INVICTUS
												
												Em Invictus, de Clint 
												Eastwood, o líder Nelson 
												Mandela, em seu primeiro mandato 
												como presidente da África do 
												Sul, após cumprir a pena de 27 
												anos na prisão, demonstra 
												habilidade política ao usar o 
												esporte para superar os 
												problemas de cisão do país 
												decorrentes do apartheid.
												
												O filme se baseia no livro
												Playing The Enemy: Nelson 
												Mandela And The Game That 
												Changed A Nation, de John 
												Carlin, com roteiro escrito por 
												Anthony Peckham, de muita 
												funcionalidade, porém, sem 
												detalhes rebuscados. A ênfase, 
												tanto do roteiro como da 
												direção, se assenta na questão – 
												sem muito significado, 
												infelizmente, em nosso meio – de 
												que é imprescindível que o líder 
												seja uma figura exemplar para 
												seus liderados a fim de merecer 
												deles a estima, o respeito e a 
												consideração.
												
												É em torno do esporte que se 
												inicia a conversa de Mandela 
												(Morgan Freeman) com François 
												Pienaar (Matt Damon), capitão do 
												Springbok, o time de rugby, que 
												passava por uma fase ruim, 
												desacreditado pela torcida, 
												constituída de brancos, às 
												vésperas da Copa Mundial (1995), 
												a ser sediada na África do Sul. 
												Mandela, ao servir ele próprio 
												ao jogador o chá da tarde, 
												lembra-lhe que esse costume, 
												assim como o rugby, foram duas 
												boas coisas que lhes deixaram os 
												ingleses.
												
												Mas cita também a inspiração que 
												lhe deu a leitura, na cadeia, do 
												poema Invictus, do 
												britânico William Ernest Henley, 
												para incentivar François a 
												buscar, da mesma forma, uma 
												maneira de motivar seus 
												companheiros a se empenharem 
												pela conquista da Copa, o que, 
												para muitos, àquela altura, 
												parecia impossível. A primeira 
												providência, nesse sentido, 
												recomendada a François, foi a de 
												levar o time, que tinha apenas 
												um integrante negro – Chester 
												Williams (McNiel Hendricks) –, a 
												divulgar a prática do rugby  em 
												meio às crianças das favelas.
												
												Assim, enquanto Mandela cuidava 
												de atrair investimentos externos 
												para promover o desenvolvimento 
												econômico do país, François ia 
												aos poucos quebrando a 
												resistência dos jogadores no 
												sentido de aceitar as 
												orientações que lhe chegavam do 
												presidente. Sob esse aspecto, o 
												filme poderia cair no lugar 
												comum de muitos outros sobre 
												esportes, se não estivesse 
												sublinhada a narrativa de uma 
												homenagem de Eastwood – como ele 
												o fizera em Os Imperdoáveis 
												em relação ao western – a 
												Nelson Mandela, que exerceu a 
												política como um sacerdócio, 
												conseguindo com isso obter a 
												unidade de seu povo. Há, por 
												sinal, uma cena, em que Mandela 
												afirma: - A África do Sul 
												precisa ganhar um sentido de 
												grandeza!... E , sem dúvida, 
												ganhou.
												
												Outro fator que difere 
												Invictus de filmes do gênero 
												são as interpretações de Morgan 
												Freeman e de Matt Damon, que dão 
												a seus personagens os perfis 
												exatos que lhes exige a linha de 
												direção de Eastwood. Freeman, 
												responsável também pela produção 
												executiva da película, outorga 
												dimensão histórica à 
												personalidade de Mandela. Ele é 
												um gentleman, fino e 
												cordial, no trato com os 
												servidores do palácio 
												governamental, herdados da 
												administração anterior, como 
												também manda a tradição inglesa, 
												mas firme e afirmativo, quando 
												tem de tomar uma decisão 
												importante para o país: - O 
												povo está errado. – ele diz
												– Precisa ser orientado a 
												respeito.
												
												Quanto a Matt Damon, o 
												estilo pelo qual ele demonstra a 
												imagem externa de François, 
												premido entre a força 
												oposicionista do pai e a 
												consideração que lhe tem o chefe 
												de Estado, é notável. A 
												combinação de suas maneiras com 
												o ambiente do palácio e, depois, 
												frente ao grande líder, mostra 
												como o ator tem sob perfeito 
												domínio a técnica de 
												representar. Mas não se pode 
												deixar de observar ainda a 
												manifestação de espanto, 
												estampada em seu rosto, quando 
												François, criado em berço de 
												ouro, se depara, pela primeira 
												vez, com os casebres miseráveis 
												em que vivem as crianças que, 
												alegres, esperançosas, saúdam a 
												chegada dos jogadores do 
												Springbok, até então um time de 
												brancos.
												
												Talvez a grande qualidade da 
												direção de Eastwood, nesse filme, 
												esteja centrada na observância 
												de uma fronteira, que ele 
												próprio cria, para não poder 
												invadir – até por uma questão de 
												equilíbrio estético – um mundo 
												que não é o seu. E para 
												conseguir isso, o cineasta de 
												Bird vai buscar na música, 
												em que também é suficientemente 
												versado, o instrumento adequado 
												para criar algumas cenas de 
												grande emoção.  Pois de fato, a 
												trilha sonora, de Kyle Eastwood 
												(filho do diretor) e Michael 
												Stevens, é rica em temas que se 
												identificam cabalmente com a 
												ambientação político-social da 
												história, como  a abertura 
												900 Days, com Yollande 
												Nortjie e Madibas´s Theme.
												
												REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
												ROTEIRO, Brasília, Revista
												www.theresacatharinacampos.com
												www.arteculturanews.com
												www.noticiasculturais.com
												www.politicaparapoliticos.com.br
												www.cafenapolitica.com.br
												
												FICHA TÉCNICA
												
												INVICTUS
												EUA/2009
												Duração – 133 minutos
												Direção – Clint Eastwood
												
												Roteiro – Anthony 
												Peckham,  baseado no livro 
												Playing The Enemy: Nelson 
												Mandela And The Game That 
												Changed A Nation, de John 
												Carlin
												Produção – Clint Eastwood, Lori 
												McCreary, Robert Lorenz e Mace 
												Neufeld
												Fotografia – Tom Stern
												Música Original: Kyle Eastwood e 
												Michael Stevens
												Edição – Joel Cox e Gary D. 
												Roach
												
												Elenco – Morgan 
												Freeman (Nelson Mandela), Matt 
												Damon (François Pienaar), Adjoa 
												Andoh (Brenda Mazikubo), Tony 
												Kgoroge (Jason Tshabalala), 
												Julian Lewis Jones (Etienne 
												Feyder), McNiel Hendricks (Chester 
												Williams), Scott Eastwood (Joel 
												Stransky).
												
												De: 
												Ana Falcão
												Data: 10 de fevereiro de 2010 
												22:01
												Assunto: INVICTUS - Reynaldo 
												Domingos Ferreira
												Para: Theresa Catharina de Goes 
												Campos
												
												Theresa Catharina,
												Muito bom o comentário do 
												Reynaldo com o qual penso que 
												você também concordará. Os 
												pontos positivos foram 
												ressaltados e detalhadamente 
												enriquecidos: a vida do 
												personagem principal, sua 
												incrível habilidade política 
												após tantos anos de reclusão, a 
												soberba direção e interpretação. 
												Acrescentaria o pulso do diretor 
												ao manter vivo o interesse do 
												espectador, mesmo sendo 
												conhecido o final. 
												Mais uma vez agradeço sua 
												gentileza.
												Abraços
												Ana