
maneira simbólica de expressar que em Jesus
acontece a união definitiva entre o céu e a
terra (At 7, 56; 10, 11-16; Jo 1, 51) e uma
revelação celeste (Is 63, 19; Ez 1,1; Ap 4, 1;
19, 11). A revelação maior é a confirmação da
identidade de Jesus como o Servo de Javé.
Mateus, escrevendo num ambiente de polêmica
contra o judaísmo formativo do fim do primeiro
século, muda a tradição original (Mc 1, 9-11),
mantida por Lucas, onde as palavras do Pai se
dirigiam a Jesus, para dirigi-las aos ouvintes:
“Este é o meu Filho muito amado, aquele que me
aprouve escolher” (v 17). Em ambas as tradições,
essas palavras associam a terminologia de Sl 2,
7, que repete a profecia de Natã em 2 Sm 7, 14
(tu és meu filho...) a Is 42, 1 (meu bem amado
que me aprouve escolher). A passagem de Isaías
apresenta o Servo que não levanta a voz (42, 2),
nem vacila, nem é quebrantado (42, 4). (A
tradução grega da Septuaginta usou uma palavra
que podia expressar tanto os termos hebraicos
para “filho” e para “servo”). Fazendo fusão
desses textos do Antigo Testamento, o texto une
em Jesus duas figuras proféticas - a do Filho da
descendência real davídica e do Servo de Javé.
Assim, prevê que o messianismo de Jesus implica
a vocação do Servo Sofredor, e rejeita
pretensões messiânicas triunfalistas. Podemos
dizer que o Batismo é para Jesus o assumir
público da sua missão como Servo de Javé. A voz
do céu confirma a sua opção de vida. O Pai
confirma que Ele reconhece Jesus, desde o início
do seu ministério público, como seu Filho (Sl 2,
7), seu bem-amado, objeto da sua predileção.
Um dos sentidos mais importantes do nosso
batismo também é o nosso compromisso público com
a vontade do Pai. Todos nós podemos sentir a
veracidade da mesma frase usada pelo Pai diante
de Jesus - cada um de nós também é
verdadeiramente filho(a) do Pai celeste (1Jo
3,1), a quem aprouve escolher-nos. Nada pode
fazer com que o Pai abandone esse amor
incondicional e gratuito - nem a nossa fraqueza,
nem o pecado (Rm 8, 39). Importante é reconhecer
que Deus nos amou primeiro, incondicionalmente,
e cabe a nós responder a este amor gratuito por
uma vida digna de filhos e filhas do Pai, no
seguimento de Jesus (cf. I Jo 4, 10-11). Jesus
não achou privilégio ser o amado do Pai, mas
assumiu as consequências - uma vida de
fidelidade, que o levava até a Cruz - e a
Ressurreição (Fl 2, 6-11).
Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o
compromisso do nosso batismo, comprometendo-nos
com o seguimento do Mestre, no esforço de
contribuir à criação do mundo que Deus quer, um
mundo onde reinam o amor, a justiça e a
verdadeira paz. O nosso batismo confirma que
somos parceiros de Deus no ato permanente de
criação, fazendo crescer o Reino dele, que “já
está no meio de nós” (Mc 1,14).
SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM (17.01.10)
Jo 2,1-12
“Façam tudo o que ele lhes disser”
A primeira parte do Quarto Evangelho é comumente
chamada “O Livro dos Sinais”, pois o evangelista
relata uma série de sete sinais que, passo por
passo, revelam quem é Jesus, e qual é a sua
missão. Embora algumas bíblias traduzem o termo
grego que João usa por “milagre”, a tradução
mais acertada é “Sinal”. O primeiro desses
sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná,
o evangelho de hoje. Como todo o Evangelho de
João, o relato está carregado de simbolismo,
onde pessoas, números e eventos funcionam
simbolicamente, para nos levar além da aparência
das coisas, numa caminhada de descoberta sobre a
pessoa de Jesus.
Um dos temas centrais do quarto evangelho é o da
“hora” de Jesus. A “hora” não se refere à
cronometria, mas a hora de glorificação de
Jesus, por sua morte e ressurreição. Em resposta
ao pedido feito por Maria (João nunca se refere
a ela pelo nome, mas pelo título “mulher”),
usando de uma maneira até estranha este termo
para a sua mãe, João quer indicar que Jesus
rejeita uma esfera meramente humana de ação para
Maria, para reservar para ela um papel muito
mais rico, ou seja, o da mãe dos seus
discípulos. Maria somente vai aparecer mais uma
vez neste evangelho - a pé da cruz, onde ela e o
Discípulo Amado assumem um relacionamento de
Filho e Mãe. Devemos lembrar que o Discípulo
Amado simboliza a comunidade dos discípulos do
Senhor, ou seja, nós hoje.
Apesar da nossa tradição piedosa mariana, é
importante não reduzir a ação da Maria no texto
à de uma incomparável intercessora. Embora seja
comum esta interpretação na devoção popular, não
se sustenta do ponto de vista exegético. É
melhor ver Maria aqui como discípula exemplar,
pois embora a resposta de Jesus indique um
distanciamento entre a sua expectativa e a visão
d’Ele, ela continua com confiança n’Ele e leva
outros a acreditar n’Ele.
