Theresa Catharina de Góes Campos

 
De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 12 de abril de 2010 06:42
Assunto: Poluição sonora ao fazer compras

 

FALTA SIMANCOL NOS SUPERMERCADOS

 

Tereza Halliday – Artesã de Textos


Para quem ainda desconhece que Simancol não é um produto de limpeza, esclareço ser invenção antiga de humoristas do quotidiano para designar um remédio que curaria certos comportamentos indesejáveis, demonstrados persistentemente, seja por ignorância, seja por teimosia. Daí dizer-se que alguém precisa “tomar chá de Simancol”, a fim de se mancar.  Ou que “Fulano não tem mancômetro” -  um hipotético medidor de razoabilidade para mostrar ao contumaz até onde deve ir e quando está bom de parar.

 

   Os supermercados demonstram carência de mancômetro ao manter, como tática de vendas, o assédio auditivo a seus clientes, anunciando incessantemente produtos dentro das lojas. O bla-bla-bla vem com impostação de voz de animador de auditório ou palhaço de circo, usando surrados bordões: “Vá logo! Não perca! Oferta sensacional! Apenas tantos reais”. Tática manjadíssima de sedução comercial, instrumento de tortura mental para extrair da vítima o ato de compra. Acrescente-se a onipresente emissora de rádio interna - garota propaganda travestida de canal de utilidade pública.  Afrontam a lei da poluição sonora.

 

Todos os caixas a quem perguntei como agüentavam aquilo o dia inteiro disseram que aprendem a “desligar” mentalmente, senão o estresse seria demais. Ponto positivo para eles, que nos tratam com cortesia e paciência, mesmo submetidos a tais condições de trabalho. Alguns fregueses também conseguem desligar-se das mensagens matraqueadas. Outros, saem o mais rápido possível, azucrinados. Já se foi o tempo em que dava gosto ir a supermercado – era fresquinho, com suave música de fundo. Diziam até que o repertório romântico, tocado baixinho, induzia a comprar mais. Hoje, somos vítimas de estupro auditivo – penetração dos ouvidos, à força, por anunciantes tagarelas. Por que não nos deixam fazer compras sossegados?

 

  O esgotamento físico e mental depois da ida ao supermercado pode ser atribuído à má circulação do ar e à poluição sonora. Nem toda ideia de marqueteiro bem-intencionado é boa. Um espaço de loja abarrotado de som, com assédio comercial de duvidosa eficácia é uma ideia genial? Diretores e gerentes dessas macro-lojas precisam tomar Simancol. Estão aí as novas disposições do Ministério Público em prol de ambientes despoluídos de sons tóxicos, como as mensagens publicitárias impostas em lojas e ruas.

    

 É árduo administrar supermercados e ter de mostrar serviço às instâncias superiores da empresa, na matriz. Mas não é somente o patrão que precisa ser satisfeito. O cliente também deve ser respeitado e cativado com um ambiente agradável de ficar. Quando ele/ela sente-se bem, sem calor, nem assédio de som, curtindo suave música de fundo, compra mais e fala bem da loja. Se os supermercados, inteligentemente, tomarem Simancol, novas diretrizes hão de melhorar os locais de compra, promover o bem-estar dos freqüentadores e até conseguir o tão almejado aumento de vendas.

         (Diário de Pernambuco, 12/04/2010 – p.A-11)

 

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.