A FITA BRANCA
												
												Numa comunidade 
												rural protestante da Alemanha, 
												em tempos anteriores à  I Guerra 
												Mundial (1913 / 1914), uma 
												sucessão de fatos estranhos 
												começa a ocorrer, criando, entre 
												seus integrantes, um clima de 
												suspeita, de opressão e de medo. 
												É esse o tema exposto, com rigor 
												técnico, pelo cineasta austríaco 
												Michael Haneke, em A Fita 
												Branca, ganhador da Palma de 
												Ouro do último Festival de 
												Cannes.
												
												Uma das inegáveis 
												qualidades do filme é a 
												fotografia, em preto e branco, 
												de Christian Berger. Além da 
												plasticidade, ela propicia 
												atmosfera à narrativa de 
												perfeita identificação à dos 
												clássicos alemães e suecos da 
												época em que transcorre a ação, 
												de muito puritanismo. O roteiro 
												do próprio Haneke – que foi 
												assistente de Jean-Claude 
												Carrière – parece, entretanto, 
												dispersivo, particularmente na 
												fase de apresentação das 
												personagens, isto é, dos núcleos 
												familiares envolvidos na 
												questão.
												
												Tudo é narrado, 
												alguns anos depois, por um 
												professor (Christian Friedel), 
												que ali chegara, na ocasião, 
												para prestar serviços à 
												comunidade na única escola do 
												vilarejo. O médico do lugar (Rainer 
												Bock) sofrera atentado, em 
												consequência do qual se ferira 
												ao cair do cavalo, interditado 
												em sua marcha de regresso a casa 
												por um fio metálico esticado de 
												propósito, por não se sabe quem, 
												entre duas árvores.
												
												Quase 
												simultaneamente, morrera a 
												mulher de um agricultor que, 
												enquanto trabalhava, despencara 
												do alçapão de um paiol. E um 
												menino, sofredor da síndrome de 
												Down, filho do médico com a sua 
												amante, uma enfermeira (Susanne 
												Lothar), ficara cego depois de 
												ser atingido na cabeça por 
												misteriosos assaltantes. A par 
												disso, também, toda a plantação 
												de repolho do Barão (Ulrich 
												Tukur), o homem mais poderoso da 
												aldeia, fora destruída.
												
												Quando se inicia 
												a película, reina, portanto, no 
												povoado, um clima de tensão, por 
												si só gerador de violência, 
												principalmente contra menores, 
												os mais indefesos. É sobre esse 
												pressuposto que Haneke planta a 
												argumentação política do filme, 
												cujo subtítulo é: Uma 
												História Alemã Sobre Crianças. 
												A seu ver, as de então, 
												oprimidas pelo medo, 
												constituiriam a geração que, 
												anos mais tarde, aprovaria as 
												atrocidades perpetradas por 
												Hitler não só na Alemanha, mas 
												em toda a Europa.
												
												Assim, seguindo a 
												linhagem de uma peça de natureza 
												investigativa ou policial sobre 
												as raízes do mal, Haneke dá nome 
												a todas as personagens infantis 
												– Klara (Maria Victoria Dragus), 
												Martin (Leonard Proxouf) -, 
												enquanto trata os adultos, 
												verdugos, por sua denominação 
												profissional: o Barão, a 
												Baronesa (Ursina Lardi), o 
												Pastor (Burghart Klaussner), o 
												Diretor da Escola (Josef 
												Bierblichler), etc. Com o 
												regresso da Baronesa à 
												localidade, após longo período 
												de ausência, também entra em 
												cena a sua ama, Eva (Leonie 
												Benesch), uma garota ingênua, 
												moradora de outro vilarejo, por 
												quem se interessa o professor, 
												que passa a cortejá-la.
												
												Vale observar 
												ainda que são apenas essas duas 
												personagens – o professor e a 
												sua namorada – as que se tornam 
												por assim dizer mais acessíveis 
												à simpatia do espectador, que se 
												mantém um tanto distanciado (ou 
												sem envolvimento) em relação à 
												fria narrativa de Haneke que, 
												embora de natureza técnica, não 
												é enigmática, como a de 
												Cachê, seu trabalho 
												anterior. Pelo contrário, sua 
												linguagem, nesse trabalho, é 
												clara, objetiva, quase 
												documental e sublinhada, de 
												forma muito suave, pela música 
												de J.S. Bach (Eine fest Burg 
												ist unser Gott, da 
												Cantata BWV 801). E ainda se 
												tem, pelo comentário do narrador 
												- que adverte, entretanto, sobre 
												possíveis imprecisões de seu 
												relato - uma gama de informações 
												que certamente complementa o que 
												mostram as imagens.
												
												Haneke impõe 
												também a tonalidade das 
												interpretações, especialmente 
												para os atores infantis, que 
												apresentam atuações discretas, 
												contidas, mas homogêneas, e sem 
												qualquer deslize. É entre os 
												adultos que se notam 
												diferenciações, apesar de serem 
												as personagens menos 
												interessantes do que o drama, do 
												qual se tornam cúmplices. Sob 
												esse aspecto, destacam-se, sem 
												dúvida, as atuações de Rainer 
												Bock, como Doutor, de Susanne 
												Lothar, como Enfermeira, e de 
												Burghart Klaussner, como Pastor.
 
												
												REYNALDO DOMINGOS 
												FERREIRA
												
												ROTEIRO, 
												Brasília, Revista
												
												
												
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												FICHA TÉCNICA
												
												A FITA BRANCA
												
												DAS WEISSE 
												BAND
												
												Alemanha, 
												Áustria, França, Itália / 2009
												
												Duração – 144 
												minutos
												
												Direção – Michael 
												Hanecke
												
												Roteiro – Michael 
												Hanecke
												
												Produção – 
												Michael Katz
												
												Música – J.S. 
												Bach, Cantata BWV 801
												
												Fotografia – 
												Christian Berger
												
												Edição – Monica 
												Willi
												
												Elenco – Rainer 
												Bock (Doutor), Susanne Lothar 
												(Enfermeira), Burghart Klaussner 
												(Pastor), Christian Friedel 
												(Professor), Leonie Benesch 
												(Eva), Ulrich Tukur (Barão), 
												Ursina Lardi (Baronesa), Maria 
												Victoria Dragus (Kara), Leonard 
												Proxouf (Martin)