O simbolismo da água tornada vinho é também
importante. Não era qualquer água - era a água
da purificação dos judeus. Com esta história,
João quer mostrar que doravante os ritos
judaicos de purificação estão superados, pois a
verdadeira purificação vem através de Jesus.
Podemos entender isso como a mudança de uma
prática religiosa baseada no medo do pecado, uma
prática que excluía muita gente, para uma nova
relação entre Deus e a humanidade, a partir de
Jesus. Assim, em Cana, Jesus começa a substituir
as práticas do judaísmo do Templo, que vai
continuar ao longo do Evangelho de João.
A quantia do vinho chama a atenção - 600 litros!
O vinho em abundância era símbolo dos tempos
messiânicos, e, na tradição rabínica, a chegada
do Messias seria marcada por uma colheita
abundante de uvas. Assim João quer dizer que a
expectativa messiânica se realiza em Jesus. As
talhas transbordantes simbolizam a graça
abundante que Jesus traz. A figura do
mestre-sala é também simbólica, bem como os
serventes. Aquele, que devia saber a origem do
vinho da festa, não sabia, enquanto estes sim.
Assim, o mestre-sala representa os chefes do
Templo que não sabiam a origem de Jesus enquanto
os servos representam os discípulos que
acreditaram n’Ele.
Fazendo comparação entre o vinho antigo e o
novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança
era boa, mas a Nova a superou. Os ritos e
práticas judaicos, ligados à purificação e ao
sacrifício, não têm mais sentido, pois uma nova
era de relacionamento entre a humanidade e Deus
começou em Jesus.
O ponto culminante do relato está em v. 11: “Foi
em Caná que Jesus começou os seus sinais, e os
seus discípulos acreditaram n’Ele”. A fé deles
não é intelectual ou teórica, mas o seguimento
concreto do Mestre, na formação de novos
relacionamentos de amor. Passo por passo, o
autor vai revelando Jesus através de sinais para
que nós, os leitores, possamos “acreditar que
Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que,
acreditando, tenhamos a vida em seu nome” (Jo
20, 31).
TERCEIRO DOMINGO COMUM (24.01.10)
“O Espírito do Senhor está sobre mim”
Lc 1, 1-4; 4,14-21
O texto relata a primeira experiência da Vida
Pública de Jesus. Deu-se na sua terra de criação
- Nazaré. Na linguagem de hoje, Jesus foi para a
capela da comunidade e foi convidado a fazer
parte da equipe litúrgica, para fazer a segunda
leitura. Naquela época, o culto da sinagoga
tinha duas leituras - a primeira tirada da Lei,
a segunda dos Profetas. Jesus, abrindo o livro
do Profeta Isaías, encontrou a passagem que diz:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele
me consagrou para anunciar a Boa Notícia aos
pobres; enviou-me para proclamar a libertação
aos presos e aos cegos a recuperação da vista;
para libertar os oprimidos, e para proclamar um
ano da graça do Senhor” (4, 18-19). Não que Ele
encontrasse esta passagem por acaso! Pelo
contrário - Jesus procurou até achar, pois Ele
identificava a sua missão com aquela descrita
pelo profeta. Por isso, na hora da homilia,
começou com a frase chocante: “Hoje se cumpriu
essa passagem da escritura, que vocês acabam de
ouvir” (4, 21). Jesus identificou a sua missão
com a do Capítulo 61 de Isaías. Nós, como
discípulos d’Ele temos a mesma missão. Olhemos
os elementos:
a) “Anunciar a Boa-Notícia aos pobres”: O
evangelho é “Boa-Notícia” - não uma série de
leis, nem uma lista de práticas rituais, nem uma
moral (embora tenha todos estes elementos), mas
uma experiência de Deus que traz alegria,
felicidade, - para os pobres! Portanto, Ele toma
posição - o que é boa notícia para uns, é
má-notícia para outros! O que é boa notícia para
o oprimido, é má notícia para o opressor! Não
existe uma Boa-Notícia neutra, igualmente boa
para todos! E não devemos diluir o a termo
“pobre” - aqui não é o pobre de espírito, nem de
coração, nem de fé... é o pobre mesmo, aquele/a
que não tem o necessário para uma vida digna!
