Theresa Catharina de Góes Campos

  De: Tereza Lúcia Halliday
Data: 11 de outubro de 2010 10:56
Assunto: Convidados dissimulam desgosto

 

COM A PALAVRA OS CONVIDADOS

Tereza Halliday – Artesã de Textos

Meu artigo “Mentira dos convites de casamento” (DP 27/09/2010, p.A-11), provocou enxurrada de e-mails de vítimas dos atrasos homéricos perpetrados pela noiva e cortejo. O grande volume de desabafos mereceu dar continuidade ao assunto. Com a palavra os convidados:

Todos confirmaram o cansaço massacrante e confessaram sentir irritação, raiva e indignação pela falta de pontualidade nos casamentos. Mas ninguém ousa reclamar para não desgostar os anfitriões. Fingem que está tudo bem, tiram por menos, respondem à rudeza da impontualidade excessiva com o silêncio da dissimulação.  Constrangidos a esperar como se estivessem em fila do SUS, não querem constranger com queixas os amigos ou parentes convidantes. E haja desconforto!

Um dos desabafos: “As noivas pintam e bordam”. Outro acrescentou que os maquiadores e cabelereiros também.  “Por que não começam os preparativos de beleza a partir do meio dia?” Um fotógrafo de grande gabarito se queixou dos transtornos que os atrasos causam a seu trabalho. Uma amiga teve de suportar o desmedido atraso em certa cerimônia chique. A noiva saíra de casa, mas não chegava ao recinto onde era esperada. Depois se soube que o pessoal do cerimonial – aquele time de experts que se espera seja também perito em sensibilidade e bom senso – mandou a noiva ficar rodando de carro pelas ruas até a igreja encher! E ela, contratante dos cerimonialistas, obedeceu como um carneirinho, maltratando com a excessiva espera os convidados presentes.

Pelo jeito, cerimônia de casamento em igreja está mais para circo que precisa de plateia lotada, do que para ato religioso e contrito, cujo significado independe do número de assistentes. Falaram-me de três padres que não toleram atraso de noiva. Um deles fez exceção e, quando a noiva apareceu, hora e meia depois, ele disse que só havia esperado em atenção aos convidados. Iniciou e concluiu a cerimônia em cinco minutos. Também me informaram que certo pastor, para encorajar o bom exemplo, elogia publicamente aqueles poucos noivos que chegam na hora.

 Compareço cada vez menos a esses eventos, pois não sou masoquista. Como também não o são, alguns convidados passam a chegar mais tarde para escapar do chá de cadeira institucionalizado. Em eventos culturais onde a hora é cumprida, raríssimos se atrasam. Ainda resta a esperança de que noivos, pais de noivos e cerimonialistas - que não têm a intenção de ofender nem fazer mal -  dêem-se conta de que a prática da impontualidade desbragada gera sofrimento nos convidados e é uma enorme desconsideração. Oxalá passem a honrar o horário explicitado nos convites de casamento. Seria uma política inteligente e um ato de gentileza do qual eles mesmos passariam a se orgulhar.  Quem sabe, o Chevrolet Hall e outras casas de espetáculos seguiriam o bom exemplo e também abandonariam o campeonato de atraso da hora de começar seus shows. (Diário de Pernambuco, 11/10/2010, p.A-11)

Tereza Lúcia Halliday, Ph.D.
Artesã de Textos
 

Jornalismo com ética e solidariedade.