Theresa Catharina de Góes Campos

  ONDINE

O premiado diretor Neil Jordan me encantou, de verdade, com o seu original, criativo filme "ONDINE" (Irlanda/EUA - 2009 - 111 min.), cuja trama surpreendente nos conduz , lirica e poeticamente, para o que seria uma história de pura fantasia, inspirada em narrativa folclórica.

Tudo simula um romance de magia, no entanto, os personagens são bem reais, inclusive vivendo, alguns deles, situações dramáticas em que os vícios dominam seus atos e relacionamentos. No contexto que seria fantástico, surgem temas atuais, entre os quais a violência e a ganância do crime, o ciúme, a inveja, sentimentos ameaçadores tão antigos quanto a humanidade, por isso registrados, refletidos também nas obras literárias de todos os tempos e povos.

O cotidiano do pescador Syracuse (interpretado por Colin Farrell) teria apenas as características habituais de seu ofício, mas a vida do protagonista começa a mudar quando ele encontra, em sua rede, uma jovem mulher (Alicja Bachleda), tão linda quanto misteriosa. No desenvolvimento do roteiro, lenda e realidade caminham juntas, paralelas, entrelaçadas. Tecidas com sensibilidade, plenas de enigmas. A vivência dos adultos e, de outra perspectiva, a capacidade infantil de interpretar os fatos com os olhos multidimensionais da imaginação, que tudo amplia, explica, torna possível.

Annie (Alison Barry), a filha de Syracuse, diz ao pai acreditar que Ondine é uma criatura mágica, conforme descrita nas leituras de ficção cujos mitos ela conhece em detalhes. O pescador não discute essa teoria da menina, como se, tacitamente, ele aceitasse tal explicação. Talvez porque Syracuse já não compreenda, em profundidade, o que se passa no seu coração e, por conseguinte, não saiba, de fato, nem mesmo queira entender os acontecimentos, ou se manifestar a respeito do que se lhe afigura difícil de enxergar e definir. Com certeza lhe faltam argumentos confiáveis para esclarecer suas dúvidas. De qualquer modo, aquela presença feminina, tão atraente, lhe causa uma intensa perturbação interior a lhe toldar a visão. Sobretudo porque, no fundo, como homem solitário, em certos aspectos ainda manipulado pela malícia da ex-mulher, agressiva e controladora, ele precisa enfrentar, no dia a dia, não apenas o trabalho nas águas que lhe dão sustento... A luta maior, contra o alcoolismo, ele recomeça a todo instante, sem trégua. E as tentações, bastante próximas, não lhe são afastadas da existência...

Do único amigo, o sacerdote católico (Stephen Rea) cuja solidariedade procura nos instantes de desespero, Syracuse recebe, embora de forma sabiamente parcimoniosa (quase simplista, de tão direta), a compreensão amadurecida de que ele tanto necessita. Afinal, o pastor tem aquela experiência de vida adquirida na rotina de tomar conhecimento das tragédias e angústias dos paroquianos, fiéis ou não. Depois de escutar muitas confidências do pescador, a orientação do sacerdote coloca nos ombros de Syracuse a responsabilidade para que venha a descobrir em si mesmo, com as suas próprias forças íntimas, o caminho para renovar a sua existência :

"Ser infeliz é fácil. Ser feliz requer esforço."

Eis os destaques de " Ondine ": direção e roteiro (Neil Jordan); interpretação (do protagonista Colin Farrell e do sempre competente Stephen Rea); temas e personagens; a fotografia de Christopher Doyle ressalta, nos locais escolhidos para as filmagens externas, a beleza do litoral da Irlanda.

No elenco, também estão, entre outros, Tony Curran e Norma Sheahan.

A trilha sonora de Kjartan Sveinsson merece um elogio especial: proporciona um clima de romantismo que nos enleva, suave e delicadamente. Nas poucas cenas de suspense, mostra-se vibrante.

Para superar a baixa autoestima, nesse clima de escuridão interior, o pescador Syracuse deverá construir, a partir de uma decisão renovadora, a coragem para uma história de esperança e amor, fundamentada na revelação da verdadeira identidade de Ondine.


Theresa Catharina de Góes Campos
São Paulo-SP, 13 de novembro de 2010.

De: Theresa Catharina de Goes Campos
Data: 17 de novembro de 2010 21:06
Assunto: ref. ONDINE,agradeço a generosidade de seu incentivo, elogiando meu pequeno texto-muito obrigada.
Para: Ricardo Pedreira Desio


Estimado escritor e artista plástico Ricardo Desio:

Agradeço a generosidade de seu incentivo, elogiando meu texto sobre o filme ONDINE - muito obrigada! Desculpe-me a demora em lhe demonstrar a minha gratidão por suas bondosas palavras.

(...) Realmente, amei o filme. Por diversas, inúmeras razões, relacionadas à forma e ao conteúdo. (...) Abraços cordiais da amiga,

Theresa Catharina


De: REYNALDO FERREIRA
Data: 15 de novembro de 2010 07:05


Magnífico comentário, prezada Theresa Catharina, sobre o novo filme Ondine, de Neil Jordan. Eu já vi o trailer da película e, agora, após ler o seu texto, aguardo com mais ansiedade a exibição aqui em Brasília para apreciá-la. Jordan é sempre um grande diretor.
Forte abraço, REynaldo


De: Ricardo Pedreira Desio
Data: 16 de novembro de 2010 21:39
Assunto: RE: ONDINE - Theresa Catharina de Góes Campos
Para: theresa.files


Theresa,
ONDINE é ótimo. O seu texto também.
Ricardo


De: marly santos
Data: 16 de novembro de 2010 22:55
Assunto: RE: ONDINE - Theresa Catharina de Góes Campos
Para: theresa.files


Estimada Theresa Catharina:
Fiquei algum tempo sem o computador. Hoje, li sua matéria, e achei um encanto! Peço a Deus que sempre te abençoe, nesse dom maravilhoso de escrever com tanta facilidade!
Quando for possivel para você, eu gostaria de ter novamente o prazer de vê-la!

Meus votos de felicidades e saúde.
Marly

 

Jornalismo com ética e solidariedade.