(Lucas usa o termo grego “ptochois”, que
significa mais ou menos “indigente”). Com
certeza, na nossa sociedade inclui todos os
excluídos.
b) “Proclamar a libertação aos presos”: Não só
aos na cadeia, mas que estão sem a liberdade dos
filhos de Deus - presos hoje pelas consequências
do neo-liberalismo, do desemprego, do salário
mínimo; pelas correntes de racismo, machismo,
clericalismo, e tudo que oprime! Também aos
presos no seu próprio egoísmo, pois o assumir
dos valores evangélicos vai libertá-los. Porém,
esta libertação passa pela mudança radical na
sua maneira de viver.
c) “Aos cegos a recuperação da vista”: Quanta
gente cega hoje! E não por doença dos olhos, mas
cegada pela ideologia dominante que não deixa
ver a realidade do mundo e dos sofridos; pelas
falsas utopias alienantes e pela manipulação de
informação pelos meios de comunicação, dominados
pela elite, que “fazem a cabeça”; quantos cegos
diante da possibilidade de mudança através da
força histórica dos oprimidos! Vale a pena notar
que o texto enfatiza a “recuperação” da vista -
não a doação dela. Ou seja, trata-se de ajudar
os/as que uma vez viram a realidade com os olhos
de Deus, mas foram cegados pela ideologia
dominante ao ponto de não enxergarem mais a
verdade.
d) “libertar os oprimidos”: Aqui há o eixo
fundamental de toda a Bíblia - o Êxodo, como
processo permanente. No livro de Êxodo, Deus se
identificou como o Deus que liberta os oprimidos
(Êx 3, 76-10). Jesus se coloca - e coloca todos
os seus seguidores - neste mesmo compromisso.
Hoje a época é diferente, mas a opressão
continua, e Deus nos conclama para que todos nós
nos empenhemos nesta luta para concretizar a
libertação dos oprimidos.
e) “proclamar o ano de graça do Senhor”: O Ano
da Graça - o Ano Jubilar! Memória da proposta do
Lv 25, o ano do perdão das dívidas, da
libertação dos escravos, da devolução das terras
aos seus donos originais!
Como concretizar, na realidade do Brasil de
hoje, esta visão? Que significa hoje o perdão
das dívidas, a libertação dos escravos e a
devolução das terras? Questões evangélicas da
fé, que têm fortes consequências políticas e
econômicas (como veremos logo na Campanha de
Fraternidade) e desafiam a tendência à uma
religião intimista, individualista e
desencarnada da realidade. Pois júbilo, alegria,
não pode ser decretado - tem que brotar de algum
motivo profundo.
Aqui o próprio Jesus fala da sua missão, que é
também a nossa. Pois, fomos todos “consagrados
com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos
pobres, para proclamar a libertação aos presos e
aos cegos a recuperação da vista; para libertar
os oprimidos, e para proclamar o ano da graça do
Senhor” (4, 18-21).
QUARTO DOMINGO COMUM (31.01.10)
Lucas 4,21-30
“Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria
Não é fácil entender o desfecho da visita de
Jesus a Nazaré, logo após o seu batismo. É muito
violenta a mudança de atitude dos Nazarenos - da
admiração à fúria. Talvez Lucas tenha unido dois
acontecimentos numa só história. Mas, seja como
for, alguns pontos importantes saltam aos olhos.
Em primeiro lugar “todos aprovavam Jesus,
admirados com as palavras cheias de encanto que
saíam da sua boca” (v. 22). Com certeza, essa
reação não foi causada pela oratória de Jesus,
nem porque soubesse usar “artifícios para
seduzir os ouvintes” (1Cor 1, 4), como fazem
tantos pregadores e políticos hoje. Não, foram
palavras cheias de encanto porque brotaram da
sua intimidade com o Pai, da sua espiritualidade
profunda, da sua capacidade de compaixão, da
coerência entre a sua fala e a sua vivência.
Aqui há um desafio para todos nós - de deixar
que sejamos tomados pela Palavra de Deus, de tal
maneira que a nossa palavra não seja mais a
nossa, mas, a manifestação do Espírito que
habita em nós. Só assim as nossas palestras e
pregações surtirão efeito. Ao contrário, por tão
eloquente que possa ser a nossa fala, seremos
“sinos ruidosos, ou címbalos estridentes” (1 Cor
13, 2) - chamam a atenção, mas não deixam
frutos!
A reação dos vizinhos de Nazaré encontra eco,
muitas vezes, nas comunidades de hoje. É o pobre
que não acredita no pobre! Jesus é rejeitado por
ser considerado o filho de José, um simples
carpinteiro de Nazaré. Quantas vezes, hoje,
acontece que, em lugar de incentivar as nossas
lideranças das bases, os próprios companheiros
de comunidade os rejeitam por não serem
“doutores”, por não saberem “falar bonito” como
sabem muito bem os nossos exploradores! Parece
às vezes que há gente que sente prazer em
destruir as lideranças. Mas, as coisas vão mudar
só quando o pobre começar a acreditar no pobre!
Jesus nos dá o exemplo de como enfrentar estes
problemas. Ele “continuou o seu caminho” (Lc 4,
20). É isso mesmo - apesar das críticas, da
não-aceitação, das gozações, o cristão tem que
“continuar o seu caminho”. Jesus sofreu com
isso, mas não se abalou, pois a sua convicção
não se baseava na opinião, aprovação e aceitação
dos outros, mas na oração, na interiorização da
Palavra. Oxalá todos nós cresçamos neste
sentido, seguindo o exemplo do Mestre!!
Pe. Tomaz Hughes, SVD
E-mail:
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