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													CHICO XAVIER 
													      Dentro 
													do objetivo a que se propõe, 
													o de recuperar na 
													bilheteria, até mesmo no 
													exterior, mais do que os 7 
													milhões de reais investidos,
													Chico Xavier, de 
													Daniel Filho, que narra 
													episódios da vida do médium 
													espírita mineiro, talvez não 
													decepcione. Mas o filme não 
													agrada em nenhum momento, 
													dado o seu linguajar pobre e 
													televisivo ao expor fatos 
													sobejamente conhecidos da 
													opinião pública brasileira 
													através da imprensa sem 
													acrescentar absolutamente 
													nada de especial. 
													      O 
													bisonho roteiro de Marcos 
													Bernstein, baseado no livro
													As Vidas de Chico Xavier, 
													do jornalista Marcel Souto 
													Maior, é estruturado no 
													programa Pinga Fogo, 
													da TV Tupi, de São Paulo, ao 
													qual compareceu Xavier 
													(Nelson Xavier), já na 
													maturidade, para ser 
													entrevistado por vários 
													jornalistas. A narrativa 
													meio capenga – agravada por 
													efeitos especiais primários 
													- regride então às duras 
													fases da vida do médium, na 
													infância (Matheus Costa) e 
													na juventude (Ângelo 
													Antônio), transcorridas em 
													Pedro Leopoldo, sua cidade 
													natal, em meio a muita 
													ignorância e miséria. 
													
													      Francisco (ou Chico) 
													era uma criança devotada às 
													práticas religiosas, nas 
													quais, ao que se presume, 
													encontrava alento para a 
													falta que sentia da mãe 
													Maria (Letícia Sabatella), 
													já desencarnada, segundo a 
													terminologia espiritista, da 
													qual ele tinha visões num 
													determinado ponto da cidade. 
													Sentindo-se perturbado por 
													outras aparições, que não 
													conseguia identificar, o 
													menino procurava o padre 
													Scarzelo (Pedro Paulo 
													Rangel) para se confessar, 
													mas era por ele impedido de 
													cumprir o seu intento sob a 
													alegação de que ainda não 
													fizera a primeira comunhão. 
													      O 
													pai João Cândido (Luis Melo) 
													arranjara outra mulher, 
													Cidália (Giovanna Antonella 
													), um anjo de candura, mas 
													que também logo se 
													desencarnara (não se fala em 
													“morte” no filme), o que 
													transtornara ainda mais a 
													cabeça do garoto Chico que, 
													na escola, assombrara a 
													professora (Cynthia 
													Falabella) ao psicografar 
													uma mensagem do além. Isso o 
													levara a ser estimulado por 
													dois espertos espiritistas 
													da cidade a psicografar 
													mensagens de autores 
													famosos, é claro, mas sem 
													identidade de estilo, como 
													Augusto dos Anjos, Castro 
													Alves e Humberto de Campos. 
													Editadas, essas mensagens – 
													principalmente as atribuídas 
													a Humberto de Campos (um dos 
													escritores mais lidos da 
													época, hoje totalmente 
													esquecido) – levaram os 
													detentores dos direitos 
													autorais, como era natural, 
													a reivindicá-los na justiça. 
													      O 
													fato repercutira na imprensa 
													de tal forma que os 
													repórteres David Nasser 
													(Charles Fricks) e Jean 
													Manzon (Jean Pierre Noher), 
													da revista O Cruzeiro, 
													chegaram a Pedro Leopoldo 
													para entrevistar Chico, 
													dizendo-lhe serem ambos do
													The New York Times. 
													Publicada a matéria, Chico 
													vira sua reputação 
													achincalhada pelos dois 
													jornalistas, que levantavam 
													a suspeita de ser ele um 
													impostor. E, se não o era, 
													também não conseguiria se 
													livrar desse tipo de gente 
													durante toda a vida. Em 
													Uberaba, houve até ações na 
													justiça contra alguns dos 
													que o cercavam. Mas isso o 
													roteiro de Bernstein não 
													mostra. É só louvaminha. A 
													questão levantada por Nasser 
													e Manson, abordada na 
													entrevista da TV Tupi, - 
													emissora do grupo 
													Associados, assim como O 
													Cruzeiro - é censurada 
													por um dos produtores do 
													programa, Orlando (Tony 
													Ramos), que prepara 
													indagação, num átimo, para 
													ser formulada a Chico, sobre 
													animais domésticos, feita 
													por telefone, conforme 
													justifica, por uma pretensa 
													espectadora de Campinas... 
													      A 
													dúbia sexualidade de Chico 
													Xavier é tratada de forma 
													discreta por alguns 
													expedientes de 
													mise-en-scène - a 
													ridícula personificação, por 
													exemplo, do guia Emmanuel 
													(André Dias)  - e por um 
													folclórico episódio da ida 
													dele, levado pelo pai, ao 
													bordel para se iniciar nas 
													práticas usuais. Ao invés 
													disso, porém, segundo se 
													alega, ele teria posto as 
													prostitutas a rezar o Pai 
													Nosso, oração repetida por 
													várias vezes – não precisava 
													tantas - durante os 125 
													minutos da película. O 
													episódio ganha algum 
													destaque graças ao 
													comentário musical, Tango 
													de Bordel, de Eduardo 
													Souto, uma das peças que 
													integram a boa trilha sonora 
													de Egberto Gismonti. A 
													direção de Daniel Filho é, 
													como sempre, inexpressiva, a 
													fotografia, de Nonato 
													Estrela, tem qualidades, e 
													os três atores, que se 
													revezam no papel do 
													protagonista, apresentam  
													atuações bem razoáveis.
													 
													REYNALDO 
													DOMINGOS FERREIRA 
													ROTEIRO, Brasília, Revista 
													
													
													
													www.theresacatharinacampos.com 
													
													
													www.arteculturanews.com 
													
													
													www.noticiasculturais.com 
													
													
													www.politicaparapoliticos.com.br 
													
													
													www.cafenapolitica.com.br 
													 
													 
													FICHA TÉCNICA 
													 
													CHICO XAVIER 
													Brasil / 2010 
													Duração – 125 minutos 
													Direção – Daniel Filho 
													Roteiro – Marcos Bernstein 
													com base no livro As 
													Vidas de Chico Xavier, 
													de Marcel Souto Maior 
													Produção – Daniel Filho 
													Fotografia – Nonato Estrela 
													Musica Original – Egberto 
													Gismonti 
													Edição – Diana Vasconcelos 
													 
													Elenco – Nelson Xavier, 
													Ângelo Antônio e Matheus 
													Costa (Chico Xavier), Luis 
													Melo ( João Cândido), 
													Giovanna Antonelli (Cidália), 
													Pedro Paulo Rangel (padre 
													Scarzelo), Letícia Sabatella 
													(Maria), André Dias 
													(Emmanuel), Charles Fricks 
													(David Nasser), Jean Pierre 
													Noher (Jean Manzon), Cynthia 
													Falabella (professora).  
								
								(...) E até gosto de receber 
								críticas aos meus trabalhos. Ainda agora, sobre 
								o comentário do filme "Chico Xavier", recebi 
								vários emails de amigos, alguns elogiosos - 
								mesmo de pessoas que conviveram com o Chico em 
								Uberaba -, e outros nem tanto, tendo em vista 
								que seus autores se equivocaram ao tomar as 
								críticas à película como se fossem feitas à 
								pessoa do biografado, que, infelizmente, reúne 
								em torno de seu nome muito fanatismo religioso. 
								 
								REYNALDO DOMINGOS FERREIRA  | 